Lixo, plásticos e biodegradáveis
Por Mariana Elia
|
Por
mais estranho que possa soar, o lixo não é mais lixo. Quer
dizer, lixo não é mais um resto que não tem utilidade
e deve ser deixado de lado para que se destitua. Há muito que fazer
com os detritos urbanos. Muitas técnicas de reciclagem já
foram desenvolvidas e muitas medidas já foram e devem, ainda, ser
tomadas a fim de diminuir a quantidade produzida diariamente.
A França aprovou recentemente uma lei que vai ao encontro de muitas
já implantadas em países da Europa: a partir de 2010, só
poderão ser usados sacos plásticos biodegradáveis
para o lixo diário. A Alemanha e a Irlanda cobram taxas pelo uso
de sacos plásticos, a fim de que cada um leve sua sacola individual.
Na Inglaterra, já existem empresas que só utilizam materiais
biodegradáveis. A intenção é reduzir a fabricação
de plásticos não biodegradáveis, já que estes
impedem a passagem de água, aumentam a quantidade de lixo nos aterros
sanitários e dificultam a compactação de sólidos
recicláveis. Para o professor e diretor do Instituto de Bioquímica
Médica, Franklin Rumjanek, as decisões são boas,
mas não se pode deixar para o futuro: “Enquanto permanecem
como lei, não faz muito sentido, é preciso executar”.
Segundo
dados estatísticos o Brasil recicla 17% dos plásticos pós-consumo
(índice que já ultrapassou países como Portugal e
Grécia), entretanto, não tem se mostrado muito alerta quanto
a questão de conscientização da população.
Além do uso de plásticos ser indiscriminado no cotidiano
do brasileiro, nenhuma medida tem sido discutida em relação
ao desenvolvimento de técnicas de transformação do
lixo urbano em combustível, como se vê na Itália,
por exemplo. A reciclagem é, além de uma possibilidade de
diminuição de estragos ao ambiente, uma prática redutora
de gastos públicos, ao mesmo tempo em que aumenta as oportunidades
de empregos e mais uma alternativa energética. As Prefeituras gastariam
menos com aterros sanitários, já que empresas administrariam
o tratamento de detritos.
Esse ponto, no entanto,
não é o mais preocupante no país, pois a prática
da reciclagem vem aumentando vigorosamente. A produção de
materiais biodegradáveis e outras formas de obtenção
de energia são hoje uma possibilidade real, nas quais o Brasil
não parece muito interessado. O professor Franklin comenta da obtenção
de polímeros de origem bacteriana que são totalmente biodegradáveis
e idênticos na forma ao plástico. Bem como o uso de energia
solar e nuclear, a qual mesmo sofrendo certo preconceito, pode ser menos
nociva que a queima de combustível fóssil. Outras são
as opções, como os derivados da palha de milho, também
na produção de biodegradáveis, e unidades de tratamento
de lixo como a que existe na Fundação Bio-Rio, localizada
no Fundão. Ou seja, não se trata do desenvolvimento de recursos,
mas do interesse político e individual de mudar as práticas
que afligem o meio ambiente.
O professor acredita que é fundamental apostar na educação.
É preciso que as pessoas “entendam a fragilidade do meio
ambiente e o tratem com respeito e não com desprezo como é
tratado atualmente”. E comecem também a exigir mudanças
nas instâncias políticas, pois mesmo que existam leis a serem
aprovadas, os órgãos públicos ligados ao meio ambiente
são ineficazes, “veja o caso de Ilha Grande e da venda ilegal
de madeira”, como lembra Franklin.
|