História Viva
22.09.2005

A linguagem do corpo
por Eric Macedo

“A alfabetização não é um processo só de se juntar letras, mas é também o resgate de uma identidade própria”, diz a professora Maria Ignez de Souza Calfa, do departamento de Arte Corporal da Escola de Educação Física da UFRJ, que participa de um projeto de alfabetização acrescentando o conhecimento do corpo na mistura de elementos que formam alfabetizadores no interior do Brasil.

Maria Ignez, antes de entrar na UFRJ, era professora em classes de alfabetização e, em seguida, de educação física em escolas. Ela conta que seu interesse sempre foi intercambiar educação e dança. Sua formação é de educação física na UERJ e ciência da arte na UFF, mas paralelamente desenvolveu a aptidão para a dança no curso Angel Vianna, onde se tornou interprete e coreógrafa.

Hoje, Maria Ignez ensina Corporeidade para os alunos do curso de bacharelado em dança. A disciplina procura adotar uma visão do corpo além da simples estrutura anatômica, biológica; sua abordagem é ontológica, de investigação da linguagem intrínseca aos corpos. É aí, na percepção de que o corpo envolve linguagem, que entra a relação com a alfabetização.

O programa de que a professora participa é coordenado por professoras da Faculdade de Letras e, utilizando o sistema de alfabetização solidária, atua em três pontos do interior do país: um no Espírito Santo, um na Paraíba e outro no Rio Grande do Norte. Recentemente, Maria Ignez concretizou sua atuação quando visitou o município de Cariacica (ES) e trabalhou na formação de pessoas comuns, de todos os tipos, que se voluntariam para ensinar quem não sabe ler e escrever.

“Foi magnífico. Um desafio grande, porque eram pessoas muito diferentes, de todas as idades”, disse ela. Ela conta que havia desde uma historiadora que pesquisava a região a evangélicos que trabalhariam com alfabetização através da igreja.

Maria Ignez estava preocupada, pois não sabia se a proposta do curso seria entendida. Mas, segundo ela, os alfabetizadores receberam muito bem cada uma das quatro aulas, que envolviam jogos e exercícios corporais. De forma lúdica, foi trabalhado o desenvolvimento da identidade, por exemplo, e a relação entre o corpo e objetos comuns à realidade local.

“Os objetos funcionaram como intermediários para o resgate de partes da história do lugar e das pessoas, proporcionando o entendimento da realidade social onde essas pessoas vivem”, disse ela. E ressalta: “o corpo é um canal de expressividade, que deve ser percebido como uma outra linguagem, um código diferenciado daquele das palavras”.

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