Ciência e Vida
11.05.2006

Vida nova depois dos 40
Crescei e multiplicai-vos, certo? Nem tanto.

Por Taísa Gamboa

O sonho de ser mãe cada vez mais tem ficado para depois. Questões profissionais, financeiras, médicas e até culturais têm influenciado milhares de mulheres a atrasarem o ciclo natural da vida.

Explica-se o crescimento das gestações tardias através da sociologia e da ciência. De um lado, o feminismo e as mulheres independentes e dispostas a adiar a maternidade em função de planos pessoais e profissionais. De outro, descobertas científicas que, aos poucos, vão se popularizando.

Nesse estranho mundo de variedades tecnológicas, oferecidas como mercadorias no balcão da reprodução humana, nem mesmo os antigos limites biológicos da menopausa são barreira para quem quer ter filhos. E na luta contra o tempo, a fertilização é uma das principais armas.

De acordo com a professora Maria do Carmo Ciavaglia, do Departamento de Histologia e Embriologia do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB), o casal que busca este tipo de alternativa normalmente já tentou engravidar durante dois anos (como é preconizado pelos centros de atendimento e fertilização assistida), com relações sexuais frequentes, sem uso de qualquer método de contracepção, mesmo os de barreira (métodos físicos), e ainda assim não conseguiu engravidar.

Todas as condutas médicas dependem do estado de saúde da mãe e da concordância do casal. Portanto, cada situação deverá ser analisada com todo critério ético-profissional. O processo de fertilização, por exemplo, pode ser realizado de duas formas: In Vitro, ou através da inseminação artificial.

Segundo a professora do ICB, na primeira maneira, tem-se a coleta de ovócitos secundários, diretamente do ovário estimulado, que serão colocados em tubos de ensaio ou de placas de Petri, onde se encontram os espermatozóides coletados e tratados.

- Ambos os gametas , em contato, deverão ser observados até que haja a formação de zigoto unicelular, quando a forma embrionária estiver na fase de mórula (forma embrionária multicelular) ou na fase de blastocisto (concepto). É nesta parte do processo que o embrião deverá então ser colocado na cavidade do útero para que ocorra a implantação – afirmou Maria do Carmo Ciavaglia.
Ela comentou ainda que, na inseminação artificial, tem-se a colocação de esperma coletado e tratado diretamente em contato com o organismo feminino; atualmente, coloca-se diretamente na tuba uterina onde se encontra o produto da ovulação. Portanto, durante a monitoramento da mulher, dever-se-á ter o máximo de cuidado para que no dia em que a ovulação ocorrer, o casal esteja preparado para coleta do esperma e para o referido processo.

Em alguns casos, quando o problema envolve a dificuldade do gameta masculino realizar o processo de fecundação, a alternativa utilizada é de retirar, por micro-manipulação o núcleo do espermatozóide e através de micro-injeção colocá-lo diretamente em contato com citoplasma do gameta feminino, completou a professora da UFRJ. Neste último processo, os gametas de ambos os sexos são coletados, pois o experimento é in vitro.

Como as técnicas existentes hoje no mercado permitem a seleção de gametas “saudáveis”, raros são os casos de crianças que nascem com problemas genéticos ou de saúde. Entretanto, as futuras mães devem ficar em alerta. “Apesar de a fertilização propriamente dita não oferecer riscos, a estimulação hormonal empregada durante o tratamento, se não utilizada com a dosagem adequada, não é eficaz e ainda favorece a ocorrência de alguns efeitos colaterais como hipertensão. Este quadro clínico não é desejado e pode levar ao interrompimento da conduta médica”, destacou Maria do Carmo.

Além dessas complicações, o processo de implantação do concepto pode falhar. E da mesma forma, pode haver a implantação de todos os conceptos (Blastocistos) ou de Mórulas, introduzidas. Nesta situação, a possibilidade de ocorrência de gemealidade múltipla (ex: quadruplos, quintuplos) é ampliada. Isto pode atrapalhar o bom desenvolvimento de todos os embriões; e provoca desconforto para a mãe, levando-a a desenvolver deficiência respiratória e/ou cardíaca, o que poderá determinar, o sacrifício de uma das crianças ou parto antecipado.

Gerar uma criança com métodos artificiais fomenta uma série de questões éticas. De acordo com a própria professora do ICB, a fertilização assistida só pode ser realizada em casais impossibilitados de implantações do concepto na própria mulher que cedeu seus gametas, daí, a alternativa de "uma barriga de aluguel". Este método, pelas leis brasileiras, só pode ser realizado por pessoas da mesma família do casal, mãe de um dos conjugues.

É importante lembrar que o problema da infertilidade pode estar relacionado à falta de gameta masculino. Seja porque o esperma do parceiro é estéril (não por vasectomia mas por ausência de possibilidade de fazer espermatogênese), ou mesmo em mulheres solteiras, o doador do esperma não deve ser revelado.

Outro detalhe que deve ser mencionado é que deve-se evitar a chantagem, estorção de dinheiro para o doador, ou para o que recebeu a doação. Este último caso refere-se a mulheres que desejam ter filhos de celebridades, que depositaram seu esperma no banco de esperma, a fim de exigir pensão ou mesmo divisão de bens.

- A idade avançada das futuras mães não interfere diretamente no processo da gravidez. O perigo pode estar relacionado ao estado de saúde da mulher, seus hábitos de vida. Se não houve total esgotamento de Folículos Primordiais, nos ovários; e se a mulher não possui Diabetes, Hipertensão, nem Cardiopatias, ela apresenta riscos muito pequenos de desenvolver alguma complicação durante a gestação – concluiu Maria do Carmo Ciavaglia.

 

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