Caleidoscópio
da Medicina
Por Vanessa Souza
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O
filósofo René Descartes, ao introduzir no pensamento ocidental
a idéia de separação entre mente e corpo, estava
criando um problema que se arrasta até os dias atuais, em todas
as áreas do conhecimento. Da mente, cuidariam os psiquiatras. Do
resto do corpo, outros especialistas.
Ao dedicar-se ao estudo pontual do organismo humano, a medicina ocidental
acaba relegando a um segundo plano aspectos que são essenciais
para a manutenção de uma boa saúde, como alimentação
saudável, divisão equilibrada entre o trabalho e as atividades
de lazer e a prática de exercícios físicos regulares.
Além disso, ao destinar uma importância muito grande aos
detalhes, a medicina ocidental cria superespecialistas que perdem um pouco
da noção do todo.
A medicina ocidental é uma medicina de causa e efeito. Se uma infecção
na garganta é causada por uma bactéria, ela vai ser tratada
com antibiótico. Está baseada em estudos experimentais da
bacteriologia, fisiologia, farmacologia e pesquisa clínica. A identificação
do nome da doença é desejável antes do tratamento
e as drogas usadas são compostas, principalmente, de químicos
sintéticos.
Além das suas diversas drogas potentes, a medicina ocidental usa
efetivamente a cirurgia para corrigir os danos devidos a trauma, desordens
genéticas ou distúrbios orgânicos. Instrumentos sofisticados
e computadores são utilizados para diagnosticar as desordens médicas.
A terapia é geralmente direcionada ao local da lesão e raramente
para aumentar a nutrição.
Porém, não são todos os problemas de saúde
que podem ser resolvidos com mudanças alimentares e exercícios
físicos e, por isso, as cirurgias têm seus méritos.
Agora, se é possível uma solução sem um procedimento
tão invasivo, então, essa outra solução deve
ser prioritária.
Apesar das ponderações, a maioria dos médicos acredita
que é possível uma integração entre medicina
oriental e ocidental. A medicina acadêmica e a medicina alternativa
não devem ser vistas como antagônicas, mas como complementares.
“Não existe uma antítese. Há uma complementação,
porque as duas abordagens têm suas limitações".
O Forum de Ciência e Cultura da UFRJ, de outubro a dezembro, promove
um ciclo de palestras que apresenta a evolução da Medicina
como ciência através da história, realçando
a influência que recebeu e exerceu nas diversas formas de pensamento.
Entrevistada pelo Olhar Vital, a coordenadora do evento,
doutora Maria Elizabeth C. de Castro, afirmou que entre os principais
dilemas da medicina atual pode-se destacar o conceito de morte e seus
limites, questões como eutanásia e aborto; o alto custo,
principalmente quando se refere aos planos de saúde, que segmentam
seus clientes, levando em conta idade e histórico saudável;
e a desigual distribuição da tecnologia – “A
medicina não existe para todos. Não é apenas uma
ciência. É um setor econômico e Político”.
Um ponto importante a ser abordado é o da influência exercida
pelas empresas multinacionais farmacêuticas no direcionamento das
pesquisas médicas e no desenvolvimento e mercantilização
de medicamentos.
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