“Tabagismo
é uma dependência química. A OMS (Organização
Mundial da Saúde) considera uma doença crônica,
que começa na adolescência, quando 90% das pessoas
iniciam o uso. Há duas abordagens fundamentais no tratamento:
cognitivo-comportamental e apoio com medicamentos para aliviar
a abstinência. Para esse tratamento, são recomendadas
as duas etapas simultaneamente.
A primeira, através de aconselhamento e orientação
com terapias individual ou em grupo, a fim de enfrentar situações
de risco. Ao mesmo tempo, o paciente é encorajado a mudar
de vida, como por exemplo, a prática de exercícios
respiratórios e dieta. São trabalhos que duram por
volta de três meses em sessões semanais. Estresse,
nervosismo e ansiedade são emoções, em cima
das quais o cigarro funciona como socorro, fornecendo alívio
momentâneo. Daí, o tabaco pode se tornar também
um mascarador da depressão.
A segunda é
tentar apoiar em medicamentos, usando os adesivos transdérmicos
de nicotina diariamente, ou a goma de mascar de nicotina. O
uso ‘dessenssibiliza’ o receptor de nicotina no
cérebro. A idéia é quebrar o ritual em
doses mais baixas e sem as outras substâncias tóxicas
presentes no cigarro. A goma é interessante para acabar
com a fissura, colocando algo na boca e exercitando a oralidade
que o fumante precisa. É necessário, no entanto,
parar de fumar para que não aumente a taxa de nicotina
no organismo. Esses recursos são usados desde a década
de 70 e dão muito bons resultados, mesmo que com contra-indicações,
como doenças de pele e infarto recente.
Outra forma
de medicação é o anti-depressivo Bupropiona.
Dura também cerca de três meses e não costuma
causar dependência, porém existem muitas contra-indicações,
como epilepsia, doenças relacionadas ao fígado,
rins e depressão grave. Esses são os remédios
de primeira linha, mais caros. Recentemente, começam
a ser fornecidos pelo SUS, mas o Hospital Universitário
ainda não os recebeu. Outros medicamentos não
têm a mesma eficácia, são, no entanto, mais
baratos. Dois medicamentos devem entrar no mercado e vão
revolucionar o tratamento contra o tabaco. A Vareciclina está
para ser autorizada nos Estados Unidos e os estudos mostram
que ela ocupa o mesmo espaço no receptor de nicotina.
Até agora, ele se mostrou bastante eficaz e não
deu sinais de dependência, mas no futuro teremos uma maior
clareza. E o Rimonobant, que ainda está sendo testado
na Europa. Uma de suas vantagens é que diminui o apetite,
pois é comum o ganho de peso ao parar de fumar.
O tratamento, portanto,
é complexo, individualizado, já que cada um lida
diferentemente com as dependências. Uma abordagem multidisciplinar,
com boa rede de apoio, não só médico, mas
familiar também, para motivar o dependente. Superar o
sentimento ambivalente, de querer parar e, ao mesmo tempo, sentir
vontade de acender um cigarro, é alcançar o sucesso
do tratamento. O uso de medicamento isolado do resto dos cuidados
é um engano, provavelmente essas pessoas voltarão
a fumar. Parar sem uso de medicamentos é possível,
mas é minoria nos casos. É importante lembrar
que em geral são necessárias seis ou sete tentativas
até conseguir largar totalmente o vício.”
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“Não
para todos, mas para a maioria, principalmente por causa da
compulsão e também da abstinência, é
preciso o uso de medicamentos. Assim como em outros tratamentos,
como a cocaína. Mesmo que algumas consigam romper o uso
sem remédios, o número é muito pequeno.
Hoje em dia, tem uma série de recursos como a goma de
mascar, comprimidos por via oral e adesivos de nicotina. Sempre
há, porém, a possibilidade de dependência
no medicamento, não se pode negar isso.
Verifica-se
hoje cada vez mais a procura de ajuda por pessoas dependentes
de remédios, como as anfetaminas e opióides, casos
que são muito difíceis de tratar. A medicação
como acompanhamento, no entanto, é feita em diferentes
drogas, mesmo nesses casos. Algumas vezes, há também
a dependência cruzada, quer dizer, vícios em diferentes
drogas, especialmente na classe médica, que tem o acesso
mais facilitado.
No Projad
- Programa de Estudos e Assistência ao Uso Indevido de
Drogas, temos uma grande variedade de casos e o tabaco não
é das mais comuns. Normalmente, a queixa vem associada
a outras dependências, inclusive o vício em jogos,
que ultimamente é muito comum em nosso Programa. Temos
o setor de assistência e a parte de ensino, onde alunos
da graduação e pós-graduação
estudam os maus usos de substâncias e mesmo de práticas,
como vemos nos jogos como bingos e apostas diversas.”
O Projad
funciona no Instituto de Psiquiatria da UFRJ, no campus da Praia
Vermelha.
Mais informações sobre tabagismo podem ser obtidas
nos sites:
Inca
- tratamento
Inca
- Nicotina
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