Ciência e Vida
25.05.2006

Entenda a síndrome dos ovários policísticos
Por Mariana Granja

Cerca de 10% das mulheres em idade fértil possuem uma disfunção, chamada de Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP). Produzindo de dez a doze cistos no ovário e causando a ausência de ovulação, essa síndrome pode dificultar a gravidez e provocar doenças em longo prazo, como diabetes e hipertensão arterial, tornando-se necessária sua divulgação à comunidade feminina, para que conheçam e tratem a SOP corretamente.

De acordo com Juraci Ghiaroni, professora do Departamento de Ginecologia e Obstétrica da Faculdade de Medicina da UFRJ e chefe do Serviço de Ginecologia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), os principais sintomas da síndrome consistem em amenorréia (falta de menstruação), obesidade e hirsutismo (aumento de pêlos). Pode haver ainda dores abdominais, pele e cabelos oleosos com surgimento de acne, alterações de humor e hipertensão. “Esses sintomas aparecem porque, se a mulher não está ovulando normalmente, acumula em seu corpo, precursores androgênicos, que fazem posteriormente uma conversão periférica em testosterona (hormônio masculino), propiciando então o aparecimento de alguns desses sintomas”, esclarece amédica.

Mas a presença de cistos não traz a certeza de que têm-se a síndrome. “Algumas mulheres têm ovários que possuem muitos cistos estimulados pela menstruação, já que toda vez que não há uma ovulação regular há a chance de aparecer a micropolicistose, mas isso não significa que ela tenha a SOP. O que ocorre é que quando a mulher faz uma ultra-sonografia e constata que há cistos no ovário, acredita que tem a doença, mas isso é comum, o ovário tem cistos”, explica a ginecologista.

Segundo ela, as causas da síndrome não são explicadas, acontecem simplesmente devido a uma disfunção do corpo. “O ovário nasce assim, com certa dificuldade de ovular, e não necessariamente é algo genético. O Lupus, por exemplo, ocorre em alguns e não em outros. Por quê? Porque há uma disfunção no corpo. É a mesma coisa, há apenas uma irregularidade de ovulação, que não chega a ser uma doença”, compara a professora Juraci.

O diagnóstico da SOP é feito por meios clínicos, principalmente, observando-se seus sintomas, pois “não interessa saber se a pessoa tem a síndrome, mas sim se há algum sintoma que possa atrapalhá-la. Eu trato o que incomoda as pessoas, porque, por exemplo, eu posso induzir a ovulação e acabar com o ‘problema’, mas se a mulher não quer engravidar, não tem porque fazer isso”, fala a professora. De uma forma geral, a pílula anticoncepcional é utilizada no tratamento da SOP, pois além de evitar a gravidez, regulariza a menstruação, diminui a acne e controla o excesso de pêlos. Ela age dessa forma porque atua diminuindo os níveis dos hormônios androgênicos, que convertidos em testosterona, causam essas disfunções. A prática de exercícios físicos também contribui para a melhora dos sintomas, pois equilibra a taxa hormonal e o estado de humor da mulher.

A dificuldade para engravidar presente na vida de muitas mulheres e atribuída muitas vezes à SOP, não é mais um grande problema para Juraci Ghiaroni: “primeiro eu recomendo que a pessoa tente engravidar sem ajuda médica. Se não conseguir, receito então um remédio que induz a ovulação, normalmente que tenha citrato de clomifeno. Mas atualmente há muitos tratamentos e métodos de concepção, o que não torna a síndrome um grande obstáculo”.

Em longo prazo, se a SOP não for tratada podem ocorrer complicações como o câncer de endométrio (tecido que reveste o interior o útero) causado pela menstruação irregular, aumento em até três vezes do risco de aborto, conseqüência de freqüente desequilíbrio hormonal, além de diabetes, devido à maior resistência da insulina no corpo devido à obesidade. Mas associando acompanhamento médico e hábitos saudáveis à utilização dos reguladores hormonais, os sintomas serão resolvidos, e conseqüentemente suas complicações, proporcionando uma vida normal para as mulheres portadoras da SOP.

 

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