Faces e Interfaces
30.03.2006

Onde está a fé?
Por Mariana Granja

Religião é um assunto que gera muita polêmica na sociedade, ainda mais entre os jovens. Na fase cheia de turbulências e formações de opinião, a religião fica esquecida e por vezes torna-se uma incógnita: essencial ou inútil? Necessária apenas para os adultos caretas ou para todos? Em que acreditar, e por que acreditar?

De acordo com o Padre e professor do Instituto de Biofísica da UFRJ Aníbal Gil Lopes, há inúmeros estudantes universitários que tem uma vida religiosa ativa. “Aqui atuo com os alunos num modo estritamente profissional, como professor, mas posso perceber a presença de vida religiosa de alguns, pelos símbolos que utilizam roupas e distintivos”, fala o professor, acrescentando que “essa história de que antigamente os jovens eram mais ligados à religião não é verdadeira, se pensarmos que era apenas formalmente, como um compromisso social, uma religião de fachada. A participação real nunca foi do coletivo.”

Embora os cerca de 30% dos alunos que têm a religião como ponto importante e a mantenham fora do meio acadêmico, é possível encontrar grupos religiosos dentro da universidade. No Centro de Ciência da Saúde existem reuniões de grupos católicos e evangélicos que foram procurados pelo Olhar Vital para falar sobre a importância da religião na vida do jovem, e em especial no meio universitário


Grupo de Oração Universitário (GOU) – Projeto Universidades Renovadas
Professora Márcia Guimarães – Coordenadora do projeto

 
Comunidade Evangélica Universitária (CEU)
Bruno Souza – Coordenador do CEU e aluno de Medicina


“O Grupo de Oração Universitário surgiu em 1997, aqui no Brasil, em Viçosa, mas hoje já existe no Chile, nos Estados Unidos e no Canadá também, e nós temos um aqui no CCS, onde há reuniões semanais. Onde podem participar estudantes não só do CCS como também de outras unidades.

Os jovens de hoje em dia têm muito medo de se expor, alguns tem sua fé bem discernida, mas tem medo de mostrar sua cara de católico. Não querem dizer que são católicos por acharem que serão rejeitados, que é careta, ou beatos. O jovem tem ‘espírito de rebanho’, não quer ser diferente dos amigos. Nós já fizemos uma vez cartazes chamando para o grupo que diziam:‘Católico:mostra sua cara!’, exatamente por causa disso. Muitos da universidade, são católicos, mas só na teoria, não praticam.

Para se ter uma idéia disso, nós fizemos a missa de recepção de calouros, e só compareceu um calouro. Nós passamos em todas as turmas novas dos cursos, e mesmo assim não obtivemos sucesso. Fizemos reuniões no teatro de arena, uma via sacra pelos corredores, mas não dá “ibope”. Por quê? Quando perguntamos aos alunos a razão disso, eles respondem que a prioridade deles na universidade é estudar, e não participar de atividades religiosas.

Os valores hoje em dia, não só aqui na universidade, mas na sociedade em geral, são outros, são os valores do mundo. E os apelos do mundo são muito mais atraentes. Reuniões religiosas não chamam muitas pessoas, mas em compensação, ‘choppadas’, festas, ficar e namorar sempre são atividades importantes. E não foi a igreja que mudou, ela continua proclamando a verdade, com as pessoas achando as idéias antiquadas ou não, foi a própria sociedade, com o aumento de ateístas ou agnósticos e maior indiferença, que mudou.

É claro que alguns alunos gostariam de vir ao Grupo, só que devido à incompatibilidade de horários não podem vir, o que é uma pena, pois o nosso objetivo é ter uma experiência forte da presença de Deus na vida, mostrar que Ele é ativo, existe, e quer fazer coisas boas na vida das pessoas. Só que nós, católicos, somos muito tímidos, mas não podemos continuar assim, temos que ser felizes para louvar a Deus, exaltar suas qualidades. È só olhar o sucesso que o Padre Marcelo Rossi faz e se inspirar nele, ele é alegre e eloqüente e por isso consegue chamar mais fiéis”.


 

“Antes de falar qualquer coisa sobre a religião na nossa sociedade, acho muito importante diferenciar religião de Deus. Há muita gente religiosa, mas poucos conhecem realmente Deus. E isso acontece por comodismo. Não é simples seguir a Deus, dá trabalho, tempo, força de vontade, e as pessoas não querem isso hoje.

Não são só os jovens que estão longe de Deus, a sociedade inteira se encontra nesse estado, só que os jovens, principalmente os universitários, estão no auge de suas vidas. Tem força física, estão no topo da sociedade, já que estão ingressando no Ensino Superior, e por isso acham que devem aproveitar. Assim, acabam bebendo muito, usando drogas, vão a festas e ficam com muitas garotas ou garotos, e isso só os distancia cada vez mais de Deus.

Algumas das outras religiões têm se difundido muito nos últimos tempos, mas isso não significa que estejam mais corretas, podem ser apenas mais fáceis. Os evangélicos também têm crescido claro, mas os que crescem desse modo desproporcional e exagerado não são os verdadeiros. Esses têm atrativos que nem sempre mostram a verdade, pois oferecem alívio e resolução imediata dos problemas.

Se olharmos, são raríssimas as pessoas que dobram o joelho e falam com Deus. A maioria procura em livros escritos pelos homens as respostas que querem, as mais fáceis. E mesmo olhando para um tempo atrás, quando se fala que a religião era mais forte que atualmente, acho que em parte: antigamente as pessoas eram mais religiosas, o que não é de forma alguma ruim, porque a religião traz lições morais, mas as pessoas não conheciam Deus realmente, pois conhecê-Lo produz não só um ensinamento de moral, mas uma transformação genuína, verdadeira, as pessoas não farão o mal por causa da sociedade, mas porque isso não agrada a Deus e conseqüentemente não agrada a elas.

O nosso grupo não tem muita gente, é natural, a maioria dos jovens não tem religião como prioridade dentro da universidade, mas colocamos sempre cartazes e faixas, trazemos às vezes grupos musicais, participamos da recepção de calouros. Sabemos que não somos nós que podemos de verdade atrair esses jovens, e sim Deus, somos apenas a boca que serve de canal."

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