Pioneiro
em clonagem humana erra e renuncia
Cientista
quebra ética ao usar óvulos da própria equipe
O
cientista sul-coreano Wwang Woo-Suk, o primeiro a clonar um embrião
humano, afastou-se de suas funções, após admitir
a utilização de óvulos dos próprios integrantes
de sua equipe e remuneração às doadoras, o que infringe
as regras éticas neste campo da genética e contradiz declarações
previas do Governo do país.
Hwang afirmou que cientistas de sua equipe doaram os próprios óvulos
sem sua permissão e que outras mulheres receberam pagamento por
óvulos usados no projeto, também sem seu conhecimento.
Com status de herói nacional por ter sido o primeiro homem a clonar
um embrião humano, Hwang admitiu ter mentido quando questionamentos
éticos começaram a surgir no ano passado sobre a origem
dos óvulos humanos usados em sua pesquisa.
“Lamento profundamente ter de evocar estes pontos vergonhosos e
miseráveis. Peço uma vez mais sinceramente perdão
pelo transtorno provocado à Coréia do Sul e ao mundo”,
declarou o cientista em sua primeira entrevista coletiva sobre o assunto.
“A partir de hoje, afasto-me da presidência da Plataforma
Mundial das Células –Tronco (primeiro banco de células-tronco
com vocação internacional aberto no dia 19 outubro, em Seul)
e de todas as outras responsabilidades oficiais que tinha no Governo e
nas organizações sociais. Esta é minha maneira de
mostrar arrependimento”, frisou.
O Governo sul-coreano havia eximido o especialista, considerado um ídolo
na Coréia do Sul, de qualquer infração ética.
“Não houve violações dos princípios
da ética na obtenção de óvulos humanos para
as pesquisas”, declarara ontem, pouco antes da entrevista de Hwang
Woo-Suk, um porta-voz do Ministério Sul-Coreano de Assuntos de
saúde e Sociais.
As criticas ao programa de Hwang haviam se acentuado com a publicação,
na imprensa local, de informações que revelavam que o cientista
procurara óvulos necessários para as pesquisas entre cientistas
de sua equipe mediante pagamento, algo que contradiz os princípios
éticos reconhecidos internacionalmente.
Pesquisador
diz que calou para proteger as colegas
As
experiências de clonagem, realizadas por Hwang, aconteceram na Coréia
do Sul antes de o país adotar a lei sobre bioética que proíbe
o comercio de óvulos humanos.
O porta-voz do ministério tinha reconhecido antes das declarações
de Hwang que duas integrantes de sua equipe haviam lhe fornecido óvulos,
lembrando que a atitude não tivera fins comerciais e que o cientista
não estava ciente do caso.
“As doadoras não foram forçadas ou receberam qualquer
tipo de solicitação, mesmo porque nada foi feito com intuito
comercial”, afirmou o porta-voz, admitindo que somas em dinheiro
foram recebidas, mas as quantias eram destinadas a cobrir gastos, sem
que Hwang estivesse ciente das retribuições.
A clonagem, tanto reprodutiva quanto cientifica, requer uma mulher disposta
a ceder um óvulo e um doador de material genético(mulheres,
homens ou crianças).
Em fevereiro de 2004, Hwang e sua equipe de cientistas anunciaram a primeira
clonagem de um embrião humano da historia. No mesmo ano eles mostraram
ao mundo o primeiro cão clonado do mundo, evento considerado e
mais improtante pela revista Time.
Em maio de 2004, o influente semanário cientifico Nature levantou
questões éticas sobre a origem dos óvulos usados
por Hwang. Interrogado pela publicação, na época
Hwang negou que cientistas de sua equipe tenham doado seus próprios
óvulos.
Logo depois ele soube da verdade e se manteve em silencio por mais de
um ano at[e que Gerald Schatten, proeminente pesquisador da Universidade
de Pittsburgh, concluiu a colaboração de 20 meses com ele,
e abriu o segredo sobre as doações, acusado Hwang de mentir
sobre elas.
Segundo padrões éticos internacionalmente aceitos na medicina,
os pesquisadores são alertados contra o recebimento de óvulos
de membros de suas próprias equipes de pesquisa, que estariam em
uma relação de dependência e vulnerável a pressões.
Numa entrevista coletiva, Hwang disse que quando duas cientistas lhe ofereceram
seus óvulos, ele os rejeitou e que depois, usando nomes falsos,
e sem seu conhecimento elas fizeram as doações em 2003.
Ele admitiu que depois soube da verdade e disse ter mentido a Nature a
pedido das mulheres.
“Eu não poderia ignorar o forte apelo das pesquisadoras para
proteger sua privacidade”, afirmou Hwang.
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