“Em 1997, o
Conselho Federal de Medicina baixou uma resolução,
autorizando a cirurgia de mudança de sexo. Recomendo
a leitura do texto, pois foi feita uma pesquisa muito séria
sobre o assunto. A cirurgia de transgenitalização
foi autorizada a título de experimentação
para as pessoas diagnosticadas com transtorno de identidade
de gênero. Não é exatamente mudança
de sexo, mas alteração dos órgãos
genitais. Esse transtorno é uma categoria psiquiátrica,
presente em pessoas que se sentem pertencentes a um sexo diferente
ao biológico. Não estou falando de características
delirantes, nas quais a pessoa pensa que é de outro sexo.
O indivíduo sabe que nasceu homem ou mulher, entretanto
não há correspondência entre o anatômico
e o psicológico. Como se sabe, não existe tratamento
psicológico que reverta essa situação,
nem se sabe a cura. A solução no mundo inteiro
é fazer cirurgia.
No caso do homem
sentir-se mulher, são feitas a extirpação
do pênis e testículos e a construção
da chamada neo-vagina. A legislação exige uma
avaliação prévia de, pelo menos, dois anos
com uma equipe multiprofissional, com psicólogos, psiquiatras,
endocrinologistas entre outros, para verificar se corresponde
à indicação de cirurgia e evitar arrependimentos
futuros. No Hospital Universitário Clementino Fraga Filho
(HUCFF), já foram feitas quatro cirurgias masculinas
e não houve arrependimento. Acredito que em São
Paulo, Porto Alegre, Vitória, Brasília e Belo
Horizonte também são feitas operações
e também não são conhecidos casos de arrependimentos.
Em 2002, a operação masculina deixou de ser experimental.
Com as mulheres, no entanto, a cirurgia é muito complicada,
há vários agravantes. É bom lembrar que
a incidência é muito maior em homens (uma escala
quase de nove para um).
O acompanhamento
continua após a mudança, porém o mais complicado
é a questão jurídica, a alteração
de nome e sexo na identidade civil. Essa parte causa constrangimentos
terríveis, além dos agravantes em relação
a casamento, herança, entre outros. Há também
um processo de adaptação pós-operação:
normalmente é preciso fazer reparos na região,
há o desejo de implantação de mama, retirada
da cartilagem conhecida como ‘pomo de adão’,
tem que passar a tomar hormônio, enfim, são preocupações
para o resto da vida. Mas o que é mais problemático
mesmo é a inserção social. E mesmo com
tantos agravantes, o desconforto anterior era tão maior
que a possibilidade de cirurgia é uma esperança
sem preço.
Os homens sentem-se
como mulheres a partir das características mais comuns,
como a sensibilidade feminina, o carinho. Eles se dizem possuidores
de uma essência intrinsecamente feminina. E essa questão
nos dias atuais é muito nebulosa, não se tem mais
exatamente delineado o que é feminino e o que é
masculino”.
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