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“Eu e
minha esposa acompanhamos um filho com leucemia durante quatro
anos e meio. Desde o início, fizemos duas opções
claras que muito nos ajudaram em todo o processo:
Primeiro, sempre confiamos em Deus, e creio que ele estava adiante
de todo o processo,
conduzindo-nos pelos caminhos mais adequados. Esta fé
nos deu segurança, serenidade e evitou o desespero, tão
comum nesses casos.
Além disso, usamos com critério e presteza todos
os recursos disponíveis da ciência e da técnica.
Cientes de que são preciosos e válidos; não
infalíveis e perfeitos, porém os mais adequados
de que dispomos. Isso nos livrou de recorrer a charlatanismos
perigosos.
Quando nosso filho deu seus últimos suspiros, oramos
juntos e agradecemos o privilégio de tê-lo conosco
por seis anos, reafirmando a certeza de ainda vê-lo.
Esta foi uma experiência pessoal, mas nas últimas
décadas têm sido desenvolvidos vários estudos
mostrando relação positiva entre fé, práticas
religiosas e benefícios à saúde. Alguns
pesquisadores que se destacaram nessa linha são Gordon
Allport, David Larson, Harold Koenig, entre outros.
Se a fé não contribui diretamente com a cura,
pode proporcionar o conforto psicológico, que não
é algo desprezível ou menos importante. A própria
condição humana nos coloca diante de situações
que interrogam sobre sentido, significação e questões
de natureza espiritual. Tais recursos, muitas vezes, são
os mais importantes e não devem ser subestimados.
Gordon Allport descreveu o que chamou de "espiritualidade
intrínseca": uma fé internalizada, que busca
um fim em si mesma, assumida existencialmente, independente
das conseqüências externas. Tal espiritualidade tem
sido relacionada positivamente, em inúmeras pesquisas,
com saúde física e mental. Ela se mostra útil
em todas as situações, ou seja, em qualquer tipo
de doença.
Cabe ressaltar que o pensamento positivo dirige a expectativa
à própria pessoa. A meu ver, é muito pouco.
Os seres humanos são capazes de muitas coisas bonitas
e grandiosas; por outro lado, são muito limitados e pouco
confiáveis.
Que fazer quando não se consegue ter pensamentos positivos,
como no caso da pessoa com depressão, por exemplo? É
necessário livrar-se da tentação do Éden:
não somos e nunca seremos deuses. A fé precisa
voltar-se para alguém consistente e confiável,
maior que nós; e que, ao mesmo tempo, goze da credibilidade
de um lastro histórico de envolvimento com o humano.
Enfim, julgo que a pretensa onipotência médica
tem muito que aprender com outros saberes.”
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“Não
tenho dúvidas de que a fé ajuda a lidar melhor com
situações difíceis e estressantes da vida.
Acredito que a questão principal é se a fé
seria algo ”alienante e alienador”. Ou seja, se seria
a construção de um sentido compartilhado por muitos,
mas sem um fundamento no real ou se a dimensão espiritual
é uma dimensão essencial de todo ser humano e que
deve ser trabalhada para a saúde plena dos indivíduos.
É preciso refletir se somos “doentes do sentido”
como diria o filósofo Lacan ou, pelo contrário,
se precisamos de um sentido para viver, concordando com Victor
Frankel.
A questão do sentido da vida é uma questão
que tem que ser respondida por cada ser humano, e, essa resposta
é responsabilidade de cada um e não pode ser dada
por um terceiro. É dentro desse contexto individualizante
que entendo a problemática da relação entre
a fé e a cura.
Existem inúmeros estudos científicos que analisam
as relações entre crença religiosa e cura
e/ou melhor, desenvolvimento de doenças clínicas.
Posso citar dois a título de exemplo.
O primeiro causou grande impacto nos meios médicos e acadêmicos
e consistiu em um estudo duplo cego em uma amostra randomizada
dos efeitos da oração de intercessão à
distância na evolução e prognóstico
de 990 pacientes internados em uma unidade coronariana. Este estudo
foi publicado por Harris WS. Há também uma revisão
sistemática realizada por Robert L e Ahmed I., sobre a
eficiência da oração de intercessão
no alívio de doentes.
Além disso, a questão da manutenção
da esperança ou da fé frente a eventos traumáticos,
como cânceres, AIDS e outras situações terminais,
tem sido muito estudada. Sempre revelam que a manutenção
da esperança é um fator de conforto, de melhor adaptação
às situações e conseqüentemente melhor
prognóstico, um exemplo claro é o ensaio de Cf.
Sullivan MD, Hope and hopelessness at the end of life (Esperança
e desesperança no fim da vida).
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