Argumento
04.05.2006

Abrindo os olhos para o problema
por Taísa Gamboa

Olho vermelho ou torto, dores de cabeça, secreções e lacrimejamento são os principais sintomas apresentados por crianças que possuem algum problema oftalmológico. A partir dos cinco anos, a visão já está próxima do que se considera normal e o infante entra na fase pré-escolar. É nesta época que surgem os problemas, pois a criança passa a ter que prestar atenção em várias coisas e a ter que fixar a sua visão em um único e distante ponto, o professor, ou o livro, ou o quadro.

De acordo com o professor adjunto de Oftalmologia da UFRJ, Luciano Gonçalves, “as dificuldades em enxergar o que está escrito no quadro, a desatenção e a preguiça começam a chamar a atenção de pais e professores”. Ele afirma que, as crianças passam a se aproximar do quadro e apertam os olhos para enxergar o que está escrito nele, também franzem a testa e se queixam de dores de cabeça constantemente. É importante lembrar que, muitas vezes, a criança nem percebe que está com problemas, pois se adapta a eles.

O rendimento escolar é afetado e o aluno acaba, muitas vezes, repetindo o ano, estigma que ele passa a carregar o resto da vida escolar. Estudando com alunos mais novos e que não são do seu grupo, a criança fica marginalizada e é excluída do seu ciclo social, passando a sofrer problemas psicológicos. Este fato é recorrente em escolas públicas de comunidades carentes, onde os alunos não têm condições financeiras de realizar exames oftalmológicos com a periodicidade adequada.

Aliás, Luciano Gonçalves reitera que este é uma das principais causas dos problemas comuns relativos à visão. Tudo porque, até os cinco anos de idade, esse sentido não está completamente desenvolvido e é nesta etapa que a criança precisa de acompanhamento oftalmológico adequado.

Segundo o professor, quando o bebê nasce, ela precisa realizar o exame do reflexo vermelho, que, graças ao Projeto Luz da UFRJ, atualmente é obrigatório no Estado do Rio de Janeiro. O referido projeto detecta se a criança é ou não portadora de catarata congênita. Implantado na Neonatologia da Maternidade Escola da UFRJ por Luciano Gonçalves, o Projeto Luz mantém uma conta na Fundação Universitária José Bonifácio, que recebe doações para ajudar crianças portadoras deste mal.

— Aos seis meses, a criança deve fazer um outro exame de checagem da capacidade e desenvolvimento visual. Ao completar um ano, um importante teste precisa ser realizado, o do reflexo da máquina fotográfica. Se a criança aparece com alguma mancha branca sob os olhos, ao invés do olho normal ou vermelho (em conseqüência do reflexo), seus pais devem encaminhá-la ao médico, pois a mancha pode significar um tumor, conhecido como retinoblastoma. Caso nada seja detectado, depois desta etapa, os exames podem ser feitos anualmente, apenas para checagem — orienta o professor.

Aos cinco anos, a criança deve estar enxergando bem o suficiente para seguir a sua vida escolar e social sem problemas. E aos dez anos, sua visão está completamente desenvolvida e estável. Portanto, é antes dessa faixa etária que os problemas devem ser completamente solucionados. Caso contrário, ela terá visão prejudicada para o resto da vida e talvez nem perceba isto.

Para o professor de Oftalmologia da UFRJ, é vital que todos os pais levem seus filhos ao oftalmologista anualmente e que realizem todos os exames necessários, inclusive em campanhas oftalmológicas governamentais. “Os professores são um elemento fundamental na detecção dos problemas visuais infantis e devem alertar os pais caso percebam algum problema. O apoio da família é elementar para confortar a criança e explicar todas as suas dúvidas, passando-lhe confiança. Em casos de exclusão social e medo por parte do infante, talvez o acompanhamento psicológico também seja indicado”, conclui Luciano Gonçalves.

 

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