Ciência sem Fronteiras
Por Taisa Gamboa
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O
Brasil é uma nação criada por muitos povos. De acordo
com o médico psiquiatra da UFRJ, Sérgio Levcovtiz, desde
a chegada dos primeiros colonizadores ao Brasil, houve uma assimilação
da cultura local. Este fator viabilizou a formação de um
mosaico sócio-cultural multifacetado, que os diferencia das demais
nações do mundo.
Segundo o dicionário Aurélio, o conceito de nação
está intimamente ligado a um agrupamento humano, em geral numeroso,
cujos membros fixados num território, ligador por laços
históricos, culturais, econômicos e lingüísticos.
Pátria, por sua vez, significa o país onde nascemos.
Compreender estes dois conceitos é entender o motivo pelo qual
muitos imigrantes adotam o Brasil como sua pátria-mãe. Aqui,
eles reconhecem elementos de seus países de origem, estruturados
de maneira mais flexíveis, o que lhes desperta um sentimento de
pertencimento, de brasilidade. Nosso país é miscigenado
e aqui as diferenças sempre se somaram, produzindo uma nação
de vários povos, que contribuem para o desenvolvimento sócio-cultural
e científico do Brasil.
O chefe do departamento de Bioquímica do Instituto Ciências
Biomédicas, Leopoldo de Meis, e a atual diretora da Escola de Enfermagem
Anna Nery, Maria Antonieta Rubio Tyrrell são dois exemplos dessa
transferência de pátria.
Egípcio de nascimento, e italiano de criação, o chefe
do Departamento de Bioquímica do ICB/UFRJ, Leopoldo de Meis, chegou
ao Brasil com nove anos. Seus pais eram músicos e ficaram sem trabalho
ao final da 2ª Guerra Mundial. Em resposta a um convite, mudaram-se
para o Brasil, onde se apresentaram durante um ano, e fixaram moradia
no país.
De Meis diferencia-se em sua docência pela preocupação
com o desinteresse dos alunos de ensino médio em aprender a ciência,
e com as dificuldades dos universitários em explicar o que é
um método científico, ele encontrou uma fórmula de
mesclar ciência e arte.
Em dois livros ricamente ilustrados, o coordenador do Instituto de Bioquímica
Médica da UFRJ mescla conhecimento científico e arte visual.
Os assuntos abordados são fundamentais para o entendimento da história
da ciência e todas as edições são distribuídas
gratuitamente na rede pública de Ensino.
Além dos livros, o professor lançou dois DVDs, dentro de
uma série denominada Ciência e Arte, com o intuito de enriquecer
o trabalho apresentado nos livros com som e imagens em movimento. O professor
também dirige uma peça teatral, já apresentada em
30 cidades do Brasil, que traz a história do desenvolvimento científico
desde a invenção da penicilina até os dias atuais.
É dessa forma que Leopoldo de Meis vem contribuindo para o desenvolvimento
de novos métodos de ensino da ciência no Brasil. Segundo
ele, na América Latina como um todo, não existem culturas
milenares arraigadas o suficiente para prejudicar o desenvolvimento da
ciência, ao contrário do que ocorre em países da Europa,
por exemplo. “Aqui não temos diferenças sociais entre
homens e mulheres, ou questões religiosas e raciais fortes. Um
pronunciamento da Igreja afirmando ser contra o aborto é uma pressão
que só funciona em Roma, no Brasil esta discussão é
mais diluída. Nos adaptamos com maior facilidade às novas
descobertas e isso facilita o desenvolvimento da ciência”,
completou.
O professor reforça ainda que o conceito de nação
está fadado ao término, pois existem culturas distintas,
convivendo entre si, em todo o mundo. E esse é um dos motivos pelos
quais de Meis se diz um brasileiro de coração. Ele adotou
o Brasil como pátria aos 18 anos de idade, e se sente feliz por
desenvolver a ciência aqui. Embora receba convites de diversos colegas
no mundo inteiro, Leopoldo de Méis, diz que prefere desenvolver
seus trabalhos científicos no Brasil.
Em 1974, a jovem peruana Maria Antonieta Rubio Tyrrell chegou ao Brasil
para realizar o curso de mestrado em Enfermagem na Escola de Enfermagem
Anna Nery (EEAN), da qual é a atual diretora. Na época,
o governo do Peru estava promovendo uma Reforma Educativa no país
e a estudante integrava a Comissão de Especialistas de Enfermagem,
da Direção Superior do Ministério da Educação.
Nascida na cidade de Chulucanas, no Estado de Piura, localizado na região
norte do Peru, em 1975, a professora Tyrrel se casou, teve três
filhos e conseguiu assim, constituir uma família bem estruturada
no Brasil. Ela mantém fortes laços familiares e de amizade
em seu país de origem; profissionalmente desenvolve atividades
e parcerias para o desenvolvimento de sua profissão e a melhoria
da qualidade de saúde e de vida dos povos.
Para a professora, sua pátria é seu país de origem,
onde estão as raízes diretas de sua família. Ao contrário,
sua nação é o Brasil, país onde teve grande
aceitação e afinidade com o povo, sua cultura, e seu modo
de inserção política, social e cientifica. Segundo
ela, esses conceitos a influenciam quanto à visão de mundo,
missão profissional e compromisso político-social. “A
Ciência não pode ter fronteiras, ela tem que estar a serviço
da humanidade e do planeta como um todo”, completa.
Em 1977, Tyrrel se inseriu no quadro docente da unidade, onde permanece
até hoje, como professora titular, livre docente da UFRJ. Em 1994,
ela obteve o título de doutora em enfermagem na mesma instituição.
E, no ano de 1997 naturalizou-se brasileira. Essas qualificações
e as funções e cargos inerentes a carreira no magistério
superior implicam no desenvolvimento de uma serie de atividades que a
obrigam a se afastar do Brasil. São compromissos relacionados a
consultorias, assessorias, cursos/eventos e convênios que a EEAN/UFRJ
realiza em nível internacional.
Hoje, ela é pesquisadora do CNPq 1 “C”, Consultora
da CAPES e do CNPq e fundadora dos Núcleos de Pesquisa de Enfermagem
e Saúde da Mulher e da Criança (NUPESM e NUPESC) do Departamento
de Enfermagem Materno-Infantil da EEAN. Membro da Diretoria da Asociación
Latinoamericana de Escuelas y Facultades de Enfermería (ALADEFE/UDUAL),
desempenhando o cargo de Vocal de Investigaciones, ela contribui
decisivamente para o desenvolvimento da ciência brasileira e mundial.
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