Vandré Vidal
é musicoterapeuta, educador musical e especialista em assistência
ao psicótico pelo IPUB/UFRJ e, através de ritmos e do fascínio
que as notas musicais exercem sobre as pessoas, desenvolve um trabalho
pioneiro com os pacientes. A idéia de fundar um grupo musical com
outros funcionários e internos nasceu em 1995, quando era estagiário
no Centro de Atenção Diária do IPUB. À época,
chegavam às suas mãos diversas composições
de pacientes, que retratavam situações vivenciadas em momentos
de solidão, desamparo, saudade e violência. Dois pontos o
incitavam neste projeto: o primeiro dizia respeito ao que as canções
significavam para eles e o segundo era de como essa criação
musical poderia ser utilizada terapeuticamente. Iniciou, então,
um minucioso e gradativo trabalho de coleta e arquivamento desse material,
para que não se perdesse pelo tempo. Daí até a organização
do primeiro livro de partituras - "Songbook - Cancioneiros do IPUB"
-, decorreram dois anos. O grupo-base, de seis pessoas, modificou-se com
o passar do tempo e a ele engajaram-se outros, entre pacientes e funcionários
do Instituto. Com a ajuda decisiva da direção do IPUB, capitaneada
pelo, então, diretor e atual decano do CCS, João Ferreira
da Silva Filho, que também teve uma composição gravada
pelos Cancioneiros. A partir daí, a profissionalização
consumou-se refletida na gravação de um CD e na produção
do songbook. O grupo apresentou-se em diversos eventos no Rio de Janeiro
e no MASP, em São Paulo e participou da Campanha "Cuidar sim,
excluir, não", em 2001, ano da Saúde Mental. Na próxima
quinta-feira, dia 25, participando da "Semana da Psicologia",
os Cancioneiros do IPUB irão se apresentar no campus da UFRJ, na
Praia Vermelha. Por ser um projeto pioneiro, houve reavaliação
e discussão dos objetivos e métodos de trabalho, exigindo
uma atuação maior da equipe, com o aumento de interesse
demonstrado pelos membros do grupo, estabelencendo-se uma dinâmica
de comunicação favorável à elaboração
musical e sua posterior interpretação e contextualização,
espelhada na trajetória e conflitos vivenciados no grupo. "De
alguma forma, em algum momento da vida dessas pessoas, a música
tornou-se um elemento estruturante, algo que conseguiu proporcionar um
alívio e uma diminuição da tensão na difícil
hora da crise", diz Vandré.
Segundo o Dr.Márcio Amaral, vice-diretor do IPUB, a música,
abstrata, é produzida a partir do nada, ou quase nada, respeitando
uma seqüência ou simultaneidade de sons decorrentes de vibrações.
Não são outras as razões, aliás, para que
exerça tanto poder sobre os pacientes psiquiátricos, que
tendem a sofrer de uma dificuldade enorme de comunicação
verbal. Há que se registrar, também, a ação
educativa e disciplinadora que exerce sobre aqueles que a pratica. É
por isso que este projeto vai de encontro às mais avançadas
propostas de assistência na área de reabilitação
psicossocial.
"O Cancioneiros do IPUB é uma pequena amostra das possibilidades
terapêuticas da criação musical, que é estruturante
e transformadora", conclui Vandré Vidal.
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