Faces e Interfaces
25.08.2005
Prova do Conselho para Qualificação de Médicos
por Lílis Soares

O Conselho Regional de Medicina de São Paulo (CREMESP), devido ao crescente número de denúncias recebidas de médicos desqualificados, criou o Exame de Habilitação do Cremesp, a exemplo do exame da OAB, para estudantes do sexto período de medicina e médicos formados há menos de um ano no Estado de São Paulo. No entanto, a criação deste exame gerou algumas polêmicas quanto a sua utilização pelo mercado como um critério de seleção.

Para falar sobre o assunto, o Olhar Vital convida o Dr. Braulio Lima Filho, do Conselho de Medicina de São Paulo, e o Professor Almir Fraga Valladares, diretor da Faculdade de Medicina da UFRJ.





Dr. Braulio Lima Filho,
do Conselho de Medicina de São Paulo.

Professor Almir Fraga Valladares,
diretor da Faculdade de Medicina da UFRJ.

"O objetivo do exame é avaliar se os médicos egressos na faculdade estão em condições de exercer a profissão. Nada garante que depois de seis anos o indivíduo esteja preparado. A maioria das escolas médicas do Brasil não faz avaliação final, enquanto que em outros países a avaliação é obrigatória, e os estudantes depois do ciclo básico são avaliados de forma superficial. É necessário que se crie uma avaliação objetiva.

Mesmo que as escolas médicas aplicassem avaliações finais internas a seus alunos, seria imprescindível uma avaliação externa. Esta é uma maneira otimizada de melhorar e qualificar a saúde no país, já que o Brasil não possui recursos para investir de forma intensa neste setor.

Os gastos com saúde pública neste país são ínfimos. O Brasil gasta, aproximadamente, 100 dólares por pessoa, longe do ideal que seria 300 dólares. Na Argentina, por exemplo, e em países de primeiro mundo gasta-se mais que o dobro. Por isso, a criação desse exame é importante, pois seleciona os médicos qualificados, que com a certificação do Conselho são diferenciados pelo mercado, e colabora para a melhora do sistema de saúde, aumentando sua eficiência, no atendimento e reduzindo as consultas sem diagnósticos".

 

"Eu não sei qual é a intenção do Cremesp ao criar esse exame, que é opcional. No momento, vai se inscrever quem quiser e não vai ter conseqüência em relação à inscrição do conselho. Acredito que o conselho de São Paulo queira avaliar a qualidade dos formandos em medicina, mas isso nós já sabemos, nós já conhecemos as instituições que possuem qualidade e as que não possuem. Não há muita novidade. As próprias avaliações que o MEC fez através do Provão e do Enade já mostraram quem tem qualidade e quem não tem. Se 80% de inscritos fossem aprovados seria um ótimo resultado. O problema é que há a sensação de que a maioria não vai passar, considerando o próprio resultado que já houve quando se avaliou os estudantes de medicina.

À semelhança da OAB, onde se faz uma avaliação para inscrição nos conselhos regionais, se esse exame tornar-se seletivo, acredito que seja necessário, então, criar um desdobramento terapêutico, eu diria. Que se faça o diagnóstico de que pessoa não estaria bem preparada para exercer a profissão, mas que se ofereça, também, alternativas para prepará-la. O papel da avaliação não é aprovar ou reprovar, é medir o grau de qualificação que cada pessoa possui. Acho que esse tipo de avaliação tem que ser temperada com algum tipo de desdobramento. Os que não forem aprovados deveriam ter uma oportunidade de reciclagem que os coloque em condições de exercer a profissão.

Além disso, não acredito que o mercado da área médica esteja preocupado com a aprovação de um profissional neste exame. Este mercado é muito desorganizado e quer mais que o profissional trabalhe. No momento, a avaliação deve ser muito experimental, de reflexão. Não acho que exista condições de implantação. É um processo complexo a ser discutido com várias instituições (formadoras de recursos humanos, conselhos regionais e associações médicas) e implica na obrigação não só de avaliar, mas de oferecer, talvez até em parceria com as próprias escolas, uma reciclagem para que esse médico reprovado possa, mais tarde, exercer a profissão".