Argumento
06.04.2006
Desinteria: O Zinco é a solução
por Taísa Gamboa
 
A Organização Mundial de Saúde (OMS) emitiu, ano passado, uma carta à imprensa, recomendando o uso do suplemento de Zinco no tratamento da diarréia aguda em crianças. Atento as suas próprias necessidades, o Ministério da Saúde brasileiro promoveu, pouco tempo depois, uma reunião que acenou com a recomendação do Zinco como medida de saúde pública.

Desta reunião, participou o professor Antônio Ledo, diretor do Instituto de Pediatria da UFRJ (IPPMG), e membro da Rede Internacional de Epidemiologia Clínica (ICLEN). A rede desenvolveu, em pareceria com a OMS, e seis unidades de epidemiologia clínica, as residentes nos lugares mais carentes de Zinco em todo o mundo, um estudo para verificar os efeitos da utilização deste mineral no tratamento da diarréia aguda infantil.

A pesquisa foi desenvolvida na Etiópia, Egito, Philipinas, Índia e no Brasil, onde o professor Ledo participou como investigador principal. O estado escolhido foi Fortaleza, cidade brasileira com maior deficiência de Zinco, uma das principais causas da diarréia. Nesta localidade nordestina, existe uma unidade de epidemiologia clínica, semelhante a do projeto que a Faculdade de Medicina da UFRJ desenvolve em parceria com o Programa de Iniciação Científica (PIC) e o Atenção Integrada à Saúde (AIS).

Em cada uma dessas unidades de epidemiologia onde a pesquisa foi realizada, existe um centro de tratamento infantil. Os médicos responsáveis reuniram-se e perceberam que o principal problema da criança que tem diarréia, não é a própria doença, mas sim as conseqüências dela, como a desidratação. Segundo o professor Ledo, há mais de duas décadas, este problema é solucionado através da Terapia de Re-hidratação Oral (TRO), mais conhecida como soro caseiro.

“O Zinco, por sua vez, possui alguns estudos datados de 1998; pesquisas que mostravam o forte efeito do mineral na redução do tempo da diarréia e na prevenção de episódios futuros, principalmente em locais mais pobres, carentes deste mineral”, explica o pediatra da UFRJ. O trabalho dos pesquisadores buscou saber o que o doente faz em relação ao TRO, a partir do momento que tem a sua disposição o suplemento de Zinco como medicamento complementar no tratamento.

Ledo lembra que o TRO tem ações e focos diferentes do Zinco. “Enquanto o soro caseiro cuida da principal conseqüência da diarréia, a desidratação; o suplemento do Zinco cuida da diarréia em si. Atuando sob várias enzimas, este mineral ajuda a recuperar a mucosa deficiente. A utilização de um, não impede a ação do outro, que deve continuar a ser usado”, completa o professor.

De forma a facilitar a adoção do suplemento de Zinco pelas populações estudadas foi desenvolvido um estudo prévio, qualitativo, para determinar a terminologia mais adequada a cada região. Em cada país, foi estabelecido um canal comunicativo, adaptado à cultura e linguagem locais, de forma que o zinco pudesse ser inserido no tratamento sem detrimento do TRO.

Após analisar os efeitos dessa inserção, verificou-se que a utilização do suplemento de Zinco não interferiu no tratamento com TRO. Ao contrário, reduziu-se o uso de outras medicações. De acordo com o pediatra Antônio Ledo, este fato é de extrema importância para a pesquisa, já que qualquer outra medicação no combate a diarréia infantil aguda é contra-indicada. “Nestes casos, deve-se adotar apenas o TRO, continuar a alimentação normal e, se possível, o leite materno”, aconselha.

Parte da recomendação do Zinco pelo Ministério da Saúde proveio deste estudo. O problema é que não há produção nacional deste mineral. “Seria uma medida adotada em escala nacional, e a baixo custo, mas primeiro precisamos do principal ingrediente para atender a futura demanda”, conclui o professor da UFRJ. Ele afirma ainda que, mesmo o efeito do Zinco não sendo extraordinariamente grande; em larga escala, e com muitos episódios de diarréia aguda, ele tem um impacto elevado na saúde pública.

 

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