Saúde e Prevenção
03.11.2005
A saúde começa pela boca
Por Taisa Gamboa

Todos os pais se preocupam com a saúde de seus filhos. As visitas ao médico são freqüentes e os remédios ingeridos aos montes. Atividades físicas e alimentação adequada também são encaradas como parte de uma vida saudável.
Entretanto, poucos são os que se lembram da saúde bucal de seus filhos. Na maioria das vezes, a criança vai ao dentista depois de já estar com algum problema e raramente os pais sabem como deve ser feita uma higiene bucal adequada.
Nesta semana, vamos abordar a importância de uma dentição saudável para o perfeito desenvolvimento da criança. Para falar sobre esse assunto, contamos com a colaboração da doutora Maria Bárbara C. T. Guimarães, coordenadora do Departamento de Ortodontia e Odontopediatria e da Clínica de bebês da Faculdade de Odontologia da UFRJ.


*Cuidados com a gestante
Os cuidados com a saúde bucal devem começar o mais cedo possível. O ideal seria que quando a mulher engravidasse estivesse com seus dentes tratados, livre de cáries e problemas nas gengivas.

O tratamento dentário deve ser evitado nos três primeiros, e três últimos meses de gestação, embora numa emergência, desde que liberado pelo obstetra, o tratamento possa ser realizado. Por outro lado, gestantes que consomem muito açúcar durante a gravidez, estimulam, ainda na barriga, as papilas gustativas de seus bebês que estão em formação a terem um paladar com preferência pelo açúcar.

Quanto a gestante, em si, existem algumas lesões gengivais comuns nessa fase devido a alterações hormonais, se a higiene bucal não for corretamente realizada. Além disso, o enjôo comum no 1º trimestre da gravidez, contribui para um descuido na higiene bucal que somado a acidez do conteúdo estomacal, é mais um fator a favor da instalação de cáries e erosões dentárias na gestante.

*A higiene bucal do bebê
Como ocorre a cárie - A cárie é uma lesão infecciosa causada pela integração entre bactérias e carboidratos fermentáveis, como restos de alimentos, associada a uma higiene deficiente. Essa infecção destrói a camada de esmalte protetora do dente. Se não for tratada a tempo, pode evoluir para a polpa (nervo) e até levar à perda do dente.

Nos bebês, essas bactérias podem ser adquiridas através de beijinhos na boca, os chamados selinhos; ou por soprar o alimento para esfriá-lo; ou ainda, quando o adulto prova a comida com o mesmo talher que a criança usará.

Como limpar os dentes - Assim que os dentinhos do bebê nascerem, devem ser limpos com gaze ou a ponta da fralda (limpas), umedecidas com água filtrada e/ou fervida. É importante observar que nesta fase não se usa pasta de dentes, pois o bebê engole, uma vez que não sabe cuspir. Essa higiene deve ser realizada pelo menos uma vez ao dia, podendo ser incorporada ao horário do banho diário. Caso a criança mame durante a madrugada, essa limpeza também deve ser realizada após a mamada. Não se deve deixar que a criança durma com resíduo alimentar na boca.

Escova e pasta de dente - Só depois que os dentinhos de traz (molares) nascerem é que introduzimos o uso da escova de dente. O dentifrício (pasta de dentes) sem flúor será colocado na escova de dente numa quantidade, no máximo, do tamanho de uma ervilha.

Nesta fase o bebê ainda engole a pasta. O flúor contido nos dentifrícios comuns pode ser tóxico para esta criança que pode ter, no futuro, uma patologia chamada fluorose ou levar até mesmo à morte por intoxicação. Muita atenção na escolha da pasta de dente. Os dentifrícios reconhecidos no mercado como sendo de uso infantil, que tiverem flúor na sua composição, não são indicados para uso em bebês.

Mamadeira - Caso haja necessidade de utilizar aleitamento artificial, este deve ser realizado com o auxílio de copinho em vez de mamadeira, para que;

1) Não ocorra o que chamamos de confusão de bico. O que faz com que o bebê não aceite mais o seio da mãe que muitas vezes utiliza a mamadeira como complementação alimentar.

2) Alimentando-se no copinho, o bebê não vai mamar dormindo, e, por estar acordado será mais fácil limpar sua boquinha. Dificilmente a mãe vai acordar o bebê logo após ele ter dormido para limpar sua boquinha.

