Leticia
Legay – diretora do Núcleo de Estudos
de Saúde Coletiva (NESC)
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Privilegiada!
É assim como me sinto em relação a outras
mulheres, com e sem profissões, em nossa sociedade atual,
mesmo porque ainda somos poucas a ocupar cargos na universidade
e um lugar adequado no mundo. Não gostaria de ser reitora
jamais, mas quero, porém, ver outras mulheres que o queiram
poderem chegar a este estágio de poder. Lutarei por elas,
com elas! Porém, não só por serem mulheres,
mas por serem mulheres determinadas e por serem, é claro,
cidadãs com direitos iguais aos dos homens de atingirem
os postos mais destacados. Não defenderia nunca o poder
para aquelas que seguem, sem críticas, os mesmos passos
dos homens. O modelo patriarcal, hegemônico, competitivo,
classista, rápido e descartável, não deveria
ser transplantado e assumido pelas mulheres, como estamos vendo
ocorrer. Não o aceito nem para os homens! Defendo um
modelo para o feminino, aquele a ser reivindicado como seu pelas
mulheres, um que tenha como valores principais: a justiça,
a solidariedade, a pluralidade, a afetuosidade e a amor- ocio-sidade.
Cristina
Loyola – diretora do Hospital Escola São
Francisco de Assis
Uma vez alcançados os postos de direção o
preconceito joga a favor das mulheres, os homens procuram a gentileza.
As mulheres como interlocutoras e críticas nestes grupos,
são as mais atentas e muito duras.
Maria Fernanda Quintela – diretora do Instituto
de Biologia
O
fato das mulheres estarem à frente de algumas unidades
num centro que tradicionalmente é masculino, é o
reflexo da evolução do papel da mulher na sociedade
e no reconhecimento de sua competência.
No entanto percebo no dia-a-dia, que o poder efetivamente em termos
do Centro, ainda está na mão dos homens. Há
necessidade de se ultrapassarem ainda algumas barreiras nas relações
de poder tradicionalmente estabelecidas, que acredito que só
irá acontecer ao longo do tempo, á medida em que
os homens entendam que a competência é independente
do sexo e o que muda é a forma de se exercer competência
e o poder.
Andréa
Ramalho – diretora do Instituto de Nutrição
Josué de Castro
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Apesar
das constatações sobre as diferenças entre
homens e mulheres nos mais variados aspectos de suas vidas, merecendo
destaque as atividades profissionais, elas não são
tão facilmente identificáveis no meio acadêmico.
A vida acadêmica é pautada pelo mérito e este
uma vez conquistado, faculta o reconhecimento a quem investe no
aprimoramento.
Diferentemente de outros segmentos do mercado de trabalho onde
se constata disparidades salariais entre homens e mulheres, no
meio acadêmico isso não ocorre desta maneira a medida
que existe uma carreira definida pautada no desempenho, não
se identificando dificuldades adicionais na convivência
entre grupos. Assim, academia é um dos poucos locais onde
a mulher pode desenvolver e expressar todo seu potencial de capacidade
e competitividade em harmonia com sua feminilidade.
Miriam Struchiner – diretora do Núcleo
de Tecnologia Educacional para a Saúde (NUTES)
É
uma unidade do CCS cuja presença feminina é majoritária,
especialmente por conta da relação do nosso núcleo
com o campo da Educação, tradicionalmente ocupado
por mulheres. Ao longo dos anos e em sintonia com todas as conquistas
e mudanças que têm influenciado a condição
masculina e feminina na sociedade, tem sido possível construir
no NUTES uma convivência e relações de trabalho
que superam conflitos de gênero e que contam com a dinâmica,
o compromisso e a combatividade do conjunto do seu corpo de profissionais.
Maria
Antonieta R. Tyrrell - Diretora da Escola de Enfermagem
Anna Nery
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A
Escola de Enfermagem Anna Nery da UFRJ, vem sendo dirigida por
ilustres professoras, mulheres guerreiras e a todas elas, a atual
direção tem o prazer de homenagear no Dia Internacional
da Mulher. Principalmente neste ano em que a Escola completa seus
83 anos à serviço da vida da população
brasileira.
