Saúde em Foco
01.12.2005

Pioneiro em clonagem humana erra e renuncia
Cientista quebra ética ao usar óvulos da própria equipe

O cientista sul-coreano Wwang Woo-Suk, o primeiro a clonar um embrião humano, afastou-se de suas funções, após admitir a utilização de óvulos dos próprios integrantes de sua equipe e remuneração às doadoras, o que infringe as regras éticas neste campo da genética e contradiz declarações previas do Governo do país.

Hwang afirmou que cientistas de sua equipe doaram os próprios óvulos sem sua permissão e que outras mulheres receberam pagamento por óvulos usados no projeto, também sem seu conhecimento.

Com status de herói nacional por ter sido o primeiro homem a clonar um embrião humano, Hwang admitiu ter mentido quando questionamentos éticos começaram a surgir no ano passado sobre a origem dos óvulos humanos usados em sua pesquisa.

“Lamento profundamente ter de evocar estes pontos vergonhosos e miseráveis. Peço uma vez mais sinceramente perdão pelo transtorno provocado à Coréia do Sul e ao mundo”, declarou o cientista em sua primeira entrevista coletiva sobre o assunto.

“A partir de hoje, afasto-me da presidência da Plataforma Mundial das Células –Tronco (primeiro banco de células-tronco com vocação internacional aberto no dia 19 outubro, em Seul) e de todas as outras responsabilidades oficiais que tinha no Governo e nas organizações sociais. Esta é minha maneira de mostrar arrependimento”, frisou.

O Governo sul-coreano havia eximido o especialista, considerado um ídolo na Coréia do Sul, de qualquer infração ética.

“Não houve violações dos princípios da ética na obtenção de óvulos humanos para as pesquisas”, declarara ontem, pouco antes da entrevista de Hwang Woo-Suk, um porta-voz do Ministério Sul-Coreano de Assuntos de saúde e Sociais.

As criticas ao programa de Hwang haviam se acentuado com a publicação, na imprensa local, de informações que revelavam que o cientista procurara óvulos necessários para as pesquisas entre cientistas de sua equipe mediante pagamento, algo que contradiz os princípios éticos reconhecidos internacionalmente.

Pesquisador diz que calou para proteger as colegas

As experiências de clonagem, realizadas por Hwang, aconteceram na Coréia do Sul antes de o país adotar a lei sobre bioética que proíbe o comercio de óvulos humanos.

O porta-voz do ministério tinha reconhecido antes das declarações de Hwang que duas integrantes de sua equipe haviam lhe fornecido óvulos, lembrando que a atitude não tivera fins comerciais e que o cientista não estava ciente do caso.

“As doadoras não foram forçadas ou receberam qualquer tipo de solicitação, mesmo porque nada foi feito com intuito comercial”, afirmou o porta-voz, admitindo que somas em dinheiro foram recebidas, mas as quantias eram destinadas a cobrir gastos, sem que Hwang estivesse ciente das retribuições.

A clonagem, tanto reprodutiva quanto cientifica, requer uma mulher disposta a ceder um óvulo e um doador de material genético(mulheres, homens ou crianças).

Em fevereiro de 2004, Hwang e sua equipe de cientistas anunciaram a primeira clonagem de um embrião humano da historia. No mesmo ano eles mostraram ao mundo o primeiro cão clonado do mundo, evento considerado e mais improtante pela revista Time.


Em maio de 2004, o influente semanário cientifico Nature levantou questões éticas sobre a origem dos óvulos usados por Hwang. Interrogado pela publicação, na época Hwang negou que cientistas de sua equipe tenham doado seus próprios óvulos.

Logo depois ele soube da verdade e se manteve em silencio por mais de um ano at[e que Gerald Schatten, proeminente pesquisador da Universidade de Pittsburgh, concluiu a colaboração de 20 meses com ele, e abriu o segredo sobre as doações, acusado Hwang de mentir sobre elas.

Segundo padrões éticos internacionalmente aceitos na medicina, os pesquisadores são alertados contra o recebimento de óvulos de membros de suas próprias equipes de pesquisa, que estariam em uma relação de dependência e vulnerável a pressões.

Numa entrevista coletiva, Hwang disse que quando duas cientistas lhe ofereceram seus óvulos, ele os rejeitou e que depois, usando nomes falsos, e sem seu conhecimento elas fizeram as doações em 2003.

Ele admitiu que depois soube da verdade e disse ter mentido a Nature a pedido das mulheres.
“Eu não poderia ignorar o forte apelo das pesquisadoras para proteger sua privacidade”, afirmou Hwang.


Notícias anteriores:

• 24/11/2005 - MP não quer pesquisa com embrião
• 17/11/2005 - Remédio para pressão aumenta risco de diabetes
• 10/11/2005 - Achada molécula que capta moléculas de gordura em animais