Saúde em Foco
17.11.2005

Remédio para pressão aumenta risco de diabetes
Drogas mais utilizadas no controle da hipertensão causam diabetes como efeito colateral. De cada 10 pacientes, seis poderão ter a doença em 5 anos

Diário de São Paulo
26/10/2005
Por Regiane Monteiro

Os remédios mais utilizados para o tratamento da hipertensão podem provocar diabetes. A resistência à insulina como efeito colateral é um dos motivos que têm levado os especialistas a rever os principais tratamentos para o controle da pressão alta. De acordo com os médicos, as combinações mais utilizadas (betabloqueadores + diuréticos e, em escala menor, os antagonistas de canais de cálcio) podem levar à doença.

De acordo com um estudo com mais de 19 mil pessoas, divulgado em setembro durante Congresso da Sociedade Européia de Cardiologia, as chances de um paciente ter diabetes utilizando betabloqueadores aumentaram em cerca de 30%. Segundo o cardiologista Willi Oigman, professor titular de Clínica Médica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), de cada 10 pacientes com pressão alta que utilizam a combinação betabloqueadores mais diuréticos, seis poderão ter diabetes ao final de cinco anos de tratamento.

Para Oigman, a lista de medicamentos para hipertensão do Ministério da Saúde deveria ser alterada. “Acho que da mesma forma que o governo investe muito no tratamento da Aids, por exemplo, deveria fazer o mesmo com as doenças cardiovasculares”, afirma. Atualmente, o Ministério da Saúde fornece três medicamentos (betabloqueadores, diuréticos e inibidores de cálcio). Mas os municípios podem decidir pela compra de outras opções disponíveis no mercado.

Para o cardiologista Carlos Alberto Machado, diretor do Fundo de Aperfeiçoamento e Pesquisa em Cardiologia (Funcor), os betabloqueadores não são primeira opção para o tratamento da hipertensão. Mas devem ser indicados para determinados pacientes. “Quem já passou por um infarto, derrame ou tem insuficiência cardíaca e sofre de pressão alta deve usar a combinação betabloqueadores mais diuréticos”, explica Machado.

Segundo ele, o tratamento da hipertensão deve ser feito com a combinação de drogas. E cada perfil de paciente terá uma específica para o seu caso. Por esse motivo, pacientes com doenças cardíacas associadas à hipertensão podem se beneficiar dos betabloqueadores, que atuam diminuindo a freqüência cardíaca e, conseqüentemente, a pressão arterial.

Para quem não está nesse caso, no entanto, as combinações de diuréticos com inibidores de cálcio e os inibidores de angiotensina devem ser preferidas, pelo menor risco de efeitos colaterais. Nos estudos realizados até agora foi observado uma redução dos casos de pacientes com diabetes quando eles deixavam de utilizar os betabloqueadores e passavam a usar drogas mais modernas. “Essa redução chegou a 25%”, diz Oigman. “Faz muita diferença para quem tem hipertensão arterial”, afirma.

Revisão

A assessoria de imprensa do Ministério da Saúde informou que o protocolo que determina as drogas disponíveis para tratar a hipertensão sofreu nova revisão em 2003 e deve ser reformulado novamente no fim deste ano. O Ministério afirma também que os municípios podem decidir pela compra de outros remédios, não necessariamente os oferecidos pelo SUS.

Notícias anteriores:

• 10/11/2005 - Achada molécula que capta moléculas de gordura em animais
• 03/11/2005 - Poluição aumenta número de nascimentos de meninas em SP
• 27/10/2005 - Comissão de saúde faz nova vistoria no Souza Aguiar