Microscópio
10.11.2005
Sinalizando a saúde para todos — HIV/AIDS e pessoas com deficiência
Por Geralda Alves


É tão difícil lidar com a deficiência, então como dizer a um deficiente como se prevenir contra a AIDS?

Construir um Kit que fortaleça o trabalho de ajuda e possa ser reproduzido pelo Brasil, pela América Latina e pelo Caribe, nos projetos de AIDS que o Banco Mundial financia, é a principal proposta dos cerca de 50 participantes da primeira reunião de trabalho que discutiu as questões do deficiente com AIDS.

A reunião aconteceu dia 3 de novembro, no Rio de Janeiro, e contou com a presença de agentes comunitários que trabalham com promoção de saúde e AIDS e profissionais que atuam em comunidades, com conhecimento específico na área da deficiência, mas nenhuma prática em prevenção de AIDS. Os participantes trocaram informações com um grupo seleto de deficientes que contribuíram com experiências pessoais e profissionais.

O objetivo desse encontro “é gerar e produzir recursos para que os programas de AIDS considerem também como público alvo à deficiência. Para que esse seja um sistema integrado em todas as políticas públicas em todo o setor”, disse Rosangela Berman, jornalista e coordenadora da equipe de deficiência e desenvolvimento inclusivo do Banco Mundial para a América Latina e o Caribe.

Segundo ela os deficientes auditivos são um dos grupos mais vulneráveis do mundo a contaminação do HIV. “Eles vivem em comunidades fechadas, o que gera uma tendência a sexualidade, aumentando o índice de promiscuidade. Eles não só adquirem a doença como também a transmitem sem a mínima noção de que estejam contaminados. Isso se dá devido a falta de informação, pois desconhecem até que ela existe. Mesmo os surdos alfabetizados não sabem nada a respeito, porque não conseguem absorver as informações que são passadas pela mídia”, afirma Rosangela.

A iniciativa de produzir a oficina é do Banco Mundial (um dos principais financiadores de projetos de AIDS no Brasil, envolvendo governo, sociedade civil organizada e entidades que trabalham no setor) em parceria com a Rede Saci, o Centro de Promoção da Saúde-CEDAPS, a FUNLAR-Rio e o projeto PIPAS (trabalha com doença mental e prevenção de AIDS). O que esse grupo propõe não é criar mais um programa separado para a área da deficiência e prevenção e sim, impactar os programas gerais já existentes sobre AIDS, para que reconheça entre seu público alvo e seus beneficiários as pessoas com deficiência e faça algo utilizando o mesmo orçamento, as mesmas intervenções, os mesmos materiais que são usados para se chegar à população de uma forma geral.

Na área da deficiência, os surdos e cegos são os mais vulneráveis a contaminação do HIV. Devido à deficiência, já existe a inibição da possibilidade de comunicação e o acesso a informação. “Se for colocar o corte da pobreza são pessoas que não chegam a sistema nenhum, nem a um posto de saúde da periferia. Quando chegam, não tem o acesso físico, então, uma série de fatores torna esse, um grupo de risco completamente desconsiderado. Tanto em adquirir como em transmitir. É reconhecidamente como direito da sociedade ter acesso onde todos possam chegar” declara a jornalista.

Outro grupo de risco que não é levado em conta, segundo Rosangela, são as crianças com deficiência, que são muito mais vulneráveis ao abuso sexual que outras. Assim como os adultos (tanto homens como mulheres) com deficiência mental.

O mais sério é que por haver um mau entendimento em que a pessoa com deficiência não se associa com a questão da sexualidade (ninguém transa), o setor médico e de promoção de saúde não considera nem que esse grupo existe, ou seja, como falar para o deficiente sobre sexualidade. “Você ver o nível que chega o estigma. Quem está planejando ações de prevenção de saúde para uma população inteira com características diversas, como analfabetos, indígenas, mulheres, etc. pensa em todos os grupos menos na área de deficiência”, afirmou Rosangela.

O que o grupo está procurando fazer - no momento em que identificou uma parcela da população que não está sendo atendida - é desenvolver conhecimento e recursos para oferecer aos programas nacionais de AIDS (Municipal, Estadual e Federal) para que se possa começar a atender também essa parcela como um grupo de risco. “A deficiência é invisível nas políticas publicas em todo o mundo”, finaliza Rosangela.

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