Ciência e Vida
22.09.2005

O mal do mosquito
por Eric Macedo

No primeiro semestre deste ano, os casos de malária no país aumentaram 20% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo o Ministério da Saúde. Característica de determinados pontos do planeta, entre os quais está a região da Amazônia, a doença carece de remédios para o tratamento e de uma vacina eficaz para prevenção.

Segundo o doutor Mariano Zalis, coordenador do curso de pós-graduação em doenças infecciosas e parasitárias da Faculdade de Medicina da UFRJ, há um conjunto de fatores que provocam o aumento da incidência da malária no Norte do país:

“O desmatamento, com invasão de áreas que antes viviam em equilíbrio com a malária, além do fato de não haver vacina e da resistência do parasita às drogas hoje utilizadas faz com que o controle da doença seja difícil”, diz ele, acrescentando que a contenção se complica ainda mais sem um diagnóstico rápido e tratamento adequado dos infectados. No Brasil, isso ocorre satisfatoriamente e, atualmente, quase não se registram mortes decorrentes da doença, apesar dos 450 mil casos por ano.

“O problema”, explica o professor, “é que a malária causa grande morbidade. O infectado passa duas, três semanas sem poder trabalhar. Famílias que dependem do trabalho diário, na agricultura, passam por dificuldades. Há sempre alguém doente”.

Além disso, existem pessoas resistentes aos sintomas, mas que são portadores do parasita. “Eles não têm a doença, mas podem transmiti-la, através do mosquito. Isso dificulta mais ainda o controle e mesmo a noção de quantas pessoas são contaminadas. Provavelmente, os números do ministério da saúde estão subestimados”, diz Mariano.

Os estados brasileiros afetados são aqueles que compõem a chamada Amazônia Legal: Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e parte do Maranhão. A doença não ocorre com freqüência nas grandes cidades. Segundo Mariano, ela se restringe a lugares que entram diretamente em contato com a floresta, como periferias e pequenos municípios.

Dificuldades para desenvolver uma vacina

A parasitose é causada por protozoários do gênero Plasmodium. Existem quatro espécies diferentes que podem produzir a infecção (Plasmodium vivax, malariae, falciparum e ovale). Elas têm grande variabilidade genética, o que causa obstáculo ao desenvolvimento da vacina. “O caso é parecido com o do HIV, só que o protozoário é um ser vivo muito maior, muito mais complexo do que o vírus”, afirma doutor Mariano.

Ele diz que muitos grupos de pesquisa se dedicam hoje a encontrar uma vacina contra a malária. Tenta-se encontrar modos de combater o protozoário nas diferentes formas que ele assume dentro do organismo humano. O Plasmodium se instala, inicialmente, no fígado, mas depois se espalha pelo sangue invadindo os glóbulos vermelhos. “Até hoje, nenhuma dessas pesquisas conseguiu desenvolver uma vacina realmente eficaz”, diz o professor.

Arsenal de drogas é pequeno

Segundo o site do Cives (Centro de Informação em Saúde para Viajantes), da UFRJ que fornece informações que visam à prevenção de doenças em viajantes, a malária atinge 300 milhões de pessoas a cada ano e cerca de 40% da população mundial vive em áreas de risco de transmissão.

Apesar disso, segundo Mariano, o “arsenal” de drogas para combater a doença é pequeno. E, muitas vezes, há resistência dos protozoários aos medicamentos usados hoje. “Na década de 60, por exemplo, utilizou-se a cloroquina (uma substância sintética bastante eficaz contra a malária) indiscriminadamente. Um ministro da saúde da época, Mario Pinotti, determinou até que se acrescentasse a substância ao sal de cozinha. O consumo em doses pequenas pela população não resolveu o problema e criou-se parasitas resistentes”, conta.

Precauções

O site do Cives alerta também para as precauções a serem tomadas por quem pretende viajar para lugares que são foco da doença. Deve-se usar roupas impregnadas de inseticida e calças e camisas de manga comprida, sempre que possível. Além disso, é importante passar repelente nas partes do corpo que ficarem expostas. Recomenda-se evitar dormir em locais abertos, pois o mosquito ataca à noite e no início da manhã.

Há a possibilidade de se fazer uso de medicamentos profiláticos antes e durante a viagem. Doutor Mariano, no entanto, não recomenda tal medida:

“O ideal é que se evite ser picado pelo mosquito. E, em caso de febre e dores de cabeça, a pessoa deve procurar um médico imediatamente e dizer que esteve em uma região de risco, caso já tenha retornado”. O desenvolvimento da malária ocorre de nove a quarenta dias após a picada de um mosquito infectado.

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