O fato de ter um sangramento mensal, isolado, já configura uma situação de desconforto à mulher. Se, associado a esse sangramento, a mulher ainda manifestar outros sintomas como dores e mal-estar, um acontecimento natural do organismo feminino pode se transformar em verdadeiro sofrimento, gerando, inclusive, reflexos negativos em seu cotidiano. Trata-se da cólica menstrual, ou, segundo a linguagem médica, dismenorréia, e é uma das principais queixas nos consultórios ginecológicos, juntamente à tensão pré-menstrual.
A dismenorréia caracteriza-se por ser uma dor localizada na região do baixo ventre, ou seja, na região inferior ao umbigo e é dividida, para efeito de estudo, em primária ou secundária. Essa divisão é feita devido às causas de cada uma delas, que tem origens e, conseqüentemente, tratamentos distintos. No primeiro caso não há alterações estruturais do aparelho reprodutivo feminino, já no segundo, é conseqüente da presença de patologias orgânicas presentes no organismo da mulher.
A cólica primária, com maior ocorrência, é de origem fisiológica, atingindo cerca de 75% das mulheres e a dor por ela gerada pode ter diferentes níveis de intensidade. “Nesse caso não identificamos uma razão para a dor, ela simplesmente decorre da contração do útero, que é um processo natural do ciclo” explica o doutor Maurício Magalhães, ginecologista do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), da Universidade Federal do Rio de Janeiro. A tendência é que esse tipo de cólica atinja, em maior número, jovens. “A cólica é um problema que pode estar presente em qualquer mulher em idade fértil e, no caso da dismenorréia primária, também pode afetar mulheres com idade superior a 30 anos, não é impossível, mas tem maior ocorrência em mulheres mais jovens”, complementa Maurício Magalhães.
Já a cólica secundária tende a surgir alguns anos depois da primeira menstruação e a dor tem manifestação diferenciada. “Por ser causada por outros problemas presentes na mulher, a cólica pode aparecer em qualquer momento do mês e geralmente é mais intensa. Isso porque é uma doença que está determinando a dor”, destaca o ginecologista.
A identificação da dismenorréia secundária pode ser feita por meio de diversos meios. Inicialmente, apresentando cólica, a mulher deve procurar um ginecologista para que seja analisado o histórico da paciente, “de que forma a dor se manifesta, a partir de que momento surgiu, entre outros fatores. A partir daí é feito um exame clínico e, se necessário, uma ultra-sonografia ou um exame de ressonância”. Há casos, também, que a mulher só descobre que a origem de suas cólicas não é fisiológica quando passa por algum processo cirúrgico na região e é identificada alguma alteração em seu aparelho reprodutor.
Dentre as patologias responsáveis por esse tipo de dismenorréia estão infecções pélvicas, causadas por bactérias que podem se espalhar pelos ovários e outros anexos do útero, miomas uterinos, que são tumores benignos desenvolvidos dentro desse órgão, problemas congênitos da anatomia do útero, ou mesmo da vagina, e a endometriose. “A endometriose é bastante comum e, talvez, uma das principais causas da dismenorréia secundária. Ela ocorre quando o endométrio se implanta fora do útero, determinando aderências, que são quando uma estrutura se ‘cola’ a outra, causando atrito e dor”, salienta Maurício Magalhães.
Tratamento
Atualmente existem inúmeros tratamentos para redução das cólicas menstruais que apresentam bastante eficácia. Tratada inicialmente com receitas caseiras contra a dor, a dismenorréia era combatida apenas com compressas de água quente no local. Hoje se sabe que atividades físicas regulares também são importantes. Mas essas são ações para alívio e não tratamento da cólica.
A dismenorréia primária é causada principalmente por conta da substância responsável pela contração uterina; a prostaglandina. Para combater esse tipo de cólica é então necessário o bloqueio dessa produção. As compressas quentes são benéficas porque dilatam os vasos sangüíneos e, com isso, liberam a prostaglandina. Mas para maior eficiência o uso de analgésicos e antiinflamatórios não-esteróides, que bloqueiam a produção da prostaglandina, é essencial, sempre seguindo a prescrição médica. O ideal para o combate da dismenorréia primária é que o antiinflamatório seja tomado em seguida às primeiras manifestações de dor e, depois, continue sendo ingerido com intervalos, para evitar a ação de tal substância. “O uso de anticoncepcionais também é bastante eficaz para esse caso, mas somente com orientação médica”, aconselha o médico da UFRJ.
Para a dismenorréia secundária também se recomenda o
uso de antiinflamatórios não-esteróides, mas somente
para alívio da dor. “A base essencial do tratamento dessa cólica
é o combate da doença que provoca a dor”, destaca Maurício
Magalhães. Por isso a identificação específica
da patologia que afeta a mulher é importantíssima para que possa
ser feito o tratamento adequado àquele distúrbio.
Outros sintomas
Tanto no caso da dismenorréia primária, quanto da secundária,
outros sintomas e manifestações, além da dor na região
do baixo útero, podem acompanhar a menstruação. Dentre
eles, enjôo, vômito, dores na região lombar, cansaço,
cefaléia - dores de cabeça - e diarréia. No caso da diarréia,
especificamente, a causa é a mesma que das dismenorréias: a
prostaglandina. Isso porque tal substância também atua no intestino,
tornando-o mais irritável.