Dirigir a Escola de Enfermagem Anna Nery é a maior honra
e conquista da minha vida profissional e penso ser uma conquista
de toda enfermeira, em especial pelo reconhecido PAN – Padrão
Anna Nery.
Estar à frente de uma unidade como a Escola significa fortalecer
uma postura ética, que se traduz no cumprimento da responsabilidade
inerente à gestão de qualidade de uma Unidade tradicional.
A Escola é nacional e internacionalmente reconhecida como
sendo de vanguarda na implantação de um modelo de
enfermagem à frente de seu tempo com ênfase científica,
tais atributos reforçam o legado deixado por nossa fundadora,
a ilustre vitoriana Miss Florence Nightrigale, que tem como premissa
entender a enfermagem “como a mais bela das artes”.
Defendemos
a formação do profissional na perspectiva de inclusão
e de esperança num projeto de desenvolvimento social com
soberania, democracia, valorização do trabalho e
geração de renda. O modelo econômico social
que apresenta essas características contribuiu para a fragmentar
e precarizar ainda mais o trabalho das mulheres no Brasil, refletindo
na situação de saúde e qualidade de vida
do país.
Por isso, posso afirmar, que sempre farei parte do movimento que
defende os princípios fundamentais no trabalho, como está
instituído e aprovado na Constituição de
1998, bem como no Sistema Único de Saúde (SUS).
Rejeitamos a feminização da pobreza, discriminação
e a sub valorização das mulheres mesmo que estas
práticas tenham adquirido outras formas ou nuances, por
esta razão estamos em permanente acompanhamento e vigilância
parabenizamos a todas as mulheres e a todas as enfermeiras da
UFRJ.
Sônia
Soares Costa – diretora do Núcleo de
Pesquisas de Produtos Naturais
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Estou
à frente da direção do NPPN há quase
dois anos e esta é a minha primeira experiência no
cargo. Durante este período, tenho tido várias ocasiões
de me relacionar, profissionalmente, com outras autoridades no
CCS, sejam elas do sexo feminino ou masculino. As experiências
que tenho vivenciado me deixam crer que o cargo de direção,
exercido por uma mulher em um ambiente de franca maioria masculina,
exige da mulher uma certa exteriorização do seu
lado masculino para conseguir dialogar com o seu interlocutor
em situações onde a pressão é utilizada
como argumento. Muitas vezes, a sensibilidade e a maneira feminina
de encarar o mundo são percebidos, erroneamente, como sinais
de fragilidade pelo interlocutor masculino. Muitos se esquecem
de que a força feminina não se expressa, naturalmente,
pela dominação.
Muitos se esquecem que as mulheres em geral não desistem
facilmente de uma idéia, de um projeto, de uma intenção.
São capazes de uma grande tenacidade. Nossas armas, desenvolvidas
desde os primórdios da humanidade, certamente não
são as mesmas usadas pelos nossos colegas e parceiros.
É muito freqüente constatar que uma mulher, quando
ocupa um cargo de direção, assume esta responsabilidade
com um extremo desvelo frente à sua comunidade. Talvez
o faça até por uma questão puramente cultural.
Historicamente, a mulher deve responder pelo bem estar da sua
coletividade, que começa com a sua própria família,
ao se ocupar da sobrevivência de sua prole. E todos sabemos
que trabalhar pelo coletivo, respeitando a diversidade e o potencial
de cada um, não é uma tarefa fácil.
Acredito que, independente de pertencermos ao gênero feminino
ou masculino, todo relacionamento no interior de uma comunidade,
principalmente universitária, deve se basear no respeito
à diferença e na busca do bem comum. Homens e mulheres
se complementam no modo de encarar o mundo e seus problemas. A
dominação do masculino sobre o feminino ou vice-versa
conduz ao empobrecimento geral da nossa sociedade. A estratégia
consiste em tirar proveito desta complementaridade, na diferença,
para atingir um certo grau de plenitude.
