História Viva
01.09.2005
Solidariedade sem fronteiras
por Taisa Gamboa


Em 1982, Daniel Becker, pesquisador do Núcleo de Estudos para Saúde Coletiva (NESC), formou-se em pediatria pela UFRJ. A especialização foi escolhida em função da possibilidade de estabelecer contato humano e aliviar o sofrimento das pessoas. Promover a saúde das crianças, ao invés de tratar as doenças crônicas dos adultos, o fascinava enormemente.

No final da década de oitenta, Daniel foi trabalhar na França e lá conheceu o projeto dos Médicos Sem Fronteira (MSF), que estavam iniciando suas atividades. Seu espírito aventureiro ficou aguçado, e a vontade de conhecer o mundo o motivou a se inscrever no programa inovador.

O sudeste da Ásia foi o destino. Na época, o Camboja tinha acabado de sofrer um massacre e isto comoveu Daniel. Lá, ele ajudou refugiados cambojanos na fronteira com a Tailândia. Embora a região oferecesse um certo risco, pois sofria bombardeios, Becker comentou que todos os médicos trabalhavam com um rádio para serem avisados caso houvesse algum problema.

Sua experiência na Tailândia foi determinante em toda a sua carreira. A realidade distintamente marcante o orientou nas escolhas profissionais futuras. "Mudou toda a minha vida", afirmou Becker.

De volta ao Brasil, o professor realizou algumas pequenas missões pelo país, e começou a se dedicar à saúde pública. Sua experiência na fronteira asiática o fez perceber que muitos problemas enfrentados pelas populações menos abastadas são decorrentes da falta de programas eficientes de saúde pública.

Este tema foi sua tese de mestrado, cursado no Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva, NESC. A idéia de trabalhar com a administração, o planejamento e a pesquisa da saúde pública o motivou a criar, junto com amigos da UFRJ, uma ONG chamada Centro de Promoção da Saúde. Atuando em mais de 70 comunidades, a equipe coordena a Rede de Comunidades Saudáveis e incentiva a participação dos moradores das favelas a conquistarem, por conta própria, o acesso aos bens básicos.

"Ajudando aos Cambojanos, eu pude perceber que a medicina não é suficiente para resolver os problemas de saúde", afirmou. Segundo Daniel, é preciso trabalhar o acesso aos bens básicos, como água, esgoto, educação, lazer e alimentação. O tratamento em si, de forma isolada, nem sempre é eficaz. Foi primordial perceber que a medicina não é tudo, apenas uma das respostas.