Estudo brasileiro
sobre a vacina contra a AIDS enfrenta problemas em recrutar voluntários
Desde 1986, pesquisadores
de todo o mundo tentam descobrir uma vacina contra o vírus da
AIDS. Desde então, já foram testadas cerca de 50 vacinas,
em um processo que demora de 10 a 15 anos. Em 1989, a Universidade Federal
do Rio de Janeiro entrou nesta luta e o Programa de AIDS do Hospital
Universitário (HUCFF) optou por investir na criação
de uma infra-estrutura de suporte para a pesquisa clínica. Através
de um convênio de cooperação técnico-científica
entre a UFRJ e a Petrobrás SA, criou-se o Laboratório
de Pesquisas em AIDS do HUCFF, inaugurado em 1990.
Sob a coordenação de Mauro Schechter, professor Titular
de Doenças Infecciosas e parasitárias da Faculdade de
Medicina da UFRJ, o laboratório faz parte das Redes Nacionais
de Carga Viral, e de Imunofenotipagem e de Genotipagem para o HIV. Participa
também de vários programas nacionais e internacionais
de controle de qualidade, possuindo certificados da Sociedade Brasileira
de Patologia Clínica, da IATA e do HVTN (HIV Vaccine Trials
Network), NIH (Rede de Pesquisa de Vacinas anti-HIV dos Institutos
Nacionais de Saúde dos EUA).
Em 1995, o professor Schechter organizou a criação do
Projeto Praça Onze para estudos de vacinas anti-HIV. Desde então,
sua equipe já participou de quatro pesquisas com vacinas preventivas
anti-HIV/AIDS. No momento, um novo estudo, denominado HVTN 055, envolvendo
diferentes vacinas, encontra-se em fase de recrutamento de voluntários.
No Brasil, além do Projeto Praça Onze, este estudo está
sendo realizado no Centro de Referência e Treinamento em DST/AIDS
(CRT-AIDS), em São Paulo.
De acordo com o pesquisador da UFRJ, assim como todo medicamento, o
processo de produção das vacinas inclui três etapas.
A primeira visa obter dados de segurança e de farmacocinética
em 15 a 30 voluntários saudáveis. Na segunda fase, procura-se
avaliar com mais detalhes e em um número maior de voluntários,
quesitos de segurança, além de obter informações
sobre as respostas imunológicas induzidas pela vacina, que permitam
prever se a mesma pode ou não vir a funcionar. A última
etapa, envolvendo milhares de voluntários, visa estabelecer se
a vacina protege ou não contra a infecção pelo
HIV.
As vacinas testadas apresentam diferenças entre si. A maioria
delas consiste na cópia de uma parte de um gene do HIV-1 inserido
em um vetor, em geral um vírus modificado e atenuado que não
causa doenças em seres humanos. “A utilização
de alguns genes de HIV-1 não traz risco de infecção
pelo HIV”, afirmou Schechter.
O novo estudo, HVTN 055, testará quatro vacinas. Sua primeira
fase foi realizada com sucesso nos Estados Unidos. Agora é a
vez do Brasil e seus 40 voluntários (20 no Projeto Praça
Onze) ajudarem no processo de pesquisa. O problema é que não
há suficientes inscritos recrutados. “De cada 20 pessoas
que comparecem ao departamento de triagem com interesse, só uma
está apta para participar da pesquisa como voluntário.
Por algum motivo, seja critérios clínicos, laboratoriais,
ou de tempo disponível para acompanhar todo o processo, muitas
pessoas não podem colaborar com o estudo”, declara Mauro
Schechter.
Para tentar evitar a paralisação do projeto, o Brasil
conseguiu junto às organizações internacionais,
estender o prazo para o término das inscrições
de 31 de março para 31 de maio. Os candidatos a voluntário
devem ter entre 18 e 50 anos de idade, ser saudáveis e soronegativos
para o HIV.
De acordo com Schechter, outro fato que deve ser mencionado é
que, pior do que não recrutar, é ter um voluntário
que desaparece no meio do processo de pesquisa. Desta forma, nunca se
saberá os resultados do estudo e os investimentos serão
perdidos.
- Se tudo der certo, esta segunda etapa, da qual o Brasil participa,
pode ser concluída em 12 meses. A partir daí, os dados
serão analisados e terá início a fase seguinte.
A comunidade científica internacional espera que o Brasil consiga
recrutar o número necessário de voluntários, pois
a realização desta etapa é de fundamental importância
para o nosso reconhecimento no meio científico mundial - conclui
o pesquisador.