Ciência e Vida
08.12.2005

Doença do Refluxo Gastro-Esofágico - DRGE
Por Beatriz Padrão e Wang pei Yi

Esofagite de Refluxo é uma doença que decorre de uma alteração anatômica, Hérnia Hiatal, que prejudica a válvula anti-refluxo. Quando o conteúdo do estômago, em geral muito ácido, atinge a mucosa esofágica, este tecido inflama originando a enfermidade, que provoca a volta do conteúdo estomacal no sentido da boca, sem enjôo ou vômito, freqüentemente, com azedume ou amargor.

Existem dois tipos de refluxo, o patológico e o fisiológico, que se diferenciam quanto à quantidade regurgitada e a freqüência. O refluxo na criança pode ser considerado normal e melhora espontaneamente, deixando de ser habitual a partir de um ano de idade. Mas quando a sua freqüência é intensa, pode levar a desnutrição e problemas respiratórios, tais como pneumonia, e esofagite (inflamação do esôfago, devido ao refluxo do conteúdo ácido do estômago).

Não existe uma explicação comprovada para a existência do refluxo, porém a mais aceita é de que o músculo existente na extremidade inferior do esôfago não se desenvolveu direito ou é "fraco". Na velhice, a "fraqueza" deste músculo permite que o alimento volte para trás em direção a boca.

A azia é a principal queixa para quem sofre de Refluxo. Pode ocorrer também um aumento da salivação, a sialorréia, que é um reflexo natural porque a deglutição dessa saliva alivia a queimação, como se fosse um antiácido natural. Não raro o refluxo causa tosse, pigarro e alterações da voz. O engasgo - tosse forte e súbita, atrapalhando a respiração - pode despertar do sono e representar uma situação de refluxo gastro-esofágico. A ocorrência de falta de ar com chiado ou miado no peito, como a asma, pode ser desencadeada pelo refluxo.

De acordo com a professora do Serviço de Gastroenterologia do HUCFF, Eponina Lemme, a doença pode evoluir para complicações denominadas em geral de dismotricidade esofágica, ou seja, sensações desde bola na garganta, desconforto ao engolir e até fortes dores no peito, espasmos que representam uma desorganização das contrações faringo-esofágicas responsáveis por levarem ao estômago aquilo que ingerimos.

O DRGE pode ser detectado através de radiografia ou da Endoscopia Digestiva Superior, um exame que permite visualizar o esôfago, o estômago e o duodeno. Na criança é usado a Cintilografia do trânsito esôfago-gástrico, um método que capta e registra imagens da radioatividade do estômago refluindo para o esôfago. Além disso, o estudo da pressão interna do esôfago (Manometria) e a verificação do refluxo da acidez do estômago para o esôfago (pHmetria de 24 horas) podem detectar variações naturais e anormalidades capazes de diagnosticar a DRGE.

O tratamento clínico em geral envolve medidas educativas associadas aos medicamentos. A vídeo-laparoscopia vem facilitando o método cirúrgico, aplicado a casos selecionados, com resultados favoráveis. "Algumas medidas ajudam no controle dos sintomas como: evitar a bebida alcoólica, não deglutir líquidos muito quentes, ingerir um mínimo de líquidos durante ou logo após as refeições, evitar a ingestão de chá preto e café puro com estômago vazio. Há controvérsias sobre restrição de diversos alimentos, particularmente, cítricos, doces e gordurosos", disse a professora Eponina.

Os medicamentos mais usados são os que diminuem o grau da acidez já lançada no estômago e aqueles que inibem a produção de ácido pelas células do estômago. Outros remédios destinam-se a facilitar o esvaziamento do conteúdo estomacal em direção ao intestino, minimizando a quantidade capaz de refluir para o esôfago. Entretanto "o tratamento clínico combate muito bem os sintomas, mas não modifica a hérnia hiatal e poucas vezes muda o refluxo gastro-esofágico", afirmou Lemme.

O tratamento cirúrgico do refluxo gastroesofágico substitui o papel exercido pelo esfíncter e normaliza o calibre do hiato. Com uns poucos pontos cirúrgicos constrói-se uma válvula aproximando-se o diafragma para diminuir o diâmetro do esfíncter inferior do esôfago sem apertá-lo em sua passagem do tórax para o abdômen. A cirurgia obtém muito bons resultados.

 

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