• Edição 208
  • 11 de março de 2010

Ciência e Vida

Vinho tinto contém substância com propriedades anticancerígenas



Ana Zahner


O resveratrol é  um composto bioativo presente em diversos alimentos, principalmente no vinho tinto, mas também encontrado em suco de uvas escuras. Inicialmente, foi descoberto como um antibiótico natural e, por isso, denominado fitoalexina. Com o passar do tempo, outras atividades atribuídas a esse composto foram elucidadas. Um benefício bastante difundido é a relação entre o consumo moderado de vinho tinto e a redução do risco do desenvolvimento de doenças cardiovasculares. 

O Programa de Oncobiologia do Instituto de Bioquímica Médica (IBqM) da UFRJ, em pesquisa coordenada pela nutricionista Eliane Fialho, está estudando os efeitos que a substância pode provocar no tratamento do câncer. “Os principais efeitos do resveratrol nas células cancerígenas são aumento da morte celular, diminuição da proliferação, regulação de ciclo celular e de enzimas antioxidantes e anti-inflamatórias”, explica a professora. 

O laboratório está  agora trabalhando com o uso isolado de resveratrol ou em combinação com um quimioterápico, em culturas de células de câncer de mama. A princípio está sendo identificada sua ação como agente antiproliferativo, indutor de morte celular. O resveratrol pode ser regulador de uma enzima denominada caseína cinase II, envolvida em proliferação e diferenciação celulares e regulação de ciclo celular. Pesquisam-se também mecanismos estruturais de ligação dessa molécula com uma proteína supressora de tumor e proteoma. 

O programa conta atualmente com três alunas de doutorado e duas de iniciação científica e possui a colaboração de pesquisadores do Instituto de Bioquímica Médica. “Adicionalmente, também estamos identificando o efeito de catequinas, moléculas presentes no chá verde, nessas mesmas linhagens celulares, mas os resultados ainda são preliminares”, acrescenta Eliane. 

Moderação no vinho tinto

“São poucos os ensaios clínicos conduzidos até o momento, e acredito ser prematura a indicação de um suplemento em alta dose de resveratrol para atuar em algum determinado tipo de câncer”, diz a professora. A orientação oferecida pela pesquisadora é melhorar a qualidade de vida, de forma que fatores de risco sejam diminuídos, tendo assim menores chances de desenvolver uma doença crônica. Uma alimentação mais adequada possível, com a inclusão de alimentos funcionais, prática regular de atividade física, menos estresse e procura por profissionais de saúde como um todo são essenciais para manter a saúde em dia. 

É bastante difundida a associação positiva entre o consumo moderado de vinho tinto e a redução do risco do desenvolvimento de doenças cardiovasculares. A bebida é considerada a melhor fonte de resveratrol, pois a presença do álcool aumenta a solubilidade deste polifenol. A associação da substância a outros benefícios à saúde começa a surgir e, atualmente, ele recebe crédito, inclusive, pelo aumento da expectativa de vida. A indústria farmacêutica tem estudado bastante o composto, analisando as possibilidades de atuação no antienvelhecimento. 

“Devo ressaltar o uso moderado do vinho tinto, que seria em torno de uma taça ao dia, para que possa apresentar efeitos benéficos. Mas não adianta tomar uma taça hoje e depois beber uma garrafa inteira daqui a uma semana”, ressalta a professora. Eliane explica que o álcool presente no vinho apresenta diversos efeitos deletérios e, consumido em excesso, não melhoraria em nada a saúde, podendo trazer diversos malefícios. 

Outros alimentos devem ser pesquisados

“O primeiro trabalho, publicado na prestigiosa revista Science, que associou resveratrol e câncer saiu em 1997. Após essa data, o número de artigos científicos associando essa molécula a diferentes linhagens de células cancerosas aumentou vertiginosamente”, diz a nutricionista. 

A maioria dos trabalhos publicados até o momento foi realizada em diferentes linhagens celulares, como mama, pulmão, cólon, osso, dentre outras; e são poucos os ensaios clínicos, ou seja, os estudos com humanos. No mundo inteiro, não existem mais do que 10 ensaios clínicos concluídos associando esse composto à redução do risco de câncer. Sendo assim, novas pesquisas nessa área de compostos bioativos presentes nos alimentos funcionais devem ser realizadas, pois outros alimentos como brócolis, chá verde, soja, dentre outros, apresentam efeitos promissores.