3) Evitamos deformações na arcada dentária pelo uso inadequado do bico da mamadeira.

Se o bebê só adormece com a mamadeira, dilua, progressivamente, o leite ou substitua por chá ou água (sem açúcar, ou similares), para evitar cáries. Assim que possível substitua a mamadeira pelo canudinho e este pelo copo para prevenir deformação no arco dentário devido à sucção prolongada. Se alguma alteração for detectada esse hábito deve ser eliminado o mais rápido possível. Não é raro precisarmos da ajuda de um psicólogo para ajudar essa criança a largar o hábito e de um aparelho de ortodontia.

O furo do bico da mamadeira é para ser do tamanho em que é vendido. Se for necessário fazer um rombo para sair o conteúdo, é por que dá pra ser oferecido na colher.
É necessário que a criança mame nos dois seios para que a musculatura da face do bebê se desenvolva igualmente dos dois lados. Mesmo ao dar a mamadeira, seria interessante levar essa criança ao colo numa posição similar a que ela estaria se estivesse mamando ao seio.

Dedo e chupeta - Existem crianças que mesmo antes de nascer, já chupam o dedinho, o que é evidenciado em algumas ultra-sonografias. Entre o hábito de chupar o dedo ou chupetas, é preferível utilizar a chupeta porque o dedo está disponível 24h por dia. Deve-se, aos poucos, ir desestimulando esse hábito, mas, sem traumas. Isso deve ser feito no máximo até a troca dos dentinhos anteriores. Dependendo da intensidade, da freqüência do hábito, do tipo da chupeta, e de sua forma e tamanho, podem ocorrer deformações no arco dentário.

Dentes de Leite - Dentes de leite também têm raízes, e os dentes permanentes começam a se formar bem pertinho delas. Qualquer infecção, como a provocada por cáries extensas nos dentes de leite, pode prejudicar o dente permanente que ainda não nasceu.

As bactérias causadoras das cáries presente nos dentes de leite, somadas à falta de uma limpeza correta, e alto consumo de carboidratos e alimentos doces, fazem com que os dentes permanentes nasçam num ambiente muito mais favorável a produzir cáries neles também.

Por volta dos seis anos de idade, ou até antes disso, nascem os primeiros molares permanentes. Eles se desenvolvem atrás dos dentes de leite, sem que nenhum deles precise cair. São bem grandes, amarelados, e muito parecidos com o segundo molar de leite (último dentinho) e ficarão por todo a vida.

Por volta dos 14 anos a dentição está quase completa, faltando apenas os terceiros molares. Se o indivíduo chegar aos 18 anos com um mínimo de cáries e sem doenças da gengiva, terá maiores possibilidades de permanecer assim por toda a vida, desde que seja feita sempre a manutenção.

Traumatismo dentário - Mesmo após choque aparentemente leve, deve-se levar a criança ao dentista para, no mínimo, radiografar o dente, seja de leite ou permanente, para futuro acompanhamento. No caso de ocorrer uma fratura da coroa dentária, deve-se procurar a porção fraturada, guardá-la no soro ou, preferencialmente no leite, para futuro reaproveitamento desta porção na restauração deste dente.

Eventualmente o dente pode sair inteiro do alvéolo (osso). Neste caso, deve-se procurar o dente e guardá-lo, sem lavar, num pote com tampa (de preferência esterilizado). O dente deve ficar totalmente imerso em leite, preferencialmente o de caixa.

O ideal é que o dentista atenda essa criança em até 20 minutos após o acidente para uma tentativa de reimplante. Depois de 24 horas, as chances de sucesso são quase nulas. Ainda que só se reimplante dente permanente, o de leite pode ser usado como modelo para a colocação de uma placa ou arco substituindo o dente perdido, ou até mesmo usá-lo neste aparelho.
Um traumatismo pode levar o dente a um “afrouxamento” e/ou a um deslocamento no alvéolo, assim como uma fratura pode expor a polpa (popularmente chamada de nervo do dente), ou pode parecer que não houve nada e ter ocorrido uma fratura radicular. Em qualquer situação a criança deve ser levada imediatamente ao dentista para que ele, com um exame clínico e radiográfico adequado possa traçar o melhor tratamento para o caso.


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