Remédio
para pressão aumenta risco de diabetes
Drogas mais utilizadas no controle da hipertensão
causam diabetes como efeito colateral. De cada 10 pacientes, seis poderão
ter a doença em 5 anos
Diário de São Paulo
26/10/2005
Por Regiane Monteiro
Os remédios mais utilizados para o tratamento da hipertensão
podem provocar diabetes. A resistência à insulina como efeito
colateral é um dos motivos que têm levado os especialistas
a rever os principais tratamentos para o controle da pressão alta.
De acordo com os médicos, as combinações mais utilizadas
(betabloqueadores + diuréticos e, em escala menor, os antagonistas
de canais de cálcio) podem levar à doença.
De acordo com um estudo com mais de 19 mil pessoas, divulgado em setembro
durante Congresso da Sociedade Européia de Cardiologia, as chances
de um paciente ter diabetes utilizando betabloqueadores aumentaram em
cerca de 30%. Segundo o cardiologista Willi Oigman, professor titular
de Clínica Médica da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ), de cada 10 pacientes com pressão alta que utilizam a combinação
betabloqueadores mais diuréticos, seis poderão ter diabetes
ao final de cinco anos de tratamento.
Para Oigman, a lista de medicamentos para hipertensão do Ministério
da Saúde deveria ser alterada. “Acho que da mesma forma que
o governo investe muito no tratamento da Aids, por exemplo, deveria fazer
o mesmo com as doenças cardiovasculares”, afirma. Atualmente,
o Ministério da Saúde fornece três medicamentos (betabloqueadores,
diuréticos e inibidores de cálcio). Mas os municípios
podem decidir pela compra de outras opções disponíveis
no mercado.
Para o cardiologista Carlos Alberto Machado, diretor do Fundo de Aperfeiçoamento
e Pesquisa em Cardiologia (Funcor), os betabloqueadores não são
primeira opção para o tratamento da hipertensão.
Mas devem ser indicados para determinados pacientes. “Quem já
passou por um infarto, derrame ou tem insuficiência cardíaca
e sofre de pressão alta deve usar a combinação betabloqueadores
mais diuréticos”, explica Machado.
Segundo ele, o tratamento da hipertensão deve ser feito com a combinação
de drogas. E cada perfil de paciente terá uma específica
para o seu caso. Por esse motivo, pacientes com doenças cardíacas
associadas à hipertensão podem se beneficiar dos betabloqueadores,
que atuam diminuindo a freqüência cardíaca e, conseqüentemente,
a pressão arterial.
Para quem não está nesse caso, no entanto, as combinações
de diuréticos com inibidores de cálcio e os inibidores de
angiotensina devem ser preferidas, pelo menor risco de efeitos colaterais.
Nos estudos realizados até agora foi observado uma redução
dos casos de pacientes com diabetes quando eles deixavam de utilizar os
betabloqueadores e passavam a usar drogas mais modernas. “Essa redução
chegou a 25%”, diz Oigman. “Faz muita diferença para
quem tem hipertensão arterial”, afirma.
Revisão
A assessoria de imprensa do Ministério da Saúde informou
que o protocolo que determina as drogas disponíveis para tratar
a hipertensão sofreu nova revisão em 2003 e deve ser reformulado
novamente no fim deste ano. O Ministério afirma também que
os municípios podem decidir pela compra de outros remédios,
não necessariamente os oferecidos pelo SUS.
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