Ciência e Vida
18.05.2006

A mordida do lobo
Por Taísa Gamboa

A doença, que já foi confundida com a mordida do lobo, mata desde a Idade Média. Estudos recentes tentam descobrir medicamentos mais eficientes e mapear os agentes causadores.

Na Idade Média, era comum o ataque de lobos aos seres humanos. A parte do corpo mais atingida era a face, e esta lesão era chamada de LUPUS. Nesta época, toda e qualquer ferida no rosto das pessoas recebia este nome. Mas foi só no século XIX que os cientistas conseguiram determinar o Lupus Eritematoso, um tipo de doença que provoca feridas específicas na pele.

De acordo com Ângelo Pappi, professor titular da clínica médica do setor de doenças auto-imunes da Faculdade de Medicina, o Lupus é uma doença de natureza reumática, pois afeta o sistema locomotor e tem características de auto-imunidade, já que os seus sintomas são de origem inflamatória. A doença é afetada por fatores hereditários, mas pode ser muito influenciada por questões ambientais e outros fatores, como hormônios.

- Na África, a ocorrência de Lupus é muito baixa, mas se formos analisar os negros que foram levados para os EUA, a incidência é muito maior. Outro detalhe é que as mulheres são muito mais propensas a desenvolver a doença. Isto pode ser justificado pela presença marcante do estrogênio, hormônio que acelera a resposta imune – afirmou o professor.

Esta doença pode ser encontrada em duas formas: o Lupus discóde e o sistêmico. O primeiro diz respeito apenas a sua versão cutânea, quando surgem erupções em forma de asa de borboleta na pele da pessoa. Um detalhe importante destacado pelo professor que também atua no Hospital Universitário (HUCFF) é que o Lupus é fotosensível e as lesões aumentam conforme a maior exposição ao sol.

- É fundamental lembrar que muitas pessoas confundem o Lupus cutâneo com uma alergia qualquer, e o tratam da forma indevida, quando o fazem. Isso atrasa o tratamento e pode agravar a situação. Em alguns casos, a doença pode progredir para a sua forma sistêmica, quando atinge não só a pele, mas as vísceras. O processo inflamatório atinge coração, pulmão e outros órgãos. Os efeitos são muitos, tais como a redução do número de plaquetas no sangue – afirmou o professor Pappi.

Antes de iniciar o tratamento adequado é precisso analisar os critérios clínicos apresentados pelo paciente, que também deve realizar uma série de exames para determinar qual é o tipo de Lupus e quais órgãos e funções vitais foram atacados pela doença. Os principais testes empregados neste processo são os que medem fatores anti-nulceares, anti-corpos e anti-DNA.

O tratamento sem sí pode ser dividido em duas partes. Antes e depois de 1948, quando foi descoberta a Cortizona. Até esta data, os doentes sobreviviam por no máximo quatro anos. “Com a utilização do medicamento, a sobrevida chega a alcançar os dez anos tranquilamente. Basta seguir o tratamento e as indicações do médico”, comentou o professor. Os medicamentos aplicados, hoje em dia, funcionam como anti-inflamatórios, anti-maláricos, imunosupressores e anti-inflamatórios.

Como o Lupus interfere na imagem da pessoa e pode inclusive matar, o tratamento psicológico é fundamental para ajudar os pacientes a enfrentar a doença. Segundo o médico do HU, a UFRJ oferece, além dos melhores profissionais na área, uma equipe de psicólogos especializados. Algumas ONGS e grupos de ajuda também são fundamentais nesse processo.

- Além disso, a Universidade desenvolve vários projetos de pesquisa referentes ao Lupus. Um deles é o que analisa a atuação do medicamento Talidomida no tratamento da doença – lembrou Ângelo Pappi. Este fármaco é atualmente utilizado no controle da Hanseníase e foi sedido pelo Governo Estadual do Rio de Janeiro para as pesquisas. Um outro ramo de estudo que tem se desenvolvido muito nos últimos anos é o da medicina preventiva. As análises tentam determinar quais são os anti-corpo que provocam o Lupus. Essas informações afetam não só o tratamento, como será possível saber se a pessoa desenvolverá ou não a doença.

 

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