Argumento
27.04.2006

Sozinhos e doentes
por Mariana Granja

Quando a mulher fica doente, seu marido, não raro, também “cai de cama”. É isso que diz o estudo americano feito pela Universidade de Harvard, que conclui que quando a esposa adoece, o marido, sentindo-se sozinho e depressivo, tem mais probabilidade de desenvolver uma doença do que se fosse num período normal, com sua parceira ao lado.

- As causas do problema devem ser analisadas para podermos entender melhor como ocorre esse processo – afirma o Coordenador do Centro de Doenças de Alzheimer do Instituto de Psiquiatria da UFRJ, professor Jerson Laks. Segundo ele, as mulheres são mais independentes e precisam menos dos parceiros para atividades de vida diária em casa, tais como fazer comida e arrumar a casa, por exemplo, e essa maior independência do sexo feminino pode ser um dos fatores que promovem mais qualidade de vida para as mulheres do que para os homens.

Ainda que não haja muitos estudos sobre o tema, já é possível perceber a diferença no modo de vida dessas pessoas. De acordo com pesquisas realizadas por Harvard durante nove anos, com cerca de 500 mil casais de idosos, houve um aumento de cerca de 4,5% nos óbitos de maridos que tiveram suas esposas hospitalizadas. Em contrapartida, o aumento de óbitos de mulheres foi de 3%. Já quando há morte de um dos parceiros, diz a pesquisa, o número de episódios em que homens sozinhos falecem envolvendo acidentes, suicídios, infecções e surgimento de diabetes foi de 21%, contra os 17% das mulheres.

De acordo com o professor Jerson, fatores como estresse, solidão e depressão, que poderiam propiciar tal diferença, atingem tanto homens como mulheres. “A solidão e o estresse dependem muito das redes sociais construídas ao longo da vida, e são fatores de risco para o desenvolvimento de depressão. O que se conhece hoje em dia é que as mulheres estão mais expostas à depressão que os homens de um modo geral, o que não impede que pesquisas descubram resultados novos”, explica.

Segundo o médico, a tristeza e a depressão propiciam o aparecimento de várias doenças, seja pelo mecanismo intrínseco da depressão, seja por mecanismos indiretos. “Pessoas tristes comem menos, têm menos cuidados com a própria higiene. Isso facilita infecções, diminui a capacidade imunitária e com isso várias doenças podem sobrevir”.

O fator da solidão também pode fazer diferença nesses casos, principalmente porque na terceira idade os filhos normalmente já cresceram e não moram mais com os pais, e o idoso, perdendo sua parceira, fica sozinho. “Isso pode trazer mais doenças se for um traço de maior isolamento social, mas pessoas que vivem sozinhas e têm muitos amigos não sofrem desse problema”, diz o médico.

Para ajudar os idosos que perderam suas esposas, explica o doutor, muitas vezes pode ser melhor ativar redes de suporte social, grupos de amigos, familiares ou participar de eventos aos quais os homens gostem de ir, pois este estímulo pode servir para reabilitar os indivíduos.

Ainda que a pesquisa afirme que os homens têm menos recursos internos para lidar com o sentimento de perda, ficando tristes e doentes, os resultados da pesquisa não devem ser considerados como regra para a vida. “O que vai ocorrer com cada um depende muito do tipo de personalidade, mais do que com outros fatores”, finaliza doutor Jerson.

 

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