Saúde e Prevenção
17.11.2005

O distúrbio do mal
Por Wang Pei Yi

No dia 14 de novembro comemora-se o Dia Mundial do Diabetes, a 3ª maior causa de morte no mundo, superada apenas pelas doenças cárdio-circulatórias e câncer segundo a Organização Mundial de Saúde. No Brasil, a doença acomete aproximadamente 7,6% da população entre 35 e 69 anos de idade de acordo com dados do Ministério da Saúde. Isso equivale a cerca de 11 milhões de pessoas, sendo que boa parte dessas ignora sua condição e, portanto não recebe qualquer tipo de cuidado.

De cada 100 pessoas, pelo menos sete ou oito têm a doença, que, com o tempo, provoca várias lesões no sistema neurovascular, afetando olhos, rins, coração e membros do corpo. É por isso que o diabetes é, no mundo, a primeira causa de problemas cardiovasculares, a segunda causa de problemas renais, a terceira causa de cegueira e a segunda causa de amputações de membros. Por tudo isso é que conhecer a doença e seus meios de prevenção se tornam tão importante.

A Sociedade Brasileira de Diabetes lança em 2005 a campanha Pé Diabético e a prevenção das amputações, cujo tema oficial foi definido pela Internacional Diabetes Federation que congrega todas as associações de diabetes no mundo. O slogan adotado no Brasil, “Dê um passo à frente e previna as amputações” visa melhorar os cuidados de saúde oferecidos ao portador de diabetes, integrando as ações adequadas de prevenção, atenção e reabilitação.

Segundo a professora e endocrinologista da UFRJ, Vera Alfon, diabetes é “uma síndrome, comum a várias doenças, caracterizada pela sua evolução crônica, com um componente metabólico anormal conseqüente à deficiência total ou relativa ( em relação às necessidades) de insulina, cuja principal expressão é o aumento da glicose sanguínea, e um componente vascular, caracterizado pelas alterações patológicas dos pequenos vasos e pelo aumento de risco de desenvolvimento da ateroclerose”.

O distúrbio causado pela falta absoluta ou relativa de insulina no organismo, quando este hormônio produzido pelo pâncreas se torna insuficiente, impede a glicose de ser absorvida pelas células, o que provoca a elevação dos níveis sanguíneos de glicose atingindo níveis excessivamente altos e extremamente prejudiciais à saúde. Essa glicose, que não foi utilizada e ficou no sangue, é eliminada em parte pela urina, acarretando uma perda de grande quantidade de água. A poliúria, perda de água, provoca a sensação de boca seca e muita sede (polidípsia) - uma das manifestações clínica do diabetes.

A outra manifestação ocorre quando a deficiência de ação de insulina se torna severa, com a quebra de gordura e proteínas armazenadas, levando à sensação de fraqueza e muita fome (polifagia), além de perda de peso. A quebra de gorduras pode levar a uma produção excessiva de ácidos e cetonas, que podendo incorrer em uma situação clínica bastante grave, chamada de ceto-acidose diabética, que requer imediata atenção médica. Esse quadro manifesta-se através de uma mudança no padrão respiratório: a respiração torna-se rápida e profunda e o hálito tem um cheiro de acetona.


Um exame simples da medida de glicose sanguínea pode detectar a doença. Se houver valores iguais ou superiores a 126 mg% em jejum, pelo menos, em duas ocasiões, o diagnóstico pode ser feito. Valores acima de 200 mg% em qualquer ocasião também são diagnósticos. Não há cura, pois se trata, na maioria das vezes, de doença adquirida por herança familiar.

A doença se divide em diabetes em tipo I ou insulino-dependente e tipo II ou insulino-independente. O diabetes tipo I ocorre geralmente em indivíduos jovens e magros. Conhecida antigamente como diabetes juvenil, o tipo I, provoca uma destruição das células b do pâncreas, o que acarreta a insuficiência total da secreção de insulina.

O diabetes tipo II, por sua vez, é muito mais freqüente, têm um início insidioso, ocorrendo em pessoas mais idosas e em geral obesas. Muitas vezes o indivíduo é portador de diabetes durante anos sem percebê-lo. Esses indivíduos produzem insulina, podendo ter uma diminuída reserva da mesma ou, como ocorre em obesos, existe uma resistência à ação periférica da insulina. E embora não exista cura no diabetes do tipo 2, a doença pode não estar aparente quando os fatores desencadeantes (aumento do peso, gestação, algumas drogas, infecções, trauma, estresse e distúrbios endócrinos) forem removidos. O controle alimentar, a perda de peso (nos pacientes com excesso de peso ou obesidade), aumento de atividade física, e a remoção dos demais fatores desencadeantes, além do uso, se necessário de drogas orais ou insulina, controlam a doença, afirmou a professora.

Além dessas duas formas mais comuns de diabetes, existe ainda a sua forma gestacional e o diabetes associado a outras patologias. O gestacional surge durante a gestação e freqüentemente desaparece ao término do período. As mulheres que tiveram diabetes gestacional têm grande risco de desenvolver diabetes no futuro. Muitas dessas pacientes conseguem manterem-se compensadas apenas com dieta e exercícios. No entanto, algumas podem requerer o uso de insulina.

A prevalência de diabetes vem aumentando progressivamente na população em geral, mais significativamente nas faixas etárias acima dos 60 anos. Dentre as possíveis causas desse aumento pode-se citar o aumento da urbanização e industrialização, sedentarismo, incidência de obesidade, aumento da expectativa de vida e maior sobrevida da própria população de diabéticos.

Os sintomas do aumento da glicemia são: sede excessiva, aumento do volume da urina, e de micções, fraqueza, tonturas,visão borrada, aumento de apetite,perda de peso. Estes sintomas tendem a se agravar progressivamente e podem levar a complicações severas que são a cetoacidose diabética (no DM tipo I) e o coma hiperosmolar (no DM tipo II). Os sintomas das complicações envolvem queixas visuais, cardíacas, circulatórias, digestivas, renais, urinárias, neurológicas, dermatológicas e ortopédicas, entre outras.

No Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), existem várias linhas de pesquisa em diabetes, desde seus aspectos clínicos e evolutivos, até sobre suas complicações. Segundo a Alfon, estudam-se fatores de risco para complicações cardiovasculares em populações específicas, efeitos de drogas sobre o controle e as complicações e também a disfunção vascular que existe na doença. Além dos modelos experimentais e a evolução clínica da obesidade, que é o principal fator associado ao diabetes. O laboratório de Nutrologia será inaugurado no próximo dia 5 de dezembro e ampliará as pesquisas clínicas e experimentais sobre o diabetes e a obesidade em nosso meio, disse a professora.

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