História Viva
29.09.2005

Arquitetura da solidariedade
por Eric Macedo

O que têm em comum a população de rua do Centro do Rio, uma capela do século XIX, crianças de escolas públicas, freis franciscanos e uma arquiteta da UFRJ?

No dia quatro de outubro, parte da capela do Hospital Escola São Francisco de Assis será inaugurada depois de uma reforma que durou por volta de quatro anos, desde o início do projeto até o fim das obras, que devem ser concluídas até dezembro. A responsável pelo projeto é a arquiteta Dalva de Castro, funcionária da universidade há 30 anos, atuante tanto no que diz respeito ao seu trabalho profissional na arquitetura quanto na realização de atividades extras que envolvem a população mais pobre da cidade.

Dalva foi admitida na Universidade por concurso. Depois de trabalhar, por algum tempo, no Hospital do Fundão, ela foi para o campus da Praia Vermelha, onde começou a trabalhar com um projeto chamado PACEM (Programa Interdisciplinar em Arte Dramática, Ciências Sociais e Ecologia da Mente). O programa envolve crianças pobres, que têm a oportunidade de entrar em contato com teatro e artes plásticas, dentro do conceito de “ecologia da mente”, e visando evitar o aparecimento de doenças mentais nessas crianças. “Se o ser humano estiver com a cabeça equilibrada, ele não fica doente”, diz Dalva.

Quando foi trabalhar na restauração do prédio do HESFA, Dalva levou para lá o PACEM, que no momento está novamente de mudança para uma sala da Educação Física, na Praia Vermelha. Dalva se apaixonou pelo prédio do HESFA e mais ainda pela capela em ruínas que data do século XIX e habita os fundos do terreno do hospital.

O projeto de reforma da capela foi feito em conjunto com alunos de arquitetura da UFRJ. Alunos da Escola de Belas Artes também trabalharam na restauração. Enquanto Dalva estava a procura de recursos para realizar a obra, um grupo de freis franciscanos, liderados pelo ator Ciro Barcelos, procuravam um lugar onde pudessem ajudar a população de rua. “O objetivo do HESFA já era, na sua fundação, o de abrigar mendigos, quando estes estavam surgindo no Rio de Janeiro”, disse Dalva.

Ela trabalhou em conjunto com os franciscanos na busca por dinheiro para financiar as obras. Ao mesmo tempo, começou o trabalho deles com os mendigos, que eram identificados, tinham seus cabelos cortados, feridas tratadas e tomavam banho. Depois, eles entravam na triagem do HESFA, como qualquer paciente. O número de pessoas atendidas chegou a sessenta. Mas um acidente envolvendo um dos mendigos – uma telha da capela caiu e cortou sua cabeça – fez com que o trabalho cessasse. Recentemente, um outro grupo de religiosas da igreja católica procurou o HESFA atrás de um espaço em que pudesse realizar atividade semelhante. Dalva espera que, após a inauguração, elas venham a ocupar a capela.

“Eu consegui conjugar a arquitetura com a visão holística que adquiri no PACEM. Aprendi com o professor Raffaeli Infanti, criador do programa, que o arquiteto cuida da segunda pele do homem. Na época, eu não tinha entendido o que isso significava. Hoje, percebo que a arquitetura deve cuidar da saúde do ser humano, o que também pode ser feito através da beleza”, diz Dalva, que ainda tenta conseguir dinheiro para a concluir as obras. Um vitrô ainda está sendo feito em cima de um desenho de um dos alunos da EBA que trabalharam no projeto, e precisa ser pago, assim como a restauração de uma pintura antiga que representa o Sagrado Coração de Jesus.

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