Microscópio
06.04.2006
S.O.S. Vacina contra a AIDS
Por Taísa Gamboa


Estudo brasileiro sobre a vacina contra a AIDS enfrenta problemas em recrutar voluntários

Desde 1986, pesquisadores de todo o mundo tentam descobrir uma vacina contra o vírus da AIDS. Desde então, já foram testadas cerca de 50 vacinas, em um processo que demora de 10 a 15 anos. Em 1989, a Universidade Federal do Rio de Janeiro entrou nesta luta e o Programa de AIDS do Hospital Universitário (HUCFF) optou por investir na criação de uma infra-estrutura de suporte para a pesquisa clínica. Através de um convênio de cooperação técnico-científica entre a UFRJ e a Petrobrás SA, criou-se o Laboratório de Pesquisas em AIDS do HUCFF, inaugurado em 1990.


Sob a coordenação de Mauro Schechter, professor Titular de Doenças Infecciosas e parasitárias da Faculdade de Medicina da UFRJ, o laboratório faz parte das Redes Nacionais de Carga Viral, e de Imunofenotipagem e de Genotipagem para o HIV. Participa também de vários programas nacionais e internacionais de controle de qualidade, possuindo certificados da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica, da IATA e do HVTN (HIV Vaccine Trials Network), NIH (Rede de Pesquisa de Vacinas anti-HIV dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA).

Em 1995, o professor Schechter organizou a criação do Projeto Praça Onze para estudos de vacinas anti-HIV. Desde então, sua equipe já participou de quatro pesquisas com vacinas preventivas anti-HIV/AIDS. No momento, um novo estudo, denominado HVTN 055, envolvendo diferentes vacinas, encontra-se em fase de recrutamento de voluntários. No Brasil, além do Projeto Praça Onze, este estudo está sendo realizado no Centro de Referência e Treinamento em DST/AIDS (CRT-AIDS), em São Paulo.

De acordo com o pesquisador da UFRJ, assim como todo medicamento, o processo de produção das vacinas inclui três etapas. A primeira visa obter dados de segurança e de farmacocinética em 15 a 30 voluntários saudáveis. Na segunda fase, procura-se avaliar com mais detalhes e em um número maior de voluntários, quesitos de segurança, além de obter informações sobre as respostas imunológicas induzidas pela vacina, que permitam prever se a mesma pode ou não vir a funcionar. A última etapa, envolvendo milhares de voluntários, visa estabelecer se a vacina protege ou não contra a infecção pelo HIV.

As vacinas testadas apresentam diferenças entre si. A maioria delas consiste na cópia de uma parte de um gene do HIV-1 inserido em um vetor, em geral um vírus modificado e atenuado que não causa doenças em seres humanos. “A utilização de alguns genes de HIV-1 não traz risco de infecção pelo HIV”, afirmou Schechter.

O novo estudo, HVTN 055, testará quatro vacinas. Sua primeira fase foi realizada com sucesso nos Estados Unidos. Agora é a vez do Brasil e seus 40 voluntários (20 no Projeto Praça Onze) ajudarem no processo de pesquisa. O problema é que não há suficientes inscritos recrutados. “De cada 20 pessoas que comparecem ao departamento de triagem com interesse, só uma está apta para participar da pesquisa como voluntário. Por algum motivo, seja critérios clínicos, laboratoriais, ou de tempo disponível para acompanhar todo o processo, muitas pessoas não podem colaborar com o estudo”, declara Mauro Schechter.

Para tentar evitar a paralisação do projeto, o Brasil conseguiu junto às organizações internacionais, estender o prazo para o término das inscrições de 31 de março para 31 de maio. Os candidatos a voluntário devem ter entre 18 e 50 anos de idade, ser saudáveis e soronegativos para o HIV.

De acordo com Schechter, outro fato que deve ser mencionado é que, pior do que não recrutar, é ter um voluntário que desaparece no meio do processo de pesquisa. Desta forma, nunca se saberá os resultados do estudo e os investimentos serão perdidos.

- Se tudo der certo, esta segunda etapa, da qual o Brasil participa, pode ser concluída em 12 meses. A partir daí, os dados serão analisados e terá início a fase seguinte. A comunidade científica internacional espera que o Brasil consiga recrutar o número necessário de voluntários, pois a realização desta etapa é de fundamental importância para o nosso reconhecimento no meio científico mundial - conclui o pesquisador.

 

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