Saúde em Foco
22.09.2005

O Boticário investe em pesquisa e ganha peixe e rã com marca
Do Valor Econômico

O peixe Aphylebias boticarioi tem de 3 a 4 centímetros de comprimento e vive em poças d’água às margens do rio Purus, no Acre. Descoberto m 2003 por Wilson Costa, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em outubro do ano passado o animal foi reconhecido pela ciência como uma nova espécie. Ele não é parente do peixe Listrura boticario e nem da rã Megaelosia boticariana. A semelhança entre seus sobrenomes (ou nomes científicos) é resultado de homenagens feitas por pesquisadores à Fundação O Boticário de Proteção à Natureza, mantida pela fabricante de cosméticos e perfumes.

No mundo da zoologia, ter uma espécie animal batizada com seu nome uma honra para poucos – afinal, bichos novos não são encontrados todos os dias. Se isso vale para pesquisadores, o que dizer de empresas? “Desconheço a existência de outra que tenha recebido esse tipo de reconhecimento”, diz Miguel Milano, diretor de responsabilidade social de O Boticário e diretor técnico da fundação.

Segundo ele, é comum o uso do nome do pesquisador, sobrenome, local da descoberta ou característica do animal. Mas Wolmar Wosiacki, do Museu Paraense Emílio Goeldi, que junto com o pesquisador Mário de Pinna encontrou o Litrura boticário, em 1994, tomou outra decisão. “Achamos por bem homenagear a Fundação O Boticário, que tomou a iniciativa de preservar uma parte do pouco que resta da Floresta Atlântica e, por sorte, é a área de ocupação dessa espécie”, explicou ele, que ainda não possui animais registrados com seu próprio nome.

Em 2002 o trabalho dos dois foi publicado na “Proceedings of Washington”. O peixe foi achado na Reserva Natural Salto Morato, área de 2,3 mil hectares comprada em 1994 em parceria com a The Nature Conservancy (TNC) e mantida pela fundação. Já a rã, a primeira a usar a “marca” da empresa, é resultado de pesquisa iniciada em 1994 na Serra da Mantiqueira (SP) por Ariovaldo Giaretta, da Universidade Federal de Uberlândia. Ela foi catalogada como espécie nova em 1998.

Fotos dos três decoram o convite da festa de 15 anos da fundação, que será comemorado hoje em São Paulo e amanhã em Curitiba, sede da instituição. Além da apresentação deles, a comemoração será marcada pelo lançamento do livro “Sinais de vida: Algumas histórias de quem cuida da natureza no Brasil”, de Marcos Sá Correa.

Ter animais batizados com o nome da empresa não estava nos planos do fundador de O Boticário, Miguel Krigsner. Quando ele decidiu criar um projeto de apoio ao meio ambiente, em 1990, pensou em plantar uma árvore para cada item vendido. Mas Milano, então professor da Universidade Federal do Paraná, mostrou que a idéia era inviável, por exigir a compra de grandes áreas. No ano passado, por exemplo, a empresa produziu 55 milhões de unidades de produtos. Teria, então, de comprar cerca de 30 mil hectares de terras para plantar tantas mudas.

A idéia foi abandonada e surgiu a fundação, focada em pesquisa e preservação. Nesses quinze anos ela contabiliza investimentos de US$ 12 milhões, entre recursos próprios e de terceiros – sendo 5,7 milhões em 990 projetos de preservação e pesquisa e o restante na manutenção da reserva, pessoal, material didático e trabalhos de educação. Além da perereca e dos dois peixinhos, apoiou pesquisas que levaram à descoberta de outras 15 espécies, a última em agosto – o peixe Trichomycterus guaraquessaba.

Milano contou que agora a Fundação se prepara para avançar em novos projetos. Ainda em 2005 pretende concluir uma negociação para a compra de 8 a 10 mil hectares no cerrado, em parceria com empresas e organizações não-governamentais. Ele não forneceu detalhes e investimentos previstos, mas adiantou que em seis anos, outras duas ou três reservas serão criadas. A intenção é marcar terreno nos sete biomas brasileiros. A reserva do Paraná é visitada anualmente por sete mil pessoas e possui alojamento para 24 estudantes, que fazem cursos no local com duração de uma a duas semanas.

Em dezembro a instituição levará uma idéia testada em Curitiba para Corumbá (MS), onde será criada a Estação Natureza Pantanal. A unidade da capital paranaense está montada desde 2001 no shopping Estação, que também é de Krigsner. O espaço recebe 20 mil visitantes por ano, a maioria de escolas públicas. Lá a criança aprende a preservar a natureza de forma interativa. A partir do elevador ela entra no ambiente da floresta e seus habitantes, percorre corredores repletos de sons e informações e segue para uma sala onde pode ver imagens e sentir o cheiro de queimadas.

Para bancar os investimentos da área social, Krigsner decidiu, em 2001, separar 1% do faturamento líquido da empresa, sendo que 80% dos recursos vai para a fundação, que também conta com a ajuda de parceiros. Atualmente 45% dos franqueados fazem contribuições voluntárias que, em 2005, dêem somar US$ 300 mil. “Mais que descobrir novas espécies, queremos salvar as que estão ameaçadas”, diz Milano.

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