Doença de
Crohn, causada pelo estresse é a doença escolhida pelo
Olhar Vital esta semana para dar prosseguimento à
série. “Esse mal não tem cura, mas não é
fatal. É tratável e controlável com acompanhamento
médico apropriado. A qualidade de vida do doente pode ser comprometida
por ocorrer em indivíduos jovens em fase produtiva, mas o acompanhamento
por uma equipe multidisciplinar em locais onde haja profissionais com
experiência no tratamento da doença é fundamental”,
afirma doutora Cyrla Zaultman, professora do departamento de Clinica
Medica do Serviço de Gastroenterologia do Hospital Universitário
Clementino Fraga filho.
O mal pode também se desenvolver em bebês ou apenas na
velhice, e provoca uma diminuição da qualidade de vida
se não houver o tratamento adequado. Segundo a doutora ela é
causada por uma predisposição genética, ocorrendo
com mais freqüência em indivíduos judeus, parentes
de primeiro grau de pacientes com doença inflamatória
intestinal (Doença de Crohn e retocolite ulcerativa) e gêmeo
de paciente com o mal. Uma pessoa com parentes em primeiro grau com
a doença tem 25 vezes mais chance de desenvolvê-la do que
alguém sem parentes afetados.
— Nos pacientes
com predisposição genética parece haver alguma
situação ambiental que favorece o inicio da doença,
tal como fumo, infecções virais e uso de antiinflamatórios.
O estresse e a alimentação, embora não sejam as
causas da doença, podem piorar os sintomas existentes —
esclarece a professora. Os fumantes têm de duas a quatro vezes
mais risco de desenvolver Crohn, e particularidades da flora intestinal,
como microorganismos que vivem no intestino e ajudam na digestão,
e do sistema imune, mecanismos naturais de defesa do organismo, também
podem estar relacionadas com a doença. Entretanto nenhum desses
fatores, isoladamente, consegue explicar por que a Doença de
Crohn se desenvolve.
Os sintomas, variados e recorrentes, dificultam o diagnóstico.
“Sua apresentação mais freqüente ocorre sob
a forma de diarréia crônica ou prisão de ventre,
dor no abdômen, associados à perda de peso, sangramento
intestinal e dores nas articulações”, explica a
professora Cyrla. Náuseas e vômitos com febre moderada,
sensação de distensão abdominal piorada com as
refeições, mal-estar geral e cansaço também
são diagnosticados. Outras manifestações da doença,
como fístulas, que são comunicações anormais
que permitem a passagem de fezes entre duas partes dos intestinos, ou
do intestino com a bexiga, a vagina ou a pele são agravantes,
pois além de muito desconfortáveis, expõem a pessoa
a infecções de repetição. Elas ocorrem isoladamente
ou em associação com outras doenças da região
próxima ao ânus, como fissuras anais e abscessos. Por último,
ainda podem ser sintomas algumas manifestações na pele,
como Eritema Nodoso e Pioderma Gangrenoso, inflamações
nos olhos, nas articulações (artrites), e nos vasos sangüíneos
(tromboses ou embolias).
— A duração média das crises varia em cada
paciente, e a confirmação da doença exige a análise
de exames de forma associada para a realização do diagnóstico
— afirma a professora. Primeiramente é realizado um exame
clínico, e havendo suspeita da Doença de Crohn são
feitos exames de sangue, radiografias contrastadas do intestino delgado
(trânsito intestinal) para encontrar ulcerações,
estreitamentos e fístulas características. Também
fazem Enemas baritados, que são raios X com contraste introduzido
por via anal, e Colonoscopia, um tipo de endoscopia que consiste na
passagem por via anal de um aparelho semelhante a uma mangueira, permitindo
a filmagem do interior do intestino grosso. Esse método tem a
vantagem de permitir também a realização de biópsias
da mucosa intestinal para serem analisadas ao microscópio. Por
último, podem ser utilizados métodos de imagem, como ultra-sonografia
abdominal, tomografia computadorizada abdominal e cintilografia com
leucócitos marcados.
Com o agravamento da Doença, podem surgir complicações.
“É possível que haja o aparecimento dos abscessos,
que são bolsas de pus dentro do abdômen, além de
estreitamentos causados pela inflamação ou por aderências
de partes inflamadas dos intestinos, que levam, por sua vez, a obstruções
intestinais, além de sangramentos digestivos”, fala a professora.
Ainda, em certos casos, ocorre desnutrição e surgimento
de cálculos vesiculares devido à má absorção
de certas substâncias pelo corpo.
Com o objetivo de controlar sintomas e manifestações o
tratamento deve ser realizado por uma equipe multidisciplinar onde se
incluem o acompanhamento médico, nutricional e psicológico.
“A dieta a ser empregada dependerá da fase de atividade
da doença e de sua localização no trato digestivo.
De uma forma geral, indivíduos com doenças no intestino
grosso podem ter benefícios com dieta rica em fibras, com verduras
e frutas, enquanto quem possui obstrução intestinal deve
evitar as fibras. A lactose normalmente não é aceita pelo
organismo”, esclarece a médica.
Os medicamentos, que agem principalmente no controle do sistema imune,
são utilizados quando não há melhora apenas com
dieta e antidiarréicos. Entre eles encontram-se a “sulfassalazina,
a mesalamina, corticóides, azatioprina, mercaptopurina e mais
recentemente, o infliximab. A escolha do medicamento dependerá
da localização, da fase da atividade e do grau de agressividade
da doença”, afirma a professora Cyrla. Em casos ainda mais
graves, onde não há melhora com medicamentos, torna-se
necessária uma cirurgia, na qual ocorre a retirada da porção
afetada do intestino. Sangramentos graves, abscessos intra-abdominais
e obstruções intestinais também podem precisar
de cirurgias, e apesar de se tentar evitar ao máximo sua execução,
cerca de metade dos pacientes com Doença de Crohn necessitarão
de pelo menos uma ao longo da vida. As retiradas sucessivas de porções
do intestino podem resultar em dificuldades na absorção
de alimentos e em diarréia de difícil controle.