Faces e Interfaces
04.05.2006

Poluição afeta concepção de bebês?
Por Mariana Elia

Pesquisas indicam que poluentes podem interferir no sexo dos bebês. Ao que parece, a natureza percebe a necessidade de aumentar o número de meninas por conta da maior estabilidade no número de mães. Os homens apontariam para uma situação de risco, pois poderão ser pais diversas vezes ou mesmo nenhuma. Já diziam que os nascimentos poderiam ser afetados de acordo com fenômenos naturais e conflitos sociais, como o aumento do número de homens após a II Guerra Mundial. O uso de determinadas substâncias também são apontadas como razões para alteração na causalidade e formação do bebê. Para falar sobre esses agentes externos na concepção de bebês, o ginecologista Marcos André Henriques e a professora Maria do Carmo Borges e Souza.

Marcos André Henriques
Ginecologista do departamento de Ginecologia e Obstetrícia da UFRJ do HUCFF

 
Maria do Carmo Borges e Souza
Chefe do departamento de Ginecologia e Obstetrícia
Responsável pelo setor de Reprodução Humana do Instituto de Ginecologia


“A maneira exata de como os elementos interferem ainda não é sabido. O que se sabe é o efeito que agentes externos têm sobre alterações cromossomiais. Solventes, éter, DDT podem deixar resíduos em terrenos, por exemplo, e passar para água, levando à contaminação. Chumbo, mercúrio e gases industriais também influenciam na má formação de bebês e no aborto espontâneo. Em relação à determinação do sexo propriamente, eu desconheço qualquer interferência pela poluição ou por acontecimentos vários na sociedade ainda é muito cedo para se constatar qualquer coisa cientificamente.

Eu acredito que não haja essa possibilidade efetiva, nem mesmo que a natureza possa influenciar. O que se tem provado é a lesão nos testículos, na formação da genitália externa, mas isso não tem ligação com a definição do sexo da criança.

Nos estudos de fertilização in vitro provou-se que existem substâncias tóxicas presentes, mas estas podem dificultar ou não a concepção dos bebês. Os solventes utilizados em lavagem a seco também foram provados como agravantes na dificuldade de engravidar.
Em relação à diferença entre o cromossomo Y e X, o que se pode dizer é que se investiga sobre o menor potencial de vida do primeiro (nesse caso a concepção mais rápida daria origem a um menino), mas também não há nada provado”.


 

“Conheço a pesquisa sobre a correlação entre nascimento e sexo dos bebês. Ela trabalha como nós no interesse da relação entre meio ambiente e reprodução. A avaliação feita foi de que realmente há influência do primeiro sobre o segundo. É realmente muito difícil instituir uma correlação confiável, pois são muitas variáveis a serem analisadas.

O que se sabe hoje em dia é sobre muitos elementos presentes no ambiente que estabelecem uma ligação cruzada com estruturas do corpo, principalmente hormônios, interferindo na ovulação e espermatogênese. Portanto ocorre tanto em homens quanto mulheres. Não sei exatamente se há uma interferência mais intensa com o cromossomo Y.

O que nós chamamos de disruptores endócrinos, como pesticidas e solventes, e mais um conjunto de situações que estão presentes no ambiente, são substâncias quimicamente semelhantes aos hormônios esteróides. Quando penetram o corpo, esses disruptores enganam o organismo, ocupando o lugar dos hormônios nos receptores celulares. Isso induz uma resposta, da mesma maneira que os hormônios o fazem. Essa resposta pode ser a preparação do útero para a recepção do óvulo, mas como é apenas um equívoco do organismo, já que não há estrogênio, por exemplo, naqueles locais.

Essa situação pode modular a produção do gameta. Assim como pode acarretar na diminuição da fertilidade. Como haveria a influência na definição do sexo propriamente, ainda não sabemos ao certo. Em relação à natureza, no sentido de estimular uma interferência, como se houvesse algum tipo de ‘sensibilização’, eu não conheço nenhum tipo de afirmação nesse nível. Não acredito que haja tal tipo de atuação. A relação de nascimentos de homens e mulheres é mais ou menos constante, não tenho informações sobre uma disparidade muito grande.

A correlação que existe entre ambiente e reprodução é feita pelos disruptores endócrinos. Devemos agora estudar o que afeta diretamente, quais tipos de gases e poluentes, além do estilo de vida, alimentação, trabalho, já que são muitos fatores associados”.

Notícias anteriores:

• 27/04/2006 - Quando interditar é a solução
• 20/04/2006 - Salvando vidas
• 13/04/2006 - Onde está a fé?