• Edição 085
  • 14 de junho de 2007

Saúde e Prevenção

Glaucoma: da lesão à cegueira

Cinthia Pascueto

O glaucoma é uma doença silenciosa, que pode causar a perda total da visão se não for tratada a tempo. Não causa dores de cabeça, incômodo ou ardência nos olhos. A pessoa que é acometida por ela, só percebe que é portador quando o seu campo visual já está bem comprometido. Nesses casos, a cegueira pode ser inevitável.

Segundo Sandra da Silva Pereira, oftalmologista especializada em glaucoma do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, esta é uma neuropatia exclusiva do nervo óptico em que há lesões características. A doutora também explica que existem dois tipos de glaucoma: Primário - que se diferencia em crônico (ângulo aberto) e agudo (de fechamento angular) - e Secundário. No primeiro, a doença é determinada geneticamente, manifestando-se principalmente a partir dos 40 anos, porém sem causa externa específica. Já a outra forma pode ser desencadeada por uma inflamação, trauma ou hemorragia ocular que podem ser causadas, por exemplo, devido à diabetes e hipertensão, afetando estruturas oculares importantes no escoamento do humor aquoso – o que pode ocasionar o glaucoma.

Sandra enfatiza ainda que a ocorrência de qualquer um dos fatores de risco já traduz motivos suficientes para procurar um especialista. “Se o paciente tem na família alguém com cegueira, por glaucoma ou não, apresenta quadros de pressão ocular alta, hipertensão ou diabetes, é necessário tomar um cuidado maior, por prevenção. 80% dos casos de glaucoma são primários crônicos, isto é de ângulo aberto: o campo visual vai se estreitando lentamente. Quando a pessoa chega a perceber isso, o campo visual dela já está estreito como se estivesse vendo através de canudinhos. Por isso, se há a ocorrência de um desses fatores de risco, é imprescindível que o paciente visite um oftalmologista regularmente, que poderá diagnosticar se ele tem propensão à doença ou não”, declarou a especialista.

Por outro lado, nem sempre a presença de um desses fatores se traduz no desenvolvimento do glaucoma. Segundo a oftalmologista, a pressão ocular alta é, de fato, um dos fatores de risco, pois, quanto mais alta, maior a chance de desenvolver o glaucoma. “Porém, hoje sabemos que este fator não é um sinal determinante, porque existem pessoas com pressão normal que desenvolvem a doença, enquanto outras que apresentam este fator de risco não a desenvolvem”

O diagnóstico é feito através de exames que verificam se existem lesões no campo visual, provocadas pelo glaucoma no nervo óptico, que é o aumento da escavação. “Para isso, utiliza-se de análises do fundo de olho, do campo visual e da pressão ocular além de exames como Fotoesteroscópia do nervo óptico, paquimetria – que faz a medição da espessura da córnea, que influencia no resultado da pressão ocular – além de tomografias do nervo óptico, que são mais minuciosas”, descreve a médica.

Quanto ao tratamento, Sandra é enfática: qualquer perda visual pelo glaucoma é irrecuperável. O tratamento evita apenas que a lesão evolua, mantendo o nível da visão no estágio em que a pessoa estava quando começou a se tratar. Para isso, a única prevenção à cegueira atualmente é baixar a pressão ocular, tanto se for alta quanto normal, através de colírios ou remédios e cirurgias. A oftalmologista também dá a dica: “Não se automedique, pois existem colírios, principalmente com corticosteróides, que podem desenvolver o glaucoma em pessoas sensíveis”, enfatiza Sandra.

Isso não significa que o paciente deixará de ter problemas. Se o estágio atingido pelo glaucoma ultrapassar certo limite, existe o que a oftalmologista denominou de degeneração secundária. “As células mortas podem liberar toxinas que eliminam as células vivas que restaram. Então mesmo com a pressão ocular controlada a tendência é a pessoa ficar cega. Assim, a melhor prevenção é a visita regular a um oftalmologista e a realização periódica dos exames já mencionados”, finaliza.