• Edição 087
  • 28 de junho de 2007

Por uma boa causa

Uma esperança na luta contra a AIDS

Mariana Mello

Estima-se que hoje aproximadamente 40 milhões de indivíduos tenham AIDS em todo o mundo. O quadro da epidemia é especialmente alarmante aqui no Brasil, onde o vírus HIV já foi detectado em quase um milhão de pessoas. Enquanto não se encontra uma cura, a tendência é que o número de soropositivos cresça ainda mais. Contudo, a estruturação de redes que pesquisam vacinas preventivas representa uma esperança para o controle da AIDS. Pensando nisso, a editoria Por uma boa causa desse mês encerra o tema vacinação abordando o Projeto Praça Onze, uma iniciativa da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em parceria com a rede mundial HIV Vaccine Trials Network (HVTN).

O Projeto Praça Onze iniciou suas atividades em 1995, com o intuito de ser uma plataforma de estudos e testes de vacinas anti-HIV, que pudesse ser aplicada em pessoas saudáveis, diminuindo assim o risco delas se infectarem pelo vírus da imunodeficiência humana. “A descoberta de uma imunização para a AIDS é a grande esperança de se controlar a doença a médio prazo”, afirma Mônica Barbosa, coordenadora de recrutamento do Praça Onze, esclarecendo a grande expectativa que existe em torno da vacina. A psicóloga, que estabelece as estratégias de recrutamento de voluntários para testes, explica que, apesar dos medicamentos existentes para aqueles que têm AIDS, o chamado “coquetel” serem eficazes, a melhor medida é prevenir.

– Atualmente, diante de uma epidemia de um milhão de pessoas, é possível organizar uma rede de distribuição e acesso aos medicamentos de tratamento para a AIDS, que são bastante caros, na rede de saúde pública brasileira. Mas será que quando a doença atingir dois ou três milhões, daqui a algumas décadas, o sistema público conseguirá abastecer os postos de saúde? Esse será também um impacto de ordem econômica – acrescentou Mônica. Para ela, a aplicação de uma vacina também diminui o número de novos infectados, que conseqüentemente contaminariam outras pessoas, o que contribuiria para controlar a expansão da epidemia.

Por isso, o projeto, que conta com uma equipe multidisciplinar de aproximadamente 60 profissionais, entre eles médicos, enfermeiros, psicólogos e assistentes sociais, vem se empenhando na realização de pesquisas, cujas amostras são analisadas no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, da UFRJ. Existem, porém, alguns complicadores ao desenvolvimento do estudo, segundo Mônica Barbosa: além do vírus HIV ser mutante, o que dificulta a precisão da ação das vacinas, ele não pode de forma alguma ser utilizado, mesmo que inoculado ou morto, na produção das vacinas – isso representaria um risco enorme de infecção. A psicóloga ainda apresenta outra adversidade:

– Um medicamento não funciona da mesma forma em pessoas com sistemas imunológicos diferentes. Principalmente se elas morarem em países diferentes e tiverem estruturas genéticas e hábitos alimentares distintos. Por esse motivo, as vacinas são testadas em todo o mundo e a pesquisa é tocada com muita calma, para que não seja causado nenhum tipo de malefício ao voluntário.

Ainda assim, o Praça Onze, em sintonia com pesquisas empreendidas por várias organizações mundiais, tem conseguido observar a atuação de diversos produtos nos voluntários cadastrados – hoje, eles somam quase 200 pessoas. O recrutamento se dá de diversas formas: “pode ser através da imprensa, de oficinas e palestras em eventos, em ONGs e da distribuição de panfletos em hospitais”, enumera Mônica. “Só não podemos dar nenhum tipo de incentivo financeiro, como os Estados Unidos, que investem maciçamente na área de saúde, já que as autoridades de regulamentação de pesquisa no Brasil entendem essa atitude como anti-ética”.

Mônica faz questão de ressaltar que o Praça Onze não desenvolve vacinas, mas sim realiza testes clínicos – que, segundo ela, se dividem em cinco fases. O projeto vinculado à UFRJ iniciará a participação na sub-fase 2B de uma pesquisa, que envolve aproximadamente dois mil voluntários. As fases 3 e 4 já consistem na aplicação das vacinas em algumas milhares de pessoas e tentam detectar problemas não percebidos nas fases iniciais.

A vacina

Mônica Barbosa acredita que há muitas limitações técnicas e de recursos financeiros, porém arrisca um prazo de aproximadamente cinco anos para o surgimento de uma vacina. “Uma projeção nesse momento é muito incerta, mas talvez daqui a uns cinco ou seis anos já se espera ter já uma vacina, ainda com efetividade baixa”.

A coordenadora de recrutamento ainda não sabe precisar se a vacina anti-HIV, quando pronta, será distribuída gratuitamente ou vendida. “Tudo dependerá de negociações entre os governos, a ONU, as redes de pesquisa, a sociedade civil e os ativistas. Será uma briga significante, pois são muitos os interesses envolvidos”, supõe Mônica. “Essa é uma iniciativa que envolve milhares de pessoas e também muito dinheiro, inclusive de indústrias farmacêuticas”.

O tratamento

Assim como a vacinação, o projeto Praça Onze também volta suas atenções às estratégias de tratamento dos pacientes já infectados pelo vírus HIV. Através da pesquisa e do teste de novas drogas e medicamentos, os profissionais visam sobretudo atenuar os desagradáveis efeitos colaterais dos remédios que integram o “coquetel” e facilitar a rotina do soropositivo. Mônica afirma que “apesar de existirem várias drogas de última geração, é bastante penoso e complicado para uma pessoa com AIDS administrá-las duas ou três vezes ao dia, durante toda a sua vida”.