O mal que pode atacar a todos
Por Taisa Gamboa
No princípio,
a perda de memória para fatos recente, a desatenção
para coisas corriqueiras, a desorientação no tempo e no
espaço, e a perda da habilidade nas tarefas diárias instrumentais
ou básicas são os principais problemas enfrentados por quem
sofre da Doença de Alzheimer (DA). Assim como insônia, delírios,
apatia, depressão e agressividade, que também podem aparecer
ao longo da doença.
Responsável por cerca de 60% do total de demências,
o Alzheimer está associado a vários fatores, tais como:
perda da capacidade de falar ou de compreender o que é dito;
e de executar movimentos organizados simples ou complexos; dificuldade
em reconhecer familiares ou pessoas famosas; além de problemas
na sequenciação, organização e execução
de idéias e atos. No caso da DA, todos esses fatores não
apresentam qualquer relação direta com lesão periférica
nos órgãos relacionados as atividades descritas.
Com esse quadro clínico, o paciente apresenta
um tipo de demência neurodegenerativa, progressiva e ainda sem
cura determinada. Além disso, pode ser caracterizada como um
conjunto de sinais e sintomas que têm como principal ponto a perda
progressiva de memória.
O Coordenador do Centro de Doença de Alzheimer do Instituto de
Psiquiatria da UFRJ (CDA/IPUB/UFRJ), Jerson Laks, afirma que a partir
das alterações sofridas pelos pacientes, fica fácil
entender o estresse crescente e constante das pessoas que convivem com
o doente. A doença é lenta, de início insidioso
e promove uma constante e progressiva dependência dos idosos,
o que faz com que familiares e “cuidadores” também
necessitem de cuidados e atenção por parte de médicos
e equipe de atendimento.
Diagnosticada por Alois Alzheimer em 1906, a doença é
crônica, e de curso prolongado, durando em média de 15
a 20 anos. Suas causas não são claramente definidas. Alguns
fatores genéticos estão envolvidos (os cromossomas 1,19
e 21) e fatores de risco tais como idade, gênero feminino, e história
prévia de traumatismo crânio-encefálico também
parecem ter importância. Conhecida como Mal de Alzheimer, a doença
tem uma distribuição normal em todas as faixas sócio-econômicas,
entretanto, a educação se constitui um fator protetor
para a manifestação clínica, comenta Jerson Laks.
Seu diagnóstico é feito a partir da coleta detalhada da
história das dificuldades crescentes do paciente nessas áreas,
com exames complementares que afastem tumores no cérebro ou outras
doenças clínicas que também possam favorecer síndromes
demenciais. Outro procedimento utilizado é a avaliação
neuropsicológica, que analisa a intensidade e a qualidade do
processo de demência.
Laks, que também é coordenador do Departamento de Psiquiatria
Geriátrica da Associação Brasileira de Psiquiatria,
explica que a Doença de Alzheimer decorre de um depósito
anormal de proteína beta amilóide, um produto patológico
altamente tóxico para o sistema nervoso central, associado ao
enredamento neurofibrilar, decorrente da hiperfosforilação
da TAU (uma proteína responsável pelos microtúbulos,
ou seja, pelo citoesqueleto do neurônio).
De acordo com o coordenador do CDA, o cérebro vai sofrendo uma
atrofia progressiva, especialmente das camadas corticais. Este processo
se inicia nos hipocampos, áreas responsáveis pela memória
e aprendizado, e se alastra para o restante do córtex, dando
toda a sintomatologia descrita acima e alterações também
da capacidade de independência nas atividades de vida diária.
Além disso, vários transtornos psiquiátricos (do
comportamento e psicológicos) aparecem ao longo do curso da doença.
Muitos trabalhos têm sido desenvolvidos para se compreender os
mecanismos pelo qual a proteína beta amilóide se forma
e se agrega, assim como o que acontece para a hiperfosforilação
da TAU. “Outros estudos têm sido feitos para analisar as
interações sociais e familiares nessa doença e
como lidar com o assunto. A UFRJ tem vários pólos de excelência
para a pesquisa da DA; no Centro de Ciências da Saúde (CCS)
podemos citar a Biofísica, a Química e o IPUB, onde vários
projetos estão em andamento”, afirmou Jerson Laks.
O tratamento do Mal de Alzheimer deve ser feito com a utilização
de medicamentos inibidores de colinesterase ou com memantina, e com
a reabilitação cognitiva e de estimulação
das atividades de vida diária. Segundo o coordenador do CDA,
o objetivo é o de retardar o processo de declínio cognitivo
e promover a qualidade de vida do paciente e seus acompanhantes.
|