Por uma boa causa
13.04.2006

Piercing no nariz e na orelha: agressão com o corpo
por Mariana Granja

A utilização de piercing no nariz é muito antiga, originou-se no oriente médio há cerca de 4000 anos, espalhou-se para a Índia no século XVI e foi rapidamente adotado por castas nobres. Atualmente é utilizado, assim como o inovador piercing na cartilagem da orelha, por jovens que querem se diferenciar e ganhar autonomia, e se tornou um símbolo de liberdade. Só que tal liberdade tem conseqüências. O piercing feito nas áreas de tecido cartilaginoso pode representar um grande risco para a saúde, principalmente se não receber os cuidados adequados.

De acordo com a doutora Tânia Torraca, professora assistente do Serviço de Otorrinolaringologia da UFRJ, “o risco de ocorrer algum problema no nariz e na cartilagem da orelha é muito grande, já que esses tecidos possuem má vascularização, ou seja, não recebem muita quantidade de oxigênio e de sangue, o que deixa as áreas mais indefesas”.

Exatamente por serem pouco vascularizadas, as cicatrizações dessas áreas são prejudicadas e se tornas extremamente demoradas, existindo casos em que não ocorre totalmente. “Com esse quadro, é possível que permaneça uma seqüela”, alerta a professora. Nesse caso, a pessoa sentirá dor e incômodo enquanto o piercing for utilizado, e só haverá melhora com a retirada da jóia.

O risco de infecções nas áreas cartilaginosas é geral, mas a cavidade nasal, por ser um local úmido e em constante contato com a poluição, pode ter maior possibilidade em desenvolvê-las. Ela comporta, segundo a professora, bactérias chamadas de saprófitas, que normalmente convivem bem com os seres humanos, mas que podem produzir uma inflamação se houver algum canal aberto, no caso, o do piercing. “Havendo alguma infecção, chamada de pericondrite, tanto na orelha como no nariz, há riscos de destruição da cartilagem, que é irreparável, e deformações da área afetada, com crescimento de cartilagem anormal, desenvolvimento de quelóide ou até mesmo necrose e retirada do tecido”.

Para prevenir esses problemas com os piercings é recomendável procurar um local confiável para a colocação, com boas condições de assepsia. “A pessoa deve exigir a utilização de material descartável, como seringas e agulhas e não utilizar medicação já aberta. Além disso, é bom
comprar a jóia de material antialérgico, de algum metal nobre, ou aço cirúrgico, para evitar possíveis dermatites. Com todas essas medidas tomadas corretamente, além de evitar infecções mais comuns, torna-se mais fácil evitar a propagação de doenças como a Hepatite C e a Aids”, recomenda.

Quando a infecção já está ocorrendo, a melhor solução é procurar um especialista para retirar o piercing, já que o pus e o sangue presentes na infecção podem formar um abscesso e prejudicar as funções da área afetada. O tratamento com medicamentos também pode se tornar necessário até que a infecção melhore.

- Mas a recomendação dos médicos – finaliza a professora Tânia – é não utilizar piercings, pois representam uma verdadeira agressão ao próprio organismo.


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