Ângela
Lopes – diretora do Instituto de Microbiologia
professor Paulo de Góes (IMPPG)
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Recentemente
uma atriz negra recebeu um Oscar de melhor atriz. Perguntada em
como se sentia a respeito de ser a primeira atriz negra a ganhar
o Oscar, ela falou que entendia ter ganho o prêmio de melhor
atriz e não o de melhor atriz negra. Realmente há
uma grande diferença entre as duas sentenças. Muito
mal comparando, no mais, na maioria das vezes eu não me
vejo como uma mulher no cargo de direção do Instituto
de Microbiologia Prof. Paulo de Góes (IMPPG), mas apenas
como uma pessoa neste cargo. Entretanto, basta pensar um pouco
no número de mulheres em cargos de direção
na UFRJ, para ver que ainda somos exceção. De fato,
já existiram duas diretoras anteriormente no IMPPG, que
eram vice-diretoras e se tornaram diretoras por vacância
e, mesmo assim, por alguns meses. Desta maneira, eu estou sendo
a primeira diretora eleita especificamente para o cargo no IMPPG.
De modo semelhante, ainda existem muitas Unidades na UFRJ que
nunca foram dirigidas por mulheres, mesmo quando o seu número
se iguala ou até ultrapassa ao dos homens.
No início não foi muito fácil, porque alguns
poucos colegas docentes, funcionários e alunos (do sexo
masculino em sua maioria) tiveram condutas de desafio, comparável
ao de crianças e adolescentes, quando resolvem se rebelar
contra os pais. Um amigo psiquiatra comparou o comportamento coletivo
do corpo social do IMPPG, em relação à minha
pessoa, como o de filhos ávidos por atenção.
Não sei se a descrição procede, mas o sentimento
de responsabilidade em relação a tantas pessoas
é, sem dúvida, um grande desafio. Afinal, somos
sessenta docentes, sessenta funcionários e algumas centenas
de alunos, incluindo os de pós-graduação
e os estagiários de graduação. Depois de
algum tempo, as coisas começaram a se acalmar, todos se
acostumando à nova realidade, que hoje não tem mais
nada de nova, após três anos e quatro meses de mandato.
Pesa a meu favor o fato de, no IMPPG, o número de mulheres
ser bem maior do que a de homens, tanto entre docentes, quanto
entre funcionários e alunos. Vale ainda ressaltar que as
mulheres do IMPPG vêm ocupando, com bastante freqüência,
cargos relevantes, como chefes dos departamentos, coordenadoras
de graduação e de pós-graduação,
etc. Acrescento o fato de que as mulheres docentes do IMPPG são,
na sua quase totalidade, extremamente produtivas, sendo algumas
importantes cientistas, com grande projeção nacional
e internacional.
A carreira
acadêmica, em sua plenitude, é particularmente difícil
para as mulheres que têm filhos. É tarefa de leoa
conciliar os cuidados com os filhos, com todo o trabalho exigido
para se manter um laboratório funcionando, ter uma bolsa
de produtividade do CNPq, orientar os alunos, se manter atualizada,
lecionar, corrigir provas, etc. Se somarmos a tudo isso pesadas
atividades administrativas e de gestão, aí realmente
o dia-dia pode ser estafante. Perdemos boa parte dos fins de semana
e das férias, com grandes prejuízos para a vida
familiar, além daqueles em relação a todos
os outros aspectos mencionados da vida acadêmica. Acho também
que as mulheres em cargos de direção, em média,
se desgastam mais do que os homens, por se esforçarem tanto
para serem justas e atenciosas com todos.
O fato de ser minoria entre os diretores do Centro de Ciências
da Saúde e da Universidade, como um todo, nunca me incomodou.
Nunca me senti discriminada neste sentido. Pelo contrário,
quase sempre nossos colegas do sexo masculino são extremamente
corteses conosco; não raramente muito mais do que são
entre eles. Devo deixar aqui bem claro que a cortesia e o respeito
têm sido a tônica dentro de nossa Universidade, fato
pelo qual estranhamos tanto quando esse padrão é,
mesmo que momentaneamente, quebrado.
Assim, de um modo geral, não vejo muita diferença
entre ser mulher ou homem em cargo de direção. Vejo
como diferença a dedicação de cada um, independentemente
do gênero.
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