Ciência e Vida
01.09.2005
Atleta não é sinônimo de saúde
por Beatriz Padrão


Os atletas em geral constituem um grupo de risco para várias doenças relacionadas, principalmente, a falta de acompanhamento médico focado para cada esporte. Para as mulheres, em particular, os riscos são ainda maiores. A excessiva valorização da magreza pela mídia, atua em prol da distorção dos valores que fez surgir uma geração de atletas femininas que passam a apresentar a "tríade da mulher atleta".

Esta doença se constitui em três sintomas: transtorno de comportamento alimentar (TCA); amenorréia ou disfunção menstrual e osteoporose. Segundo a coordenadora do Laboratório de Fisiologia do Exercício da UFRJ, Fátima Palha, a tríade é considerada multifatorial, pois tanto está associada a uma dieta deficiente para as necessidades energéticas da atleta, como ao baixo peso corporal ou perda rápida de peso, e ainda a exercícios em excesso e ao estresse físico/psicológico.

"A tríade da mulher atleta é iniciada pelo desequilíbrio entre ingestão e gasto calórico que pode resultar em um déficit energético. Este déficit pode causar, com o tempo, a diminuição da produção de estrógenos pelo ovário, e este fator combinado à carência de cálcio e vitamina D, devido às deficiências dietéticas, resultam em amenorréia secundária, ou seja, ausência de fluxo menstrual por mais de três meses consecutivos. E ainda ocasiona a perda da densidade óssea que pode evoluir para a osteoporose precoce na atleta", acrescenta Fátima.

Existem modalidades desportivas em que o risco de desenvolver TCA e a conseqüente tríade da mulher atleta é maior. Fátima Palha desenvolveu um estudo em que analisou seis tipos de esportes com atletas de alto nível, da seleção estadual e brasileira. Foi constatado que as atividades dependentes da estética (ginástica artística, a rítmica e o nado sincronizado); as que preconizam o baixo peso corporal (corrida de fundo e maratonas) ou as que estabelecem índices de peso corporal por categorias (lutas e remo) apresentaram maior prevalência do dos distúrbios alimemtares e menstruais.

A exceção foi encontrada na única equipe de modalidade de risco que tinha acompanhamento de uma nutricionista. Assim, Fátima ressalta a importância e a necessidade deste profissional especializado e de outros, como médicos e psicólogos, dando apoio às atletas. A coordenadora ainda criticou a ausência de um médico disponível todos os dias na Escola de Educação Física e Desportos, que conta apenas com um médico, cujo contrato é de 20 horas semanais.

A próxima ação do projeto/estudo de Fátima Palha inclui a análise de bailarinas e clientes de academias. Principalmente pelo ballet demandar a estética dos movimentos e um baixo peso corporal, já as academias são um ambiente com alta freqüência de casos de transtornos alimentares e alguns em fase avançada (como anorexia nervosa e bulimia), isto porque a compulsão por exercício é um sintoma dessas doenças. "Nesta ocasião tentaremos conscientizar os participantes do estudo", conclui Fátima.