Saúde e Prevenção
25.05.2006
A busca da beleza inigualável
Por Mariana Elia

 
O Brasil ocupa o segundo lugar no ranking de cirurgias plásticas no mundo, segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. A lipoaspiração e a reparação das mamas são as mais procuradas. Novas técnicas, no entanto, são divulgadas freqüentemente por programas de televisão e propagandas publicitárias para corrigir ou transformar o corpo sem dores, cortes ou pós-operatórios prolongados. Os conselhos federal e regional de Medicina e outros órgãos, por conta disso, têm demonstrado preocupação e enviado avisos sobre os cuidados que o paciente deve tomar antes de deitar em uma sala de cirurgia.

O Conselho Federal de Medicina (CFM), por exemplo, em março passado, alertou para o uso do polimetilmetacrilato (PMMA) e do procedimento da bioplastia. Segundo o documento, este material tem autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para uso específico e ainda não há estudos que garantam cientificamente tal prática em longo prazo. A chefe do Serviço de Cirurgia Plástica do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), Talita Franco, explica que o uso do PMMA é permitido apenas aos pacientes de HIV positivo por conta da redução de gordura nas bochechas do rosto. O comunicado da CFM atentava também para o crescente número de não-profissionais que “aventuram-se de maneira irresponsável” nesse tipo de procedimento.

A bioplastia é uma das novas técnicas lançadas no Brasil. Com cerca de dez anos, esse procedimento é tido por muitos médicos como o menos invasivo, descartando a necessidade de cortes ou anestesia geral. O paciente é submetido à micro-cirurgia, através de microcânulas – espécies de agulhas com ponta arredondada -, no consultório e pode voltar para casa no mesmo dia. Utiliza-se o PMMA, mas Talita Franco diz que nada impede que outros materiais ilegais sejam aplicados. “O PMMA pode ser encontrado em farmácias de manipulação para produção de cremes. Assim, mesmo com uso definido, ele é injetado em diversas outras situações”, explica a professora.

Talita diz ainda o quanto é difícil ter noção, e opinião, sobre tratamentos, por causa da velocidade tecnológica. “Vemos sempre um produto novo, que resolve tudo. Repare que surgem vários deles como melhores do mundo. Com essa velocidade, a ciência não tem tempo para verificação. Testar em ratos não garante inocuidade ao humano”. Ela compara o uso do PMMA com o que ocorre com o silicone líquido, que foi proibido pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP). Há uma “extrapolação do uso” sem o conhecimento de seu comportamento no organismo por longo período. Dessa forma, os pacientes atuam como cobaias, já que esse conhecimento é adquirido somente após a operação.

A Sociedade também alerta a falsa divulgação desse tipo de cirurgia. A medida defendida no comunicado é a mesma de muitas entidades: repugnar profissionais que defendam a divulgação de informações mal embasadas, priorizando o aspecto comercial em detrimento da ética profissional. Talita lembra da questão de exibição do paciente em programas de televisão. Ainda que ilegal, é muito comum ocorrer. Mas garante, por outro lado, que é muito difícil conseguir um médico do Rio de Janeiro para fazer tal tipo de reportagem, “pois se fez uma campanha bastante forte pelo Conselho Regional de Medicina”.

O excesso por parte do profissional vai ao encontro do limite do paciente. As novas técnicas e a larga divulgação atuam no imaginário. As pessoas sentem-se capazes de moldar seu corpo até a sua satisfação total. Mas essa totalidade não é alcançada, sempre falta um pouco mais. E, dessa forma, o paciente é submetido a uma série de cirurgias consecutivas. O caso mais extremo é o do cantor Michael Jackson mas, muitos chegam a resultados impressionantes, pelo menos no que diz respeito ao distanciamento da normalidade. Nesses casos, Talita Franco recomenda a intervenção de um clínico. “O paciente deveria se impor limites, quando isso não acontece, essa é uma das funções do médico. Se eu estou convencida de que não é uma boa opção e sei que o paciente não ficará satisfeito, não vale a pena”.

História e características

A cirurgia plástica tem seu marco inicial, como especialidade médica, durante a I Guerra Mundial. Com o controle da dor e da infecção, essa modalidade pôde se desenvolver, minimizando os prejuízos dos feridos, surgindo assim o especialista da reparação física.

A medicina plástica se divide em duas categorias, muitas das vezes sobrepostas: reparadora e estética. O limite entre as duas é considerado tênue, já que a reparação não deixa de ser uma escolha estética e o lado estético é tratado como uma reparação da natureza, na qual se coloca em questão também a aceitação social e o bem estar.

Por ser uma cirurgia eletiva, a plástica deve ser antecedida de preparação intensa. “Diferentes de outros casos, que não podem esperar, na Plástica, é preciso preparar o corpo, que deve estar saudável”, explica a médica. Para tanto, se o paciente for diabético, este dever ser controlado; se fumante, deve interromper o fumo; deve-se estar fora da faixa etária de risco (no caso, muito novo ou muito idoso) e sem qualquer doença intercorrente.

“Esse é o único caso em que o paciente quer ser operado”, comenta Talita, dizendo ainda, que o objetivo de sua profissão é trazer felicidade às pessoas.

 

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