O
distúrbio do mal
Por
Wang Pei Yi
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No dia 14
de novembro comemora-se o Dia Mundial do Diabetes, a 3ª maior causa
de morte no mundo, superada apenas pelas doenças cárdio-circulatórias
e câncer segundo a Organização Mundial de Saúde.
No Brasil, a doença acomete aproximadamente 7,6% da população
entre 35 e 69 anos de idade de acordo com dados do Ministério
da Saúde. Isso equivale a cerca de 11 milhões de pessoas,
sendo que boa parte dessas ignora sua condição e, portanto
não recebe qualquer tipo de cuidado.
De cada 100 pessoas, pelo menos sete ou oito têm a doença,
que, com o tempo, provoca várias lesões no sistema neurovascular,
afetando olhos, rins, coração e membros do corpo. É
por isso que o diabetes é, no mundo, a primeira causa de problemas
cardiovasculares, a segunda causa de problemas renais, a terceira causa
de cegueira e a segunda causa de amputações de membros.
Por tudo isso é que conhecer a doença e seus meios de
prevenção se tornam tão importante.
A Sociedade Brasileira de Diabetes lança em 2005 a campanha Pé
Diabético e a prevenção das amputações,
cujo tema oficial foi definido pela Internacional Diabetes Federation
que congrega todas as associações de diabetes no mundo.
O slogan adotado no Brasil, “Dê um passo à frente
e previna as amputações” visa melhorar os cuidados
de saúde oferecidos ao portador de diabetes, integrando as ações
adequadas de prevenção, atenção e reabilitação.
Segundo a professora e endocrinologista da UFRJ, Vera Alfon, diabetes
é “uma síndrome, comum a várias doenças,
caracterizada pela sua evolução crônica, com um
componente metabólico anormal conseqüente à deficiência
total ou relativa ( em relação às necessidades)
de insulina, cuja principal expressão é o aumento da glicose
sanguínea, e um componente vascular, caracterizado pelas alterações
patológicas dos pequenos vasos e pelo aumento de risco de desenvolvimento
da ateroclerose”.
O distúrbio causado pela falta absoluta ou relativa de insulina
no organismo, quando este hormônio produzido pelo pâncreas
se torna insuficiente, impede a glicose de ser absorvida pelas células,
o que provoca a elevação dos níveis sanguíneos
de glicose atingindo níveis excessivamente altos e extremamente
prejudiciais à saúde. Essa glicose, que não foi
utilizada e ficou no sangue, é eliminada em parte pela urina,
acarretando uma perda de grande quantidade de água. A poliúria,
perda de água, provoca a sensação de boca seca
e muita sede (polidípsia) - uma das manifestações
clínica do diabetes.
A outra manifestação ocorre quando a deficiência
de ação de insulina se torna severa, com a quebra de gordura
e proteínas armazenadas, levando à sensação
de fraqueza e muita fome (polifagia), além de perda de peso.
A quebra de gorduras pode levar a uma produção excessiva
de ácidos e cetonas, que podendo incorrer em uma situação
clínica bastante grave, chamada de ceto-acidose diabética,
que requer imediata atenção médica. Esse quadro
manifesta-se através de uma mudança no padrão respiratório:
a respiração torna-se rápida e profunda e o hálito
tem um cheiro de acetona.
Um exame simples da medida de glicose sanguínea pode detectar
a doença. Se houver valores iguais ou superiores a 126 mg% em
jejum, pelo menos, em duas ocasiões, o diagnóstico pode
ser feito. Valores acima de 200 mg% em qualquer ocasião também
são diagnósticos. Não há cura, pois se trata,
na maioria das vezes, de doença adquirida por herança
familiar.
A doença se divide em diabetes em tipo I ou insulino-dependente
e tipo II ou insulino-independente. O diabetes tipo I ocorre geralmente
em indivíduos jovens e magros. Conhecida antigamente como diabetes
juvenil, o tipo I, provoca uma destruição das células
b do pâncreas, o que acarreta a insuficiência total da secreção
de insulina.
O diabetes tipo II, por sua vez, é muito mais freqüente,
têm um início insidioso, ocorrendo em pessoas mais idosas
e em geral obesas. Muitas vezes o indivíduo é portador
de diabetes durante anos sem percebê-lo. Esses indivíduos
produzem insulina, podendo ter uma diminuída reserva da mesma
ou, como ocorre em obesos, existe uma resistência à ação
periférica da insulina. E embora não exista cura no diabetes
do tipo 2, a doença pode não estar aparente quando os
fatores desencadeantes (aumento do peso, gestação, algumas
drogas, infecções, trauma, estresse e distúrbios
endócrinos) forem removidos. O controle alimentar, a perda de
peso (nos pacientes com excesso de peso ou obesidade), aumento de atividade
física, e a remoção dos demais fatores desencadeantes,
além do uso, se necessário de drogas orais ou insulina,
controlam a doença, afirmou a professora.
Além dessas duas formas mais comuns de diabetes, existe ainda
a sua forma gestacional e o diabetes associado a outras patologias.
O gestacional surge durante a gestação e freqüentemente
desaparece ao término do período. As mulheres que tiveram
diabetes gestacional têm grande risco de desenvolver diabetes
no futuro. Muitas dessas pacientes conseguem manterem-se compensadas
apenas com dieta e exercícios. No entanto, algumas podem requerer
o uso de insulina.
A prevalência de diabetes vem aumentando progressivamente na população
em geral, mais significativamente nas faixas etárias acima dos
60 anos. Dentre as possíveis causas desse aumento pode-se citar
o aumento da urbanização e industrialização,
sedentarismo, incidência de obesidade, aumento da expectativa
de vida e maior sobrevida da própria população
de diabéticos.
Os sintomas do aumento da glicemia são: sede excessiva, aumento
do volume da urina, e de micções, fraqueza, tonturas,visão
borrada, aumento de apetite,perda de peso. Estes sintomas tendem a se
agravar progressivamente e podem levar a complicações
severas que são a cetoacidose diabética (no DM tipo I)
e o coma hiperosmolar (no DM tipo II). Os sintomas das complicações
envolvem queixas visuais, cardíacas, circulatórias, digestivas,
renais, urinárias, neurológicas, dermatológicas
e ortopédicas, entre outras.
No Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), existem
várias linhas de pesquisa em diabetes, desde seus aspectos clínicos
e evolutivos, até sobre suas complicações. Segundo
a Alfon, estudam-se fatores de risco para complicações
cardiovasculares em populações específicas, efeitos
de drogas sobre o controle e as complicações e também
a disfunção vascular que existe na doença. Além
dos modelos experimentais e a evolução clínica
da obesidade, que é o principal fator associado ao diabetes.
O laboratório de Nutrologia será inaugurado no próximo
dia 5 de dezembro e ampliará as pesquisas clínicas e experimentais
sobre o diabetes e a obesidade em nosso meio, disse a professora.