Ciência e Vida
20.10.2005

Caleidoscópio da Medicina
Por Vanessa Souza

O filósofo René Descartes, ao introduzir no pensamento ocidental a idéia de separação entre mente e corpo, estava criando um problema que se arrasta até os dias atuais, em todas as áreas do conhecimento. Da mente, cuidariam os psiquiatras. Do resto do corpo, outros especialistas.

Ao dedicar-se ao estudo pontual do organismo humano, a medicina ocidental acaba relegando a um segundo plano aspectos que são essenciais para a manutenção de uma boa saúde, como alimentação saudável, divisão equilibrada entre o trabalho e as atividades de lazer e a prática de exercícios físicos regulares. Além disso, ao destinar uma importância muito grande aos detalhes, a medicina ocidental cria superespecialistas que perdem um pouco da noção do todo.

A medicina ocidental é uma medicina de causa e efeito. Se uma infecção na garganta é causada por uma bactéria, ela vai ser tratada com antibiótico. Está baseada em estudos experimentais da bacteriologia, fisiologia, farmacologia e pesquisa clínica. A identificação do nome da doença é desejável antes do tratamento e as drogas usadas são compostas, principalmente, de químicos sintéticos.

Além das suas diversas drogas potentes, a medicina ocidental usa efetivamente a cirurgia para corrigir os danos devidos a trauma, desordens genéticas ou distúrbios orgânicos. Instrumentos sofisticados e computadores são utilizados para diagnosticar as desordens médicas. A terapia é geralmente direcionada ao local da lesão e raramente para aumentar a nutrição.

Porém, não são todos os problemas de saúde que podem ser resolvidos com mudanças alimentares e exercícios físicos e, por isso, as cirurgias têm seus méritos. Agora, se é possível uma solução sem um procedimento tão invasivo, então, essa outra solução deve ser prioritária.
Apesar das ponderações, a maioria dos médicos acredita que é possível uma integração entre medicina oriental e ocidental. A medicina acadêmica e a medicina alternativa não devem ser vistas como antagônicas, mas como complementares. “Não existe uma antítese. Há uma complementação, porque as duas abordagens têm suas limitações".

O Forum de Ciência e Cultura da UFRJ, de outubro a dezembro, promove um ciclo de palestras que apresenta a evolução da Medicina como ciência através da história, realçando a influência que recebeu e exerceu nas diversas formas de pensamento.

Entrevistada pelo Olhar Vital, a coordenadora do evento, doutora Maria Elizabeth C. de Castro, afirmou que entre os principais dilemas da medicina atual pode-se destacar o conceito de morte e seus limites, questões como eutanásia e aborto; o alto custo, principalmente quando se refere aos planos de saúde, que segmentam seus clientes, levando em conta idade e histórico saudável; e a desigual distribuição da tecnologia – “A medicina não existe para todos. Não é apenas uma ciência. É um setor econômico e Político”.

Um ponto importante a ser abordado é o da influência exercida pelas empresas multinacionais farmacêuticas no direcionamento das pesquisas médicas e no desenvolvimento e mercantilização de medicamentos.

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