Ciência e Vida
25.08.2005
A Epidemia Silenciosa
por Beatriz Padrão


A proximidade do Dia Nacional de Combate ao Fumo, 29 de agosto, é uma ótima deixa para relembrar o quanto o cigarro é prejudicial. Para o diretor do Núcleo de Estudo e Tratamento do Tabagismo (NETT), Alberto José de Araújo, o fumo é uma epidemia silenciosa que aborta vidas, reduz a qualidade e a intensidade do viver e consome um montante extraordinário de recursos para cuidar das conseqüências que atingem as suas vítimas: os fumantes e suas famílias.

O tabagismo pode causar câncer; doenças coronarianas e vasculares; impotência sexual; aneurismas arteriais; úlcera do aparelho digestivo e trombose vascular. Em geral, os fumantes sentem muito mais fadiga após o esforço e os seus desempenhos em atividades físicas são menores do que os de não-fumantes.

Segundo Clemax Sant'Anna, professor de pneumologia pediátrica da UFRJ, os bebês correm um risco cinco vezes maior de morrerem subitamente sem uma causa aparente (Síndrome da Morte Súbita Infantil) e maior probabilidade de doenças pulmonares até um ano de idade. Já as crianças de até cinco anos, podem ter com mais freqüência resfriados, sinusites, otites, amidalites, piora da asma (bronquite) e até pneumonia.

Alberto Araújo explicou que o tabagismo passivo significa a inalação da fumaça de tabaco (seja pelo cigarro, charuto, cigarrilhas ou cachimbo) por pessoas não-fumantes. A fumaça dos derivados do tabaco em ambientes fechados é denominada poluição tabagística ambiental (PTA). Para exemplificar, o professor declara que ao fim de um dia, em um ambiente poluído, os não fumantes podem ter respirado o equivalente a dez cigarros e que também sofrem os efeitos imediatos, tais como, irritação nos olhos, manifestações nasais, tosse, dor de cabeça e problemas alérgicos.

"É aí que reside o perigo. Se desde criança já se vive em um ambiente em que os pais fumam e depois na vida adulta se freqüenta ambientes poluídos pela fumaça do tabaco, o risco de contrair um câncer de pulmão chega a ter uma probabilidade de 30% maior do que nas pessoas que não foram submetidas a esses ambientes", acrescentou Alberto.

Atualmente, para o tratamento do tabagismo se recomenda dois tipos de terapias: a abordagem intensiva cognitivo-comportamental e o uso de medicamentos para enfrentar os efeitos da síndrome de abstinência, ou seja, da falta da nicotina com a suspensão do cigarro. Geralmente, a associação dos dois métodos aumenta a taxa de sucesso terapêutico.

De acordo com Alberto, o pulmão não se recupera completamente. Entretanto, os benefícios com a cessação do fumo se fazem sentir nas primeiras horas. O aumento da disposição, redução ou mesmo a eliminação do cansaço ao subir um lance de escadas ou uma pequena ladeira são notáveis. A freqüência respiratória vai retornando aos níveis normais nos primeiros dias. Ainda que uma pessoa já tenha desenvolvido algum quadro respiratório, por exemplo, enfisema pulmonar, ela poderá impedir a progressão para estágios mais avançados.

Alberto e Clemax concordam que melhor do que as terapias são as medidas de prevenção. Além da veiculação de imagens alusivas aos efeitos danosos do tabaco, cuja publicação nos versos do cigarro é obrigatória, podem ser realizadas campanhas permanentes sobre Qualidade de Vida e Vida e proibição de pontos de vendas de cigarros em um raio de 500m nos arredores de escolas.

"Este objetivo deve ser perseguido não apenas porque está no texto da lei - isto por si só, já seria suficiente pois é LEGAL - mas porque representa um mútuo compromisso com a qualidade do ar que se respira na sociedade, com o respeito a uma norma legal que garante a todos o direito de manter o ambiente livre do tabaco, prevenindo o tabagismo passivo e ajudando a quem quer deixar de fumar que procure ajuda. A experiência demonstrada em inúmeros países, empresas e comunidades que quando existe a restrição ao consumo, isto impacta na redução do número de fumantes", concluiu Alberto Araújo.




































Pulmão saudável



Pulmão com enfisema e câncer


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