Faces e Interfaces
22.09.2005

Fôlego verde
Por Taísa Gamboa

A maior floresta do mundo. Com 3.650.000 km², 15 trilhões de m3 de chuva e 96 toneladas de oxigênio por ano. Mais 5.000 espécies de árvores, 3.000 de peixes e 30 milhões de insetos. Números tão expressivos não nos deixam esquecer a importância da Floresta Amazônica. Sua biodiversidade a torna visada por várias potências mundiais e títulos como de “pulmão do mundo” são sempre utilizados. Mas até que ponto isto reflete a realidade? Para responder esta questão, o Olhar Vital convidou o professor de Ecologia, Ricardo Iglesias, e o professor de Biologia, Francisco Esteves, ambos do Instituto de Biologia da UFRJ.

Ricardo Iglesias Rios
Professor de ecologia do Instituto de Biologia da UFRJ

 
Francisco de Assis Esteves
Professor de Biologia do Instituto de Biologia da UFRJ

“O mundo passa por uma tendência de aumento do CO2 ligado a processos industriais. Só que atualmente, a riqueza de um país é proporcional a quantidade de gás carbônico por ele liberado. Assim, os EUA, que são a nação mais rica do mundo, concentram 26% da riqueza mundial e emitem 26% do CO2 existente na atmosfera.

O Protocolo de Kioto foi estabelecido como uma forma de amenizar esta situação. Através dele, os países se comprometem a reduzir gradativamente a emissão de CO2 aos níveis equivalentes aos do ano de 1990. Mas Bush nunca aceitará isso, pois ruiria a economia norte-americana. Temos um limite de 30 anos. Se até lá, nada for feito para mudar este quadro, chegaremos a um ponto em que não haverá mais a possibilidade de retorno.

O oxigênio corresponde à cerca de 21% dos gases que encontramos na atmosfera e é produzido pela fotossíntese. Quem muito contribui para esse processo são os fitoplânctons, algas marinhas, e não a floresta propriamente dita. A Amazônia é auto-suficiente, ou seja, o oxigênio produzido pela fotossíntese durante o dia, é consumido pela respiração à noite, não havendo excesso. A Amazônia não é o pulmão do mundo.

O problema está na ocasião das queimadas. Florestas como a Amazônica possuem muita biomassa, que, se queimada, libera grande quantidade de CO2 na atmosfera. Com relação à produção de oxigênio, a Amazônia não contribui de forma decisiva na sua liberação para o consumo geral. Mas se levar-mos em conta a emissão excessiva de CO2 decorrente da sua carbonização, os problemas são enormes.

O acordo de Kioto estabeleceu o esquema de créditos de carbono. Os países participantes estão liberados para emitir uma determinada quantidade de gás carbônico, equivalente a um determinado número de árvores plantadas. Além disso, esses países devem se comprometer a não queimar as florestas.

De qualquer forma, a maioria das atividades da vida moderna tem como contrapartida a emissão de CO2 e não olhar para este fato pode ser fatal. Além disso, se a quantidade de oxigênio no ar fosse ampliada em apenas 1%, isto já seria o suficiente para favorecer vários incêndios espontâneos, capazes de destruir todas as florestas do planeta. Ou seja, a curto prazo, é mais prejudicial o excesso do oxigênio, do que o de gás carbônico.”


 
“A floresta Amazônica pode ser considerada um dos maiores ecossistemas florestais do Mundo. É um ambiente que se desenvolveu em uma extensa área na região tropical do Globo, mais precisamente próximo à Linha do Equador. A elevada pluviosidade e as altas taxas de incidência de radiação solar na região foram fatores primordiais para a formação atual daquele ecossistema. Pela sua fisionomia, sugere-se que a Floresta Amazônica encontra-se em um estágio denominado de CLIMAX.

Todos os ecossistemas estão em processo contínuo de modificação de suas características, denominado sucessão ecológica. O clímax seria um dado momento do tempo no qual um determinado ecossistema apresenta características como arvores de grande porte, baixa taxa de crescimento das plantas e nenhuma ou baixa produtividade líquida. Ou seja, todo ou quase todo oxigênio (O2) produzido pela fotossíntese é transformado novamente em gás carbônico (CO2) pela respiração ou outros processos de decomposição na própria floresta ou nos rios. O resultado ou balanço dessas atividades é a chamada produtividade líquida de toda Floresta Amazônica.

Isso significa que pouco ou nenhum oxigênio é produzido a mais do que tinha em um instante anterior. Porém, em estágios anteriores da sucessão ecológica, ocorria a produção de grandes quantidades de oxigênio e a apreensão de grandes quantidades de CO2, hoje estocados em biomassa (nos troncos, raízes e folhas das árvores).

Então, não podemos chamar a Amazônia de Pulmão do Mundo por ela produzir oxigênio e apreender CO2 na atualidade, mas sim por ter feito isso durante todo o seu processo de desenvolvimento até o estágio atual. As queimadas, além de destruir diversas formas de vida que sequer conhecemos ainda, produzem em poucas horas toneladas de CO2 que levaram milhares de anos para serem apreendidos pela floresta, agravando ainda mais o problema do excesso desse gás na atmosfera.

Alguns estudos sugerem que o aumento da concentração de CO2 na atmosfera resultaria no incremento das taxas de fotossíntese e, consequentemente, da taxa de produção de oxigênio para a atmosfera. Além disso, a existência de CO2 não é a única característica necessária para se aumentar as taxas de fotossíntese de uma planta. Além da presença desse gás, também são necessários água, nutrientes, e solo em boa qualidade.

No caso de uma floresta intacta, ou seja, natural, em estágio de clímax, o aumento das concentrações de CO2 não resultariam em aumento de biomassa, uma vez que recursos como espaço e nutrientes seriam escassos. A floresta Amazônica apresenta solos pobres em nutrientes, pois quase a totalidade eles já se encontra estocada na biomassa. Por isso, o crescimento de uma nova e produtiva planta, depende da morte e liberação de nutrientes de uma planta mais antiga e não apenas de possuir CO2 disponível para a fotossíntese.”
Colaborou com esta entrevista André Megali Amado - mestre em Ecologia pela UFRJ


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