“Na
Psiquiatria, não existe a categoria de mentirosos patológicos.
Na verdade, o que existe são pessoas que mentem mais freqüentemente,
sem remorso ou sem o peso de questões morais. As pessoas
com comportamento anti-social são um exemplo disso. Não
há, portanto, um quadro clínico, quer dizer, esse
tipo de diagnóstico, mas a caracterização
de um sintoma presente em casos diferentes. É muito comum
verificar pessoas que têm o costume de mentir, mas é
traço que corresponde a outras doenças.
As pesquisas, muitas
vezes, lançam idéias, que são investigadas
e discutidas, sendo então cristalizadas na ciência
ou não. Integrar aspectos sociais, culturais, psicológicos
e biológicos é uma boa opção para
uma discussão como essa, por exemplo. Às vezes,
uma característica cultural vai ao encontro de um traço
biológico, tendo, assim, relação entre
uma ocorrência e outra.
Por enquanto, ainda
é muito cedo para se constatar algo em relação
a uma patologia da mentira. Mesmo que não haja essa categoria,
é possível que um dia ela se mostre, que seja
provada de alguma maneira.”
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“Bom,
nada é um sintoma isolado na Psiquiatria. Dificilmente,
uma pessoa que tem uma vida normal, com trabalho e família,
vai ser diagnosticada como uma mentirosa patológica.
A mentira está dentro de um caso de transtorno psiquiátrico
e vai se mostrar junto com uma personalidade frágil,
dentre outros sintomas.
A pessoa
sente necessidade de criar um ideal, constrói um castelo
e tem que sustentar essa fantasia. É um transtorno chamado
de pseudologia fantástica, na qual a pessoa não
só cria um mundo, como tem que acreditar nele. Mas a
mentira faz parte de um quadro psiquiátrico. Tentar ver
como resultado de uma alteração cerebral é
um reducionismo muito grande, pois há muitas outras características
psicológicas acompanhadas a esse quadro, como sentimento
narcísico e insegurança muito forte. Esses fatores
fazem com que a pessoa sinta vontade de se valorizar frente
aos outros, criando essa nova vida.
É,
portanto, um conjunto de sintomas, dentro do qual a mentira
está inserida. Pode também estar presente em outros
quadros psiquiátricos. O que nós vemos mais comumente
é o caso de transtornos de personalidade”.
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