Alívio e adaptação
por Mariana Elia
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O Programa de Tratamento
da Dor e Cuidados Paliativos é um serviço do Setor de
Anestesiologia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho
(HUCFF), no qual pacientes são tratados de dores crônicas.
Os pacientes com dor crônica e com dor oncológica são
os beneficiados pelo Programa. Neste caso, quando não há
perspectiva de cura, são aplicados cuidados paliativos pensando
na qualidade de vida e na atenção à família.
No caso de dor crônica, o procedimento é feito em vistas
de ajudar na aceitação e na adaptação da
dor na vida cotidiana, além de prover-lhes um certo alívio.
A professora do HUCFF, anestesista e coordenadora de ensino do Programa,
Lílian Hennemann, diz que “a dor aguda é vista como
um sintoma, a dor crônica, por definição, é
quando já passou da fase de cicatrização da lesão
e ela não tem mais o sentido biológico de avisar de que
existe algo errado com seu corpo (...) muitas vezes ela é a própria
seqüela”. Assim, a dor pode ser também uma doença
e o Programa tem como objetivo cuidar desses casos. “Então
fica muita confusão, se você pensa que dor é só
um sintoma e você obstina uma cura que nunca vai ter. O tratamento
vai tender a ser falho.” Com esse objetivo, o foco principal é
a qualidade de vida e um dos passos é também mudar a perspectiva
dos profissionais da saúde que estão muito voltados a
alcançar a cura, esquecendo-se de que a morte é inevitável.
A professora lembra que “na nossa atuação existe
limite”. A sociedade está acostumada a uma idéia
de homem acima de qualquer fraqueza e maior do que a natureza. Nesse
sentido, a medicina estruturou grandes recursos tecnológicos,
capazes de retardar a morte. A formação médica
é voltada à cura, à reabilitação,
entretanto, nem sempre isso é possível e a morte é
conseqüência natural, não um fracasso profissional.
Saber lidar com essa realidade é, segundo a professora Lílian,
ponto fundamental para uma maior qualidade de vida ao “paciente
fora dos recursos de cura”. Para tanto, a normalização
da dor crônica, ou seja, tratá-la como “mais uma
mala a se carregar” durante a vida é uma medida, uma conscientização
necessária não só para o Programa, mas que deve
ser levado a outras áreas da medicina.
O Programa tem uma equipe
de sete profissionais, que contam com o professor Peter Spiegel colaborador
ativo e mentor da implementação no Hospital. A idéia
central é, portanto, garantir qualidade de vida aos pacientes
com atendimento multiprofissional e uma abordagem bio-psico-social,
ou seja, relevando todos os aspectos da vida dos pacientes.
A Clínica
da dor ocupa-se do tratamento efetivo, não da avaliação.
Esta é feita anteriormente por outro clínico, que deve,
se assim for preciso, encaminhar o paciente ao Programa. Desta forma,
com o diagnóstico prévio, a Clínica providenciará
o cuidado terapêutico, aliado ao tratamento medicamentoso ou não-medicamentoso.
Em sua programação, a Clínica oferece palestras,
apresentação de pesquisas sobre técnicas no tratamento
da dor, avaliação e diagnóstico. Além de
investir na formação acadêmica com estágio
teórico-prático e um curso anual, como o que ocorrerá
em setembro, nos dias 21, 22 e 23 com conceitos básicos e abordagem
multiprofissional.
A idéia do Programa foi trazida pelo professor Peter Spiegel,
junto ao professor Bento Mário Villamil Gonçalves, também
anestesista, 1983, quando perceberam a inexistência de técnicas
para o alívio da dor no Brasil, como por exemplo, a morfina oral.
Desde os anos 50, todavia, existe um interesse da medicina mundial,
principalmente por anestesistas, no desenvolvimento e aprimoramento
no estudo da dor. Aos poucos, foi se percebendo que uma única
abordagem não dava conta do tratamento, e assim foram se formando
as clínicas de dor. O professor Bento Gonçalves foi um
dos primeiros no Brasil a se preocupar com o estudo de bloqueios nervosos.
As clínicas de dor, portanto, têm longa data porém,
em 2001, o trabalho no Hospital foi tomando maior abrangência,
resultando no Programa que hoje conhecemos. A percepção
de que os portadores da dor crônica não são únicos
é reforçada pelo tratamento, que estimula a aprender a
mudar o foco de sua atenção para distrair a dor, como
uma das maneiras a conviver com ela. Doutora Lílian conta que
o Programa ganhou um prêmio do Concurso Iniciativa para Melhorar
a Educação em Dor na América Latina, anualmente
organizado pela International Association for the study of Pain
(IASP) e alguns dos profissionais que passaram pelo nosso estágio
conseguiram implantar serviços de dor em seus hospitais de origem,
como o Hospital Naval Marcílio Dias, Hospital Cardoso
Fontes, Hospital Geral da Aeronáutica e o Instituto de Pediatria
e Puericultura Matagão Gesteira. Além da formação
dos profissionais, estamos sempre prontos para ir a outras instituições,
divulgando, promovendo palestras e seminários sobre o tratamento
da dor.”
Equipe
do Programa de Tratamento da Dor Cuidados Paliativos
· Doutora Lílian
Hennemann,
· Doutor Luiz Augusto Rodrigues de Aquino, anestesista
· Doutor Ricardo Joaquim da Cunha Junior, clínico
e anestesista
· Doutora Gisele Cazale Boniole, clínica e cardiologista
· Doutora Maria Fátima Wakoff Pereira, cirurgiã
· Doutora Tereza Cristina Lourenço Silva, fisioterapeuta
· Doutor Antônio Filpi Coimbra, psiquiatra
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