Ciência e Vida
04.05.2006

Microbiologia avança nas pesquisas em biodiversidade
Por Mariana Elia

Durante muito tempo, a microbiologia foi ignorada pelo meio científico. Aquilo que não se vê, não tem importância, imaginava-se. Ao longo da segunda metade do século passado, no entanto, percebeu-se como os microorganismos atuam no meio ambiente. As técnicas de biologia molecular desenvolvidas nas décadas de 70 e 80 permitiram enfim o estudo de mais de 90% de microorganismos, antes pouco conhecidos.

As notícias são diversas. O país já sabe sobre as devastações no meio ambiente, as conseqüências do aquecimento global, o desgaste de solos. São muitos os problemas causados na natureza pela ação do homem. Os Governos de um modo geral já vêm tomando algumas atitudes frente a isso, como a Eco 92 no Rio de Janeiro, o protocolo de Kyoto, Convenção de Diversidade Biológica, entre outros acordos e eventos. A conclusão a que se chega é a necessidade do conhecimento da biodiversidade em seus diversos âmbitos. “Garantir a sustentabilidade ambiental, conservando-a é o nosso norte. Isso é muito claro, não só para mim, mas para comunidade científica como um todo”, garante o professor Alexandre Soares Rosado, do Instituto de Microbiologia Professor Paulo Góes, que acredita também “estarmos em uma ‘época de ouro’ no estudo da diversidade e preservação dos ecossistemas”.

O professor Alexandre trabalha, junto com 13 alunos e duas pós-doutoras, em diversas pesquisas objetivando uma melhor atuação do homem com a natureza. A equipe estuda microorganismos,como as bactérias, seus amenizantes e suas funções como indicadores de impactos ambientais. Em uma de suas pesquisas, em parceria com a Embrapa, que enviou ao laboratório na UFRJ amostras do solo de Goiás e Brasília, os dois tipos de agricultura mais comuns são avaliados em relação à agressão ao Cerrado brasileiro.

Amostras de solos onde se pratica a agricultura tradicional e de solos de plantio direto são recolhidas e, em seguida, separados os DNA´s de todos os organismos. Pela técnica do PCR, as seqüências protéicas das bactérias são separadas das outras, já que possuem uma espécie de seqüência-base, e o DGGE (eletroforese em gel com gradientes de agentes desnaturantes) classificam cada tipo de bactéria.

Através do conhecimento dessas espécies, como cada uma se comporta e como reagem a determinadas condições, e pela comparação com os mesmos resultados com solos de matas mais primitivas, a equipe conseguiu discriminar quais bactérias são mais prejudiciais ao Cerrado e qual tipo de plantação é menos agressivo. “Comparamos os resultados e vimos que a agricultura tradicional é mais agressiva que o plantio direto. Este deixa o solo com características semelhantes ao da mata, que tomamos como o mais benéfico para o ambiente”, e acrescenta “o diferencial do plantio direto é o acúmulo de resíduos vegetais no solo, que formam uma cobertura natural, reduzindo a erosão e o crescimento de pragas”.

Outra pesquisa

Em outra pesquisa, o professor Alexandre investiga o comportamento de bactérias em relação ao petróleo. O projeto, financiado pela Petrobrás, pretende classificar as bactérias que degeneram o óleo para conseguir o carbono necessário para sua oxigenação em manguezais. Dessa maneira, os microorganismos atuariam como biorremediadores no ecossistema local. “Duas técnicas podem ser utilizadas depois da classificação. O bioaumento, que seria a injeção de milhares dessas bactérias nos residuais de petróleo, ou a bioestimulação. Esta consiste na atribuição de nitrogênio e fósforo no ambiente para que retorne o equilíbrio com a taxa de carbono”, explica o professor.

Alexandre frisa a importância do seu objeto de estudo. “Os microorganismos são a base de toda atividade na natureza. Todos os grandes ciclos são iniciados por eles. O desequilíbrio de algumas dessas espécies acarreta uma série de modificações que podem ser decisivas para o ecossistema”. Ele cita como exemplo as bactérias endofídicas, as quais residem no interior de um corpo, que podem ser extintas juntamente com a espécie que as acolhem. “São perdidas, então, possibilidades de enriquecimento da indústria farmacêutica”, exemplifica.

— Por sermos o país da megadiversidade, somos também a região menos conhecida no mundo — diz o professor, e comenta que a razão não é só a quantidade de ecossistemas, mas também o fato de ser uma área de estudos recente e com número reduzido de pesquisadores. O que garante, por outro lado, uma boa interação entre os grupos interessados. Por conta disso também, o professor fala da “importância em popularizar esse assunto. Alertar para o desgaste do meio ambiente e investir em formação acadêmica são fundamentais”, conclui Alexandre.

 

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