Ciência e Vida
27.04.2006

O mal que pode atacar a todos
Por Taisa Gamboa

No princípio, a perda de memória para fatos recente, a desatenção para coisas corriqueiras, a desorientação no tempo e no espaço, e a perda da habilidade nas tarefas diárias instrumentais ou básicas são os principais problemas enfrentados por quem sofre da Doença de Alzheimer (DA). Assim como insônia, delírios, apatia, depressão e agressividade, que também podem aparecer ao longo da doença.

Responsável por cerca de 60% do total de demências, o Alzheimer está associado a vários fatores, tais como: perda da capacidade de falar ou de compreender o que é dito; e de executar movimentos organizados simples ou complexos; dificuldade em reconhecer familiares ou pessoas famosas; além de problemas na sequenciação, organização e execução de idéias e atos. No caso da DA, todos esses fatores não apresentam qualquer relação direta com lesão periférica nos órgãos relacionados as atividades descritas.

Com esse quadro clínico, o paciente apresenta um tipo de demência neurodegenerativa, progressiva e ainda sem cura determinada. Além disso, pode ser caracterizada como um conjunto de sinais e sintomas que têm como principal ponto a perda progressiva de memória.

O Coordenador do Centro de Doença de Alzheimer do Instituto de Psiquiatria da UFRJ (CDA/IPUB/UFRJ), Jerson Laks, afirma que a partir das alterações sofridas pelos pacientes, fica fácil entender o estresse crescente e constante das pessoas que convivem com o doente. A doença é lenta, de início insidioso e promove uma constante e progressiva dependência dos idosos, o que faz com que familiares e “cuidadores” também necessitem de cuidados e atenção por parte de médicos e equipe de atendimento.

Diagnosticada por Alois Alzheimer em 1906, a doença é crônica, e de curso prolongado, durando em média de 15 a 20 anos. Suas causas não são claramente definidas. Alguns fatores genéticos estão envolvidos (os cromossomas 1,19 e 21) e fatores de risco tais como idade, gênero feminino, e história prévia de traumatismo crânio-encefálico também parecem ter importância. Conhecida como Mal de Alzheimer, a doença tem uma distribuição normal em todas as faixas sócio-econômicas, entretanto, a educação se constitui um fator protetor para a manifestação clínica, comenta Jerson Laks.

Seu diagnóstico é feito a partir da coleta detalhada da história das dificuldades crescentes do paciente nessas áreas, com exames complementares que afastem tumores no cérebro ou outras doenças clínicas que também possam favorecer síndromes demenciais. Outro procedimento utilizado é a avaliação neuropsicológica, que analisa a intensidade e a qualidade do processo de demência.

Laks, que também é coordenador do Departamento de Psiquiatria Geriátrica da Associação Brasileira de Psiquiatria, explica que a Doença de Alzheimer decorre de um depósito anormal de proteína beta amilóide, um produto patológico altamente tóxico para o sistema nervoso central, associado ao enredamento neurofibrilar, decorrente da hiperfosforilação da TAU (uma proteína responsável pelos microtúbulos, ou seja, pelo citoesqueleto do neurônio).

De acordo com o coordenador do CDA, o cérebro vai sofrendo uma atrofia progressiva, especialmente das camadas corticais. Este processo se inicia nos hipocampos, áreas responsáveis pela memória e aprendizado, e se alastra para o restante do córtex, dando toda a sintomatologia descrita acima e alterações também da capacidade de independência nas atividades de vida diária. Além disso, vários transtornos psiquiátricos (do comportamento e psicológicos) aparecem ao longo do curso da doença.

Muitos trabalhos têm sido desenvolvidos para se compreender os mecanismos pelo qual a proteína beta amilóide se forma e se agrega, assim como o que acontece para a hiperfosforilação da TAU. “Outros estudos têm sido feitos para analisar as interações sociais e familiares nessa doença e como lidar com o assunto. A UFRJ tem vários pólos de excelência para a pesquisa da DA; no Centro de Ciências da Saúde (CCS) podemos citar a Biofísica, a Química e o IPUB, onde vários projetos estão em andamento”, afirmou Jerson Laks.

O tratamento do Mal de Alzheimer deve ser feito com a utilização de medicamentos inibidores de colinesterase ou com memantina, e com a reabilitação cognitiva e de estimulação das atividades de vida diária. Segundo o coordenador do CDA, o objetivo é o de retardar o processo de declínio cognitivo e promover a qualidade de vida do paciente e seus acompanhantes.

 

Notícias anteriores:

• 20/04/2006 - Comigo ninguém pode
• 13/04/2006 - Santo bacalhau
• 06/04/2006 - Paladar é apurado na primeira infância