Argumento
01.12.2005
O sexo do fumante
por Taísa Gamboa
 
De acordo com a OMS, a incidência e prevalência de tabagismo na população mundial é maior entre os homens. Porém, uma mudança na última década começa a ampliar o percentual de mulheres fumantes. No primeiro mundo, por exemplo, principalmente na Espanha e Irlanda, esse percentual já chega a ser maior. Em geral a proporção entre os homens e mulheres que fumam é mais próxima nos países centrais.

Segundo dados do CEBRID, o Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas, nos últimos 20 anos, houve uma queda no número de fumantes no Brasil. Mas um detalhe merece atenção, a iniciação das mulheres no fumo, que em geral ocorre antes dos 20 anos de idade, já é mais incidente que nos homens. A proibição do tabaco na mídia, nas atividades relacionadas à cultura e ao esporte (com exceção da F1) impactou enormemente na redução do tabagismo. Hoje, cerca de 18% dos jovens brasileiros consomem cigarro. Pode parecer um índice alto, mas já foi maior.

O chefe do Núcleo de Tabagismo do Hospital Universitário (HUCFF/UFRJ), Alberto Araújo, afirma que o ingresso da mulher no tabagismo é um fator histórico e cultural. O sexo feminino iniciou o hábito de fumar, na década de 30, quando alcançou o direito ao voto. Nesta época, surgiram as primeiras propagandas que mostravam mulheres fumando, associadas a uma postura de atitude menos passiva, o que as afastou da imagem de meros objetos de desejo.

A guerra também contribuiu decisivamente para a disseminação global do hábito de fumar, e trouxe a figura de mulheres operárias que fumavam para controlar o estresse e demonstrar status. Araújo comentou que, “com a liberalização da mulher e a ampliação de suas responsabilidades perante a sociedade, ela sentiu-se livre para fumar. O que antes era tabu, passou a ser incentivado”.

O cinema, segundo o professor, foi outro impulsionador do ato de fumar entre as mulheres. Casa Blanca selou esta disseminação da cultura feminina do cigarro. A imagem da mulher sensual, glamourosa, decidida e trabalhadora foi extremamente explorada na reconstrução da moral européia.

Nos anos 60, a explosão de movimentos de contestação social impulsionou a indústria do tabaco. Os investimentos voltaram-se massivamente para a mulher, o que ampliou a progressão do número de mulheres fumantes.

O pesquisador afirmou que, tanto homens quanto mulheres buscam no cigarro o prazer, o antídoto para a solidão contemporânea, e a superação do medo e a ascensão social. Mas algumas questões culturais e hormonais fazem da mulher um alvo mais suscetível a alterações emocionais, estresse, insegurança e ansiedade, ou seja, a mulher se deprime mais facilmente, e por isso, busca alívio no cigarro com mais freqüência que os indivíduos do sexo oposto.

Além disso, Araújo comenta que a mulher sente mais dificuldades ao enfrentar perdas afetivas. Quando os filhos passam a não depender mais dos pais e saem de casa, algumas mães sofrem da “Síndrome do Ninho Vazio”. Este é outro fator que facilita a depressão e favorece a busca pelo cigarro como “companheiro das horas incertas”, e substituto afetivo. Outro detalhe importante é que os homens conseguem manter um grupo de afinidades, ao contrário das mulheres, que geralmente exercem solitariamente as suas funções, sem o auxílio dos pares.

As pessoas que fumam buscam compensações compulsivas no cigarro. A sensação de alívio dura menos de uma hora, mas é armazenada na memória do indivíduo. Este reforço positivo da dependência faz com que, segundo o professor, sempre que for necessário enfrentar alguma situação cotidiana estressante, a pessoa procure o cigarro.

O sistema de gratificação cerebral através da droga favorece o progressivo aumento da dependência. Quanto maior o número de cigarros fumados por dia, mais difícil será superar o vício. O diferencial feminino é que, em geral mais persistentes e determinadas, as mulheres conseguem permanecer mais tempo no tratamento. Verbalizam o sentimento e enfrentam melhor os problemas, sem fumar.


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