"Este
tema deve ser encarado de frente. O caso do IPPMG é exemplar.
Isto já aconteceu outras vezes, com outro enfermeiro, alguns
anos atrás, que nem a família desconfiava de suas
atitudes "salvadoras" e psicopatas.
Só não
sei se tenho uma posição formada, porque muitos
são os profissionais de RH que têm um olhar bem
preconceituoso e eliminam candidatos pela aparência e
não pela possibilidade de doenças reais. Algumas
vezes torna-se difícil fazer uma hipótese diagnóstica
em entrevista, um psicopata, por exemplo, sabe muito bem dissimular
sua situação e conquistar pessoas, envolvendo-as.
Contudo, para trabalhar
em hospitais, cuja função primordial é
cuidar das vidas humanas, seria conveniente haver uma avaliação
mais cuidadosa, utilizando instrumentos da área da psicologia
de RH. Porém, uma entrevista psicológica nunca
será suficiente para evitar situações danosas
como esta ocorrida no IPPMG. O ideal é o acompanhamento
psicológico periódico.
Já que exames
clínicos são eliminatórios para admissão
em serviço publico, avaliações de saúde
mental não podem ser excluídas desse quesito,
especialmente para os profissionais que irão trabalhar
com cuidados a doentes, muitos deles em situações
graves."
|
|
"A avaliação
psicológica no processo de seleção de trabalhadores
deve ser feita no sentido de mão-dupla. Ou seja, não
é só para saber se o candidato está apto
a exercer determinada função, mas também
para que o empregador esclareça, informe sobre as atividades
preteridas.
O exame psicológico
é tão bom quando um exame clínico, e extremamente
necessário. Uma pessoa que esteja em delírio,
alucinação, um caso limite, não tem condições
de fazer discernimento. Porém, uma vez detectado algum
distúrbio, não é para eliminar o candidato
e sim, encaminhá-lo para tratamento. É importante
associar função e indivíduo. Melhorando
as condições de trabalho, melhoram-se todos os
trabalhadores.
A psiquiatria na
saúde mental precisa ser dos trabalhadores, e não
dos empregadores. Não se faz boa psiquiatria e boa saúde
mental adaptando o trabalhador ao trabalho. E não se
consegue fazer boa assistência ao trabalhador sem conhecer
as suas condições de trabalho, pois, desta forma,
o médico tende a individualizar o problema ou a culpar
o trabalhador pela dor que ele está sentindo.
No trabalho que é
vazio de significado, qualquer motivo aborrece e pode causar
danos; no trabalho que é pleno de significado, a pessoa
é capaz de suportar coisas intoleráveis de suportar
devido ao significado positivo que a atividade lhe proporciona.
O que dá sentido ao trabalho são os fatores sociais.
O caso do
técnico de enfermagem do IPPMG há, claramente,
a existência de um problema. Porém, crime é
crime! Não se pode associar distúrbio mental a
crime. Por maior que seja o problema do técnico, não
era suficientemente capaz de interferir no seu juízo
crítico - ele não estava delirando nem sendo determinado
por vozes. Ele fazia aquilo pelo sonho de ser médico,
que era frustrado, e que ele realizava, às escondidas,
como enfermeiro – o que, infelizmente, é bastante
freqüente em hospitais. O que ele cometeu foi um crime,
apesar de necessitar, certamente, de tratamento psicológico.
Porém, a função do acompanhamento psicológico
não é de polícia, então, ou se aceita
que as atitudes do técnico de enfermagem foram criminosas,
o que só pode ser combatido através do controle
da rotina, pois se tivesse médico presente, ele não
fazia isso. Esse problema só foi possível de ocorrer
devido ao fato de que, nos hospitais, os enfermeiros são
deixados sozinhos pelos médicos."
|