Fernando Pedro e Geralda Alves
Longos anos de pesquisa dedicados a compreender a
história de vida de animais da fauna brasileira foram consumidos em
poucos minutos por um incêndio que destruiu parcialmente, na manhã
de quarta-feira, dia 1º de março, as instalações do Laboratório de
Vertebrados do Departamento de Ecologia do Instituto de Biologia da
UFRJ.
Segundo o professor titular Rui Cerqueira, responsável
pelo laboratório, os prejuízos chegariam a ordem de 100 mil dólares,
considerando os investimentos realizados em equipamentos, que foram
danificados, e na perda do material coletado durante o período de
desenvolvimento dos trabalhos científicos, que tiveram sua
continuidade prejudicada. “Felizmente, apenas um dos módulos do
Laboratório foi afetado pelas chamas, que não se alastraram graças a
diligente intervenção do pessoal da Diseg ( Divisão de Segurança da
Prefeitura Universitária)”. A provável causa do incêndio, que ainda
exige conformação pericial, foi o superaquecimento na fiação
elétrica que alimentava um ar condicionado.
O reitor da UFRJ,
Aloísio Teixeira e o Decano do Centro de Ciências da Saúde,
professor João Ferreira, asseguraram irrestrito apoio a retomada das
atividades laboratório, que integra uma rede de pesquisa de renome
internacional, constituindo-se num centro de referência mundial de
estudos de mamíferos da América Latina.
Quarta-feira de
cinzas
Alertada por vigilantes que se encontravam no prédio
sobre o foco de incêndio, por volta das 8h e 10 min da quarta-feira,
integrantes da Diseg acionaram os bombeiros e deram combate inicial
ao sinistro, desligando o quadro de força da área afetada, quebrando
vidros e abrindo portas de saída para a fumaça. Por volta das 8h e
50 min, os bombeiros já estavam no local, fazendo o rescaldo do
incêndio. Na sala atingida, de nº 108, no segundo andar do Bloco A
do CCS, viam-se vários equipamentos chamuscados, um computador e
quase uma centena de pequenos animais mortos nas gaiolas, dentre
roedores e marsupiais, que não resistiram a intoxicação pela fumaça.
Para Daniele Duarte, formada em Zootecnia pela UFRRJ e candidata
ao mestrado de Genética do Instituto de Biologia, as perdas foram
irreparáveis. “Foram dois anos e meio dedicados ao acompanhamento
desses pequenos roedores silvestres, visando compreender seu
comportamento, alimentação, crescimento e hábitos reprodutivos que
sofreram uma brusca interrupção, comprometendo parte significativa
de meus estudos de Bionomia, que trata da história de vida dos
animais”.
Projeto de grande porte financiado pela Secretaria de
Ciência de Tecnologia dos Estado do Rio de Janeiro, visando a
elaboração de um Inventário da Biodiversidade do Estado, também foi
afetado. Explica o professor Marcus Vinícius Vieira, do Departamento
de Ecologia, que foram realizadas quatro excursões para a observação
e coleta de animais silvestres que, entre outras finalidades, são
usados como “testemunhos” ( animais modelo para referências nas
pesquisas). Dos cerca de cento e vinte que estavam no biotério, 96
morreram, comprometendo parte da contribuição do nosso laboratório
ao andamento das pesquisas que envolvem outras instituições, afirmou
o pesquisador.
Linhas de pesquisa
O trabalho
interinstitucional é uma das marcas do Laboratório de Vertebrados da
UFRJ, que colabora com o Instituto do Câncer, Escola Nacional de
Saúde Pública, Instituto Oswaldo Cruz e o Museu Nacional, entre
outras. Pesquisas que investigam a Leishmaniose, a esquistossomose e
o hantaviros têm grande contribuição do Laboratório de Vertebrados.
De acordo com o professor Rui Cerqueira, o estudo de roedores
permitiu também o desenvolvimento inteligentes soluções para a
confecção de cabos ópticos, utilizados pelas telecomunicações,
resistentes ao ataque desses bichos. “Foi um projeto desenvolvido em
parceira com o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em
Telecomunicações, a pedido da Embratel, que gerou um cabo que foi
submetido a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) e cuja
norma se encontra em discussão.
Outras frentes de pesquisa
também se destacam, como a dedicada ao estudo da biodiversidade e a
fragmentação da paisagem, que procura avaliar os efeitos da
segmentação imposta aos locais de vida silvestre, como florestas por
exemplo, pela ação do homem. “Há mais de 9 anos acompanhamos as
populações de animais que vivem no Parque Nacional da Serra dos
Órgãos, configurando-se num trabalho que envolve estudos ecológicos,
de geografia, de taxionomia, entre outros.
Um prédio
diferenciado
O Decano do CCS, professor João Ferreira, alertou
para a necessidade de conscientização de professores e funcionários
sobre as especificidades do prédio de Ciências Biológicas. “ Esta
edificação abriga mais de 300 laboratórios, o que gera um grande
volume de trabalho e o uso intensivo das instalações. Logo, é
fundamental pensarmos futuras ampliações e melhorar as condições dos
laboratórios, tornando-os compatíveis com a excelência da produção
do conhecimento que se faz aqui”.
Publicado em: 3/3/2006