Ciência e Vida
16.03.2006

Lixo, plásticos e biodegradáveis
Por Mariana Elia

Por mais estranho que possa soar, o lixo não é mais lixo. Quer dizer, lixo não é mais um resto que não tem utilidade e deve ser deixado de lado para que se destitua. Há muito que fazer com os detritos urbanos. Muitas técnicas de reciclagem já foram desenvolvidas e muitas medidas já foram e devem, ainda, ser tomadas a fim de diminuir a quantidade produzida diariamente.

A França aprovou recentemente uma lei que vai ao encontro de muitas já implantadas em países da Europa: a partir de 2010, só poderão ser usados sacos plásticos biodegradáveis para o lixo diário. A Alemanha e a Irlanda cobram taxas pelo uso de sacos plásticos, a fim de que cada um leve sua sacola individual. Na Inglaterra, já existem empresas que só utilizam materiais biodegradáveis. A intenção é reduzir a fabricação de plásticos não biodegradáveis, já que estes impedem a passagem de água, aumentam a quantidade de lixo nos aterros sanitários e dificultam a compactação de sólidos recicláveis. Para o professor e diretor do Instituto de Bioquímica Médica, Franklin Rumjanek, as decisões são boas, mas não se pode deixar para o futuro: “Enquanto permanecem como lei, não faz muito sentido, é preciso executar”.

Segundo dados estatísticos o Brasil recicla 17% dos plásticos pós-consumo (índice que já ultrapassou países como Portugal e Grécia), entretanto, não tem se mostrado muito alerta quanto a questão de conscientização da população. Além do uso de plásticos ser indiscriminado no cotidiano do brasileiro, nenhuma medida tem sido discutida em relação ao desenvolvimento de técnicas de transformação do lixo urbano em combustível, como se vê na Itália, por exemplo. A reciclagem é, além de uma possibilidade de diminuição de estragos ao ambiente, uma prática redutora de gastos públicos, ao mesmo tempo em que aumenta as oportunidades de empregos e mais uma alternativa energética. As Prefeituras gastariam menos com aterros sanitários, já que empresas administrariam o tratamento de detritos.

Esse ponto, no entanto, não é o mais preocupante no país, pois a prática da reciclagem vem aumentando vigorosamente. A produção de materiais biodegradáveis e outras formas de obtenção de energia são hoje uma possibilidade real, nas quais o Brasil não parece muito interessado. O professor Franklin comenta da obtenção de polímeros de origem bacteriana que são totalmente biodegradáveis e idênticos na forma ao plástico. Bem como o uso de energia solar e nuclear, a qual mesmo sofrendo certo preconceito, pode ser menos nociva que a queima de combustível fóssil. Outras são as opções, como os derivados da palha de milho, também na produção de biodegradáveis, e unidades de tratamento de lixo como a que existe na Fundação Bio-Rio, localizada no Fundão. Ou seja, não se trata do desenvolvimento de recursos, mas do interesse político e individual de mudar as práticas que afligem o meio ambiente.

O professor acredita que é fundamental apostar na educação. É preciso que as pessoas “entendam a fragilidade do meio ambiente e o tratem com respeito e não com desprezo como é tratado atualmente”. E comecem também a exigir mudanças nas instâncias políticas, pois mesmo que existam leis a serem aprovadas, os órgãos públicos ligados ao meio ambiente são ineficazes, “veja o caso de Ilha Grande e da venda ilegal de madeira”, como lembra Franklin.

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