Argumento
11.05.2006

Matando o monstro da anestesia
por Mariana Granja

A anestesia, método que amedronta muitos pacientes, não é perigosa como o dito popular afirma. Seu objetivo, como explica o chefe do Serviço de Anestesiologia do HUCFF professor Leonel Pereira, é abolir a sensação de dor, e isso pode ser conseguido de dois modos, com uma anestesia geral, onde a pessoa dorme todo o tempo, ou com um bloqueio, que faz com que a parte do corpo anestesiada não sinta dor.

– O responsável por aplicar a anestesia é muito bem preparado para sua profissão, estudando, além dos seis anos da Faculdade de Medicina, mais três de especialização. Além disso tem que passar por uma prova da Sociedade Brasileira de Anestesiologia e só depois é reconhecido como especialista – explica o professor.

O trabalho do anestesista é longo, e não se constitui apenas em aplicar a anestesia. É preciso, antes de tudo, conversar com o paciente e ver suas condições de saúde, e mesmo durante a cirurgia, o paciente é acompanhado todo o tempo, sendo avaliado por diversos aparelhos que monitoram seu organismo para ver se tudo corre bem. “Há riscos ao se utilizar anestesia, mas não por causa dela e sim pelos hábitos ou doenças que a pessoa tem durante a vida, e que podem trazer complicações. É preciso ser honesto e sincero ao conversar com o Anestesista. Se a pessoa usa drogas, ou tem alguma doença, não deve se preocupar em dizer, porque isso ficará entre o anestesista e o paciente. Assim, o profissional se prevenirá para tais situações”, explica o médico.

As alergias à anestesia são um importante ponto discutido, na medida em que problemas (raros) como choques anafiláticos não tem como ser prevenidos, pois não há testes para evitá-los. “Durante a operação são usados vários medicamentos, não só anestésicos, que podem ter respostas inesperadas, mas a sala de cirurgia está preparada para reconhecer e cuidar dessas situações imprevistas, além de ter pelo menos um anestesista que agirá rapidamente para evitar maiores problemas”, esclarece doutor Leonel.

A preparação para uma anestesia deve receber cuidado especial. Alguns exames podem ser pedidos, embora o clínico seja mais importante, às vezes não havendo necessidade de nem mesmo exame de sangue ou raio X. É preciso também fazer jejum, mesmo no caso de uma cirurgia rápida que não necessite internação. “Se a pessoa tiver comido ou bebido e quebrado o jejum pode ser muito perigoso, porque se vomitar esse material pode ser aspirado para o pulmão e causar uma pneumonia muito grave”, alerta. Os adultos não podem comer nem beber nada nas 8 horas que antecedem a cirurgia assim como as crianças acima de oito anos. As que ainda mamam não devem beber leite materno até seis horas antes, mas podem ingerir líquidos até três horas antes como chá, mate, água com açúcar ou sucos de frutas coados. Isso vale também para as crianças de dois a oito anos.

– Os remédios tomados normalmente podem ser mantidos na época que antecede a anestesia, com exceção da Aspirina (AAS), que deve ser parada dez dias antes, e do remédio para diabetes Diabinese, parado dois dias antes – explica o médico – mas remédios para o coração ou pressão não devem ser parados.

Cada anestesia é utilizada para um fim diferente. Os bloqueios, como a peridural ou a raquianestesia, são usados para cirurgias superficiais e abaixo do umbigo, e embora eles anestesiem apenas parte do corpo, normalmente o paciente é mantido sedado durante a intervenção. O procedimento geral pode ser utilizado em qualquer paciente. “Se você já ouviu uma história de alguém que tomou uma anestesia na coluna e ficou paralítico, não acredite. Complicações neurológicas são raríssimas e, em geral são de pouca importância e passageiras. Portanto ambas as anestesias são igualmente seguras sendo empregadas de acordo com as necessidades e com o local da operação”, esclarece o doutor Leonel.

O pós-operatório é feito com uma recuperação pós-anestésica, e mesmo que o paciente se sinta bem após a cirurgia, não é recomendado de forma alguma dirigir, por isso não pode estar sozinho. Pode haver dor após a cirurgia, que varia de pessoa, local e do tamanho da cirurgia. “Isso pode ser contornado com a utilização de cateteres (tubos muito finos) na coluna ou medicamentos na veia. O anestesista também se preocupa em manter o paciente o mais confortável possível depois da operação”, fala.

É preciso que o paciente, antes de realizar a cirurgia assine o Termo de Consentimento, um documento que apresenta o tipo de anestesia que será feita e quais os riscos principais. Mas isso não deve trazer preocupação, pois segundo o doutor, nunca “estaremos testando drogas que já não tenham sido autorizadas para uso clínico” e toda pesquisa foi aprovada pela Comitê de Ética em Pesquisa que a julgou segura e benéfica.

 

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