Por uma boa causa
16.03.2006

Alívio e adaptação
por Mariana Elia

O Programa de Tratamento da Dor e Cuidados Paliativos é um serviço do Setor de Anestesiologia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), no qual pacientes são tratados de dores crônicas. Os pacientes com dor crônica e com dor oncológica são os beneficiados pelo Programa. Neste caso, quando não há perspectiva de cura, são aplicados cuidados paliativos pensando na qualidade de vida e na atenção à família. No caso de dor crônica, o procedimento é feito em vistas de ajudar na aceitação e na adaptação da dor na vida cotidiana, além de prover-lhes um certo alívio.

A professora do HUCFF, anestesista e coordenadora de ensino do Programa, Lílian Hennemann, diz que “a dor aguda é vista como um sintoma, a dor crônica, por definição, é quando já passou da fase de cicatrização da lesão e ela não tem mais o sentido biológico de avisar de que existe algo errado com seu corpo (...) muitas vezes ela é a própria seqüela”. Assim, a dor pode ser também uma doença e o Programa tem como objetivo cuidar desses casos. “Então fica muita confusão, se você pensa que dor é só um sintoma e você obstina uma cura que nunca vai ter. O tratamento vai tender a ser falho.” Com esse objetivo, o foco principal é a qualidade de vida e um dos passos é também mudar a perspectiva dos profissionais da saúde que estão muito voltados a alcançar a cura, esquecendo-se de que a morte é inevitável. A professora lembra que “na nossa atuação existe limite”. A sociedade está acostumada a uma idéia de homem acima de qualquer fraqueza e maior do que a natureza. Nesse sentido, a medicina estruturou grandes recursos tecnológicos, capazes de retardar a morte. A formação médica é voltada à cura, à reabilitação, entretanto, nem sempre isso é possível e a morte é conseqüência natural, não um fracasso profissional. Saber lidar com essa realidade é, segundo a professora Lílian, ponto fundamental para uma maior qualidade de vida ao “paciente fora dos recursos de cura”. Para tanto, a normalização da dor crônica, ou seja, tratá-la como “mais uma mala a se carregar” durante a vida é uma medida, uma conscientização necessária não só para o Programa, mas que deve ser levado a outras áreas da medicina.

O Programa tem uma equipe de sete profissionais, que contam com o professor Peter Spiegel colaborador ativo e mentor da implementação no Hospital. A idéia central é, portanto, garantir qualidade de vida aos pacientes com atendimento multiprofissional e uma abordagem bio-psico-social, ou seja, relevando todos os aspectos da vida dos pacientes.

A Clínica da dor ocupa-se do tratamento efetivo, não da avaliação. Esta é feita anteriormente por outro clínico, que deve, se assim for preciso, encaminhar o paciente ao Programa. Desta forma, com o diagnóstico prévio, a Clínica providenciará o cuidado terapêutico, aliado ao tratamento medicamentoso ou não-medicamentoso.

Em sua programação, a Clínica oferece palestras, apresentação de pesquisas sobre técnicas no tratamento da dor, avaliação e diagnóstico. Além de investir na formação acadêmica com estágio teórico-prático e um curso anual, como o que ocorrerá em setembro, nos dias 21, 22 e 23 com conceitos básicos e abordagem multiprofissional.

A idéia do Programa foi trazida pelo professor Peter Spiegel, junto ao professor Bento Mário Villamil Gonçalves, também anestesista, 1983, quando perceberam a inexistência de técnicas para o alívio da dor no Brasil, como por exemplo, a morfina oral. Desde os anos 50, todavia, existe um interesse da medicina mundial, principalmente por anestesistas, no desenvolvimento e aprimoramento no estudo da dor. Aos poucos, foi se percebendo que uma única abordagem não dava conta do tratamento, e assim foram se formando as clínicas de dor. O professor Bento Gonçalves foi um dos primeiros no Brasil a se preocupar com o estudo de bloqueios nervosos. As clínicas de dor, portanto, têm longa data porém, em 2001, o trabalho no Hospital foi tomando maior abrangência, resultando no Programa que hoje conhecemos. A percepção de que os portadores da dor crônica não são únicos é reforçada pelo tratamento, que estimula a aprender a mudar o foco de sua atenção para distrair a dor, como uma das maneiras a conviver com ela. Doutora Lílian conta que o Programa ganhou um prêmio do Concurso Iniciativa para Melhorar a Educação em Dor na América Latina, anualmente organizado pela International Association for the study of Pain (IASP) e alguns dos profissionais que passaram pelo nosso estágio conseguiram implantar serviços de dor em seus hospitais de origem, como o Hospital Naval Marcílio Dias, Hospital Cardoso Fontes, Hospital Geral da Aeronáutica e o Instituto de Pediatria e Puericultura Matagão Gesteira. Além da formação dos profissionais, estamos sempre prontos para ir a outras instituições, divulgando, promovendo palestras e seminários sobre o tratamento da dor.”

Equipe do Programa de Tratamento da Dor Cuidados Paliativos

· Doutora Lílian Hennemann,
· Doutor Luiz Augusto Rodrigues de Aquino, anestesista
· Doutor Ricardo Joaquim da Cunha Junior, clínico e anestesista
· Doutora Gisele Cazale Boniole, clínica e cardiologista
· Doutora Maria Fátima Wakoff Pereira, cirurgiã
· Doutora Tereza Cristina Lourenço Silva, fisioterapeuta
· Doutor Antônio Filpi Coimbra, psiquiatra


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