• Edição 084
  • 06 de junho de 2007

Por uma boa causa

Vacina na infância: dói, mas é necessária

Mariana Mello

O descobrimento da vacina é antigo – sua primeira aplicação, feita por um médico inglês, data do fim do século XVII. Embora seus avanços tenham sido altamente significativos, a técnica ainda é tema recorrente nas discussões sobre investimentos na saúde pública, principalmente em países como o Brasil, que até hoje atravessam epidemias de doenças infecciosas.

Pensando nisso, a editoria Por uma boa causa aborda, no mês de junho, o tema vacinação, visando, além da conscientização geral, dar enfoque às novas perspectivas que surgem sobre o assunto. A primeira dessa série de reportagens trata da vacinação na infância.

A imunização infantil compreende vacinas hoje disponíveis gratuitamente nos postos de saúde públicos. O chefe da Divisão de Pesquisa do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG–UFRJ), Marcos Lago, enumera algumas: “no primeiro ano de vida, a criança recebe a BCG, que evita a tuberculose; a imunização contra a hepatite B; a vacina oral para a poliomielite; a tetravalente, antes chamada de tríplice, que agora previne, além do tétano, difteria e coqueluche, a bactéria Haemophilus influenzae tipo B (HIB)”, explica o pediatra.

Essas vacinas fazem parte do Plano Nacional de Imunizações (PNI), diretriz governamental que orienta as ações de vacinação no Brasil. Somada a elas, está também a vacina do rotavírus, que, segundo Marcos Lago, foi introduzida no PNI no ano passado, para crianças de zero a cinco anos. Ele garante que o Brasil possui um dos melhores planos públicos de imunização do mundo:

– Outros países têm sistemas de imunização bastante completos, mas não são gratuitos. O PNI é excelente, é algo do qual nós, brasileiros, podemos nos orgulhar. Eventualmente há falhas e desabastecimentos, mas se comparados com a imensidão do país e com as dificuldades técnicas, eles não significam quase nada - enfatiza.

Marcos afirma que o PNI alcança o Brasil inteiro, levando as vacinas aos lugares mais inóspitos possíveis, e que devido ao plano o país conseguiu diminuir consideravelmente seus níveis de mortalidade infantil. Aliado ao PNI, o governo promove campanhas de vacinação. Segundo as recomendações do plano nacional, a partir do segundo ano de vida, a criança é vacinada contra rubéola, caxumba e sarampo, além de reforçar as doses de vacinas já aplicadas.

Mas o pesquisador da UFRJ questiona o PNI e sugere que ele seja atualizado. Para ele, há um consenso entre os pediatras de que é necessária a inclusão de outras vacinas no calendário oficial, como a Meningo C, a Pneumo 7, a vacina contra a catapora e hepatite A. Porém ele fez questão de alertar para o preço que essas imunizações podem custar para o governo. “As vacinas que integram o PNI, exceto a do rotavírus, são produzidas pelo Instituto Butantan e pela Fundação Oswaldo Cruz, órgãos do governo. A introdução de novas vacinas no plano implica em um custo muito alto, pois elas terão que ser compradas de uma indústria farmacêutica”, avalia Marcos.

Segundo ele existem outras vacinas que não fazem parte da lista oficial do governo, mas são discutidas entre os especialistas – alguns vêem como necessárias ao PNI, outros não. São elas a vacina contra a gripe aplicada na infância, da qual Marcos discorda, e a imunização intramuscular contra a pólio. Segundo o professor, essa última traz o vírus causador da doença morto, ao contrário da vacina oral Sabin, na qual ele está vivo. “A gotinha é ótima, mas existe nela um risco, pois o vírus vivo pode sofrer mutação e se desenvolver”. Marcos lembrou que casos de poliomielite vacinal são raros, mas existem. “Como a doença foi erradicada do país há quase 15 anos, um único caso passa a ser relevante, ainda mais quando causado por uma vacina”, finaliza o especialista.


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