Ciência e Vida
24.11.2005

Ciência sem Fronteiras
Por Taisa Gamboa

O Brasil é uma nação criada por muitos povos. De acordo com o médico psiquiatra da UFRJ, Sérgio Levcovtiz, desde a chegada dos primeiros colonizadores ao Brasil, houve uma assimilação da cultura local. Este fator viabilizou a formação de um mosaico sócio-cultural multifacetado, que os diferencia das demais nações do mundo.

Segundo o dicionário Aurélio, o conceito de nação está intimamente ligado a um agrupamento humano, em geral numeroso, cujos membros fixados num território, ligador por laços históricos, culturais, econômicos e lingüísticos. Pátria, por sua vez, significa o país onde nascemos.

Compreender estes dois conceitos é entender o motivo pelo qual muitos imigrantes adotam o Brasil como sua pátria-mãe. Aqui, eles reconhecem elementos de seus países de origem, estruturados de maneira mais flexíveis, o que lhes desperta um sentimento de pertencimento, de brasilidade. Nosso país é miscigenado e aqui as diferenças sempre se somaram, produzindo uma nação de vários povos, que contribuem para o desenvolvimento sócio-cultural e científico do Brasil.

O chefe do departamento de Bioquímica do Instituto Ciências Biomédicas, Leopoldo de Meis, e a atual diretora da Escola de Enfermagem Anna Nery, Maria Antonieta Rubio Tyrrell são dois exemplos dessa transferência de pátria.

Egípcio de nascimento, e italiano de criação, o chefe do Departamento de Bioquímica do ICB/UFRJ, Leopoldo de Meis, chegou ao Brasil com nove anos. Seus pais eram músicos e ficaram sem trabalho ao final da 2ª Guerra Mundial. Em resposta a um convite, mudaram-se para o Brasil, onde se apresentaram durante um ano, e fixaram moradia no país.

De Meis diferencia-se em sua docência pela preocupação com o desinteresse dos alunos de ensino médio em aprender a ciência, e com as dificuldades dos universitários em explicar o que é um método científico, ele encontrou uma fórmula de mesclar ciência e arte.

Em dois livros ricamente ilustrados, o coordenador do Instituto de Bioquímica Médica da UFRJ mescla conhecimento científico e arte visual. Os assuntos abordados são fundamentais para o entendimento da história da ciência e todas as edições são distribuídas gratuitamente na rede pública de Ensino.

Além dos livros, o professor lançou dois DVDs, dentro de uma série denominada Ciência e Arte, com o intuito de enriquecer o trabalho apresentado nos livros com som e imagens em movimento. O professor também dirige uma peça teatral, já apresentada em 30 cidades do Brasil, que traz a história do desenvolvimento científico desde a invenção da penicilina até os dias atuais.

É dessa forma que Leopoldo de Meis vem contribuindo para o desenvolvimento de novos métodos de ensino da ciência no Brasil. Segundo ele, na América Latina como um todo, não existem culturas milenares arraigadas o suficiente para prejudicar o desenvolvimento da ciência, ao contrário do que ocorre em países da Europa, por exemplo. “Aqui não temos diferenças sociais entre homens e mulheres, ou questões religiosas e raciais fortes. Um pronunciamento da Igreja afirmando ser contra o aborto é uma pressão que só funciona em Roma, no Brasil esta discussão é mais diluída. Nos adaptamos com maior facilidade às novas descobertas e isso facilita o desenvolvimento da ciência”, completou.

O professor reforça ainda que o conceito de nação está fadado ao término, pois existem culturas distintas, convivendo entre si, em todo o mundo. E esse é um dos motivos pelos quais de Meis se diz um brasileiro de coração. Ele adotou o Brasil como pátria aos 18 anos de idade, e se sente feliz por desenvolver a ciência aqui. Embora receba convites de diversos colegas no mundo inteiro, Leopoldo de Méis, diz que prefere desenvolver seus trabalhos científicos no Brasil.

Em 1974, a jovem peruana Maria Antonieta Rubio Tyrrell chegou ao Brasil para realizar o curso de mestrado em Enfermagem na Escola de Enfermagem Anna Nery (EEAN), da qual é a atual diretora. Na época, o governo do Peru estava promovendo uma Reforma Educativa no país e a estudante integrava a Comissão de Especialistas de Enfermagem, da Direção Superior do Ministério da Educação.

Nascida na cidade de Chulucanas, no Estado de Piura, localizado na região norte do Peru, em 1975, a professora Tyrrel se casou, teve três filhos e conseguiu assim, constituir uma família bem estruturada no Brasil. Ela mantém fortes laços familiares e de amizade em seu país de origem; profissionalmente desenvolve atividades e parcerias para o desenvolvimento de sua profissão e a melhoria da qualidade de saúde e de vida dos povos.

Para a professora, sua pátria é seu país de origem, onde estão as raízes diretas de sua família. Ao contrário, sua nação é o Brasil, país onde teve grande aceitação e afinidade com o povo, sua cultura, e seu modo de inserção política, social e cientifica. Segundo ela, esses conceitos a influenciam quanto à visão de mundo, missão profissional e compromisso político-social. “A Ciência não pode ter fronteiras, ela tem que estar a serviço da humanidade e do planeta como um todo”, completa.

Em 1977, Tyrrel se inseriu no quadro docente da unidade, onde permanece até hoje, como professora titular, livre docente da UFRJ. Em 1994, ela obteve o título de doutora em enfermagem na mesma instituição. E, no ano de 1997 naturalizou-se brasileira. Essas qualificações e as funções e cargos inerentes a carreira no magistério superior implicam no desenvolvimento de uma serie de atividades que a obrigam a se afastar do Brasil. São compromissos relacionados a consultorias, assessorias, cursos/eventos e convênios que a EEAN/UFRJ realiza em nível internacional.

Hoje, ela é pesquisadora do CNPq 1 “C”, Consultora da CAPES e do CNPq e fundadora dos Núcleos de Pesquisa de Enfermagem e Saúde da Mulher e da Criança (NUPESM e NUPESC) do Departamento de Enfermagem Materno-Infantil da EEAN. Membro da Diretoria da Asociación Latinoamericana de Escuelas y Facultades de Enfermería (ALADEFE/UDUAL), desempenhando o cargo de Vocal de Investigaciones, ela contribui decisivamente para o desenvolvimento da ciência brasileira e mundial.


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