Saúde e Prevenção
18.05.2006
O sono nosso de cada dia
Por Mariana Granja

 
Dormir bem não é tão simples como parece. As doenças do sono são muitas, e se não tratadas podem produzir uma queda na qualidade de vida do indivíduo e se tornar uma porta de entrada para doenças mais graves, como diabetes e problemas no coração. A mais popular, insônia pode ser causada por aproximadamente 20 transtornos, que incluem a insônia aguda ou situacional, que é causada por algum estresse agudo, a insônia idiopática, a secundária, além de depressão e ansiedade. Transtornos relacionados à perturbação do ciclo circadiano, ou seja, que modifiquem a capacidade de dormir à noite e manter-se acordado durante o dia, seja por perturbação própria ou provocada pelo trabalho, também se incluem nas causas da doença.

— Junto com a insônia, somam-se as doenças causadoras de sonolência diurna com origem no sistema nervoso central. Um exemplo clássico, porém raro, é a Narcolepsia, ou seja, sonolência diurna excessiva. Ainda existem as doenças respiratórias sono-relacionado, na qual se inclui a Apnéia Obstrutiva do Sono, recorrente tanto em adultos como em crianças, e os transtornos causadores de movimentos indesejados durante o sono — explica o professor Michele Dominici, médico do Instituto de Neurologia Deolindo Couto, acrescentando.

Segundo ele os causadores de movimentos indesejados se dividem em transtornos do movimento sono-relacionado, como a Síndrome das Pernas Inquietas e Distúrbio de Movimento Rítmico do sono, quando a criança ao adormecer fica batendo a cabeça, por exemplo, e as parassonias como o sonambulismo, o terror noturno ou o distúrbio comportamental do sono REM. O grupo mais comum é, sem dúvida, o das insônias, embora considerando uma única doença isoladamente, a Síndrome de Apnéia Obstrutiva do Sono seja mais freqüente.

As causas dos distúrbios de sono são variadas, e incluem doenças psiquiátricas como depressão e ansiedade, muita ingestão de café, ficar mais tempo na cama que o necessário, só como sintomas de Insônia Crônica. A síndrome das pernas inquietas, de causas neurológicas, ocorre devido a um desconforto nas pernas ao deitar, fazendo-se necessário movê-las, esfregá-las, entre outros movimentos para que a sensação melhore. “Já o ronco acontece devido à presença de um estreitamento da passagem do ar pela via aérea superior (VAS) ou pelo nariz, boca e garganta. Isto se deve a diversas alterações morfológicas estruturais inatas (queixo pequeno ou para trás) ou adquiridas (ganho de peso, aumentando assim o colarinho que nada mais é que um depósito de gordura ao redor da faringe), associadas a mudanças funcionais cerebrais que ocorrem durante o sono. No estado cerebral funcional da vigília, quando estamos despertos, mesmo quando há alterações anatômicas que não favorecem a passagem de ar, utilizamos músculos dilatadores da faringe com maior potência e em maior quantidade, que compensam esta perda anatômica. Durante o sono, porém, isto se perde, ocorrendo assim um estreitamento das vias aéreas superiores e o ar que passa por ali turbilhona e faz vibrar as partes moles como a úvula (campainha) e o véu palatino, causando o ruído ronco”, esclarece o neurologista.

A Apnéia é um estágio mais avançado do ronco, pois para compensar o estreitamento da passagem de ar, ocorre um aumento do esforço respiratório que fadiga a musculatura. Com isso, pequenos esforços podem obstruir a via aérea superior, causando a Apnéia Obstrutiva. “A sorte é que nosso cérebro nos protege e após um aumento sem sucesso da abertura da garganta frente a um aumento progressivo do esforço respiratório, nosso cérebro nos desperta brevemente, de 3 a 15 segundos, apenas para ‘recrutar’ aqueles músculos desligados durante o sono. Nesse momento, com a abertura abrupta da VAS, ocorre uma grande vibração das partes moles desta região gerando um grande ronco”, explica o professor Michele.

— Os sintomas de quem sofre de insônia crônica são dificuldades para iniciar ou manter o sono, fadiga diurna, deficit de atenção e concentração, aumento da irritabilidade, que podem evoluir para sintomas depressivos — alerta o doutor. Já a apnéia provoca roncos durante a noite, noctúria (aumento da continência urinária), sono agitado, boca seca, e durante o dia dor de cabeça, sensação de sono não restaurador e sonolência diurna. Assim como na insônia crônica pode levar também ao comprometimento da memória e à depressão.

O tratamento é diferenciado em cada uma delas. Correção de maus hábitos diurnos e noturnos que dificultem o sono, assim como a instauração de condutas terapêuticas comportamentais, como terapia restritiva, controle de estímulo e fototerapia podem ser utilizadas no caso de insônia. “A prevenção pode ser feita através de uma boa higiene do sono, que inclui regras educacionais, como manter horários regulares ao deitar e despertar, rituais relaxantes à noite, não se alimentar em demasia, mas também não deixar de comer, tomar um banho morno à noite, não utilizar o quarto para trabalhar, alimentar-se e ler, por exemplo”, ensina o médico.

A apnéia pode ser tratada com algum procedimento cirúrgico ou utilização de aparelhos dentários para ronco e apnéia ou um aparelho denominado CPAP, máscara nasal, que ajuda a manter as VAS abertas através de sua pressurização com ar ambiente. Perda de peso, não ingerir bebidas alcoólicas e sedativos à noite também ajudam no tratamento. Segundo o doutor Michele, a prevenção para apnéia e ronco começa na infância ao tratar rinites crônicas, controlar o peso, evitar sedativos.

— A qualidade de vida de quem sofre desses males é prejudicada, pois a insônia crônica aumenta a chance de desenvolver doenças cardíacas, diabetes e apnéia do sono, entre outras. Acidentes, quedas de rendimento, aumento de absenteísmo no trabalho e comprometimento imunológico também são conseqüências – explica. A apnéia do sono, segundo o doutor, aumenta em três vezes a chance de desenvolver hipertensão arterial sistêmica, em 2,4 vezes de desenvolver insuficiência cardíaca congestiva e em sete vezes os acidentes automobilísticos. Também há mais risco da pessoa sofrer um ou infarto do miocárdio, ter diabetes ou dislipidemia. “Essa doença acomete mais pessoas do sexo masculino e a insônia do sexo feminino”, afima doutor Michele.



Notícias anteriores:

• 11/05/2006 - Vírus modificado traz perigo a crianças
• 04/05/2006 - Só no final de semana
• 27/04/2006 - Constipação e fibras