Saúde em Foco
06.04.2006

O café e o Câncer
Acusada de grande vilã na década de 70, a bebida tem sido absolvida pela maioria dos estudos

Uma xícara de café pela manhã pode ajudar a iniciar o dia. Tanto pelo estimulante aroma quanto pela cafeína. Há todo um conjunto de rituais e de sabores relacionados ao café que faz parte do dia-a-dia de milhões, talvez bilhões de pessoas ao redor do mundo.

Na década de 70, alertas estrondosos surgiram, oriundos de estudos epidemiológicos iniciais. Segundo se dizia, o café aumentaria a incidência de câncer. Recomendava-se evitar o líquido escuro a todo custo. O temível câncer de pâncreas, um dos tumores malignos mais fatais, teria relação direta com o número de xícaras de café tomadas ao longo da vida.

O temor alastrou-se por quase todas as especialidades médicas. Governos, autoridades de saúde e pesquisadores realizaram estudos bem estruturados para definir, de forma clara, os riscos reais de tomar um cafezinho, os órgãos mais suscetíveis à cancerização, e até os grupos de pessoas sob maior risco. Milhões de dólares, centenas de páginas e dezenas de pesquisas depois dos primeiros alertas, publicaram-se resultados mais consistentes quanto à relação do café com o câncer.

Confirmou-se a fama de vilão? Nem tanto. A maioria dos estudos não conseguiu confirmar o aumento do risco relacionado ao consumo crônico ou ao número de cafezinhos diários. Alguns mostraram o contrário do que se imaginava: pessoas que tomavam mais de três xícaras de café por dia apresentaram menor risco de desenvolver alguns tumores.

Pesquisas avaliando mais de 40 mil pessoas confirmaram o papel protetor do café em relação ao câncer de fígado E a lista não pára por aí. Parece que o cafezinho reduz as chances de adquirir tumores malignos de boca, garganta, esôfago e estômago. Justamente os órgãos pelos quais o líquido passas ao ser ingerido.

Infelizmente, entretanto, o impacto positivo do café não é universal. Vários cientistas alertam para o aparecimento de tumores de pulmão e de próstata em quem toma, regularmente, mais de três ou quatro xícaras por dia. Mas nem todos os estudos são unânimes em confirmar esse risco. Outros tumores, como os de bexiga e mama, parecem independentes do número de xícaras ou copos tomados.

Intrigante, mesmo, é a ação protetora do café. De vilão absoluto nos anos 70, ele se transformou em candidato a bonzinho. Segundo muitos especialistas, a razão dessa “mudança de imagem” seriam os antioxidantes, famosos protetores das células, que parecem existir em grande concentração no café. Outras evidências apontam para a própria cafeína.

Mas nem tudo é um mar de rosas. Algumas substâncias presentes no café podem provocar o aparecimento de tumores malignos. Entre eles, uma toxina contaminante do café, a oclatoxina, produzida por fungos que podem crescer nos grãos malcuidados. Atualmente, as boas práticas de produção e a atenção redobrada, por parte de cafeicultores e indústrias de café, reduziram muito os riscos de a toxina chegar ao nosso cafezinho.

O fato, portanto, é que os cientistas encontram mais fatores protetores do que cancerígenos no café. Qualquer que seja o mecanismo por trás dessa proteção, uma coisa é certa: apesar das suspeitas em relação a alguns tipos de tumor, hoje não há mais evidências que definam o café como causador de câncer. Quem gosta de tomar café pode manter o hábito.

Mas e os cuidados com os nervos e com a insônia? Bem, essa já é outra conversa.


Revista Carta Capital – SP
Especial Saúde
05/04/06


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