História Viva
18.08.2005
Música é terapia: Cancioneiros do IPUB
por João Paulo Nogueira


Vandré Vidal é musicoterapeuta, educador musical e especialista em assistência ao psicótico pelo IPUB/UFRJ e, através de ritmos e do fascínio que as notas musicais exercem sobre as pessoas, desenvolve um trabalho pioneiro com os pacientes. A idéia de fundar um grupo musical com outros funcionários e internos nasceu em 1995, quando era estagiário no Centro de Atenção Diária do IPUB. À época, chegavam às suas mãos diversas composições de pacientes, que retratavam situações vivenciadas em momentos de solidão, desamparo, saudade e violência. Dois pontos o incitavam neste projeto: o primeiro dizia respeito ao que as canções significavam para eles e o segundo era de como essa criação musical poderia ser utilizada terapeuticamente. Iniciou, então, um minucioso e gradativo trabalho de coleta e arquivamento desse material, para que não se perdesse pelo tempo. Daí até a organização do primeiro livro de partituras - "Songbook - Cancioneiros do IPUB" -, decorreram dois anos. O grupo-base, de seis pessoas, modificou-se com o passar do tempo e a ele engajaram-se outros, entre pacientes e funcionários do Instituto. Com a ajuda decisiva da direção do IPUB, capitaneada pelo, então, diretor e atual decano do CCS, João Ferreira da Silva Filho, que também teve uma composição gravada pelos Cancioneiros. A partir daí, a profissionalização consumou-se refletida na gravação de um CD e na produção do songbook. O grupo apresentou-se em diversos eventos no Rio de Janeiro e no MASP, em São Paulo e participou da Campanha "Cuidar sim, excluir, não", em 2001, ano da Saúde Mental. Na próxima quinta-feira, dia 25, participando da "Semana da Psicologia", os Cancioneiros do IPUB irão se apresentar no campus da UFRJ, na Praia Vermelha. Por ser um projeto pioneiro, houve reavaliação e discussão dos objetivos e métodos de trabalho, exigindo uma atuação maior da equipe, com o aumento de interesse demonstrado pelos membros do grupo, estabelencendo-se uma dinâmica de comunicação favorável à elaboração musical e sua posterior interpretação e contextualização, espelhada na trajetória e conflitos vivenciados no grupo. "De alguma forma, em algum momento da vida dessas pessoas, a música tornou-se um elemento estruturante, algo que conseguiu proporcionar um alívio e uma diminuição da tensão na difícil hora da crise", diz Vandré.

Segundo o Dr.Márcio Amaral, vice-diretor do IPUB, a música, abstrata, é produzida a partir do nada, ou quase nada, respeitando uma seqüência ou simultaneidade de sons decorrentes de vibrações. Não são outras as razões, aliás, para que exerça tanto poder sobre os pacientes psiquiátricos, que tendem a sofrer de uma dificuldade enorme de comunicação verbal. Há que se registrar, também, a ação educativa e disciplinadora que exerce sobre aqueles que a pratica. É por isso que este projeto vai de encontro às mais avançadas propostas de assistência na área de reabilitação psicossocial.

"O Cancioneiros do IPUB é uma pequena amostra das possibilidades terapêuticas da criação musical, que é estruturante e transformadora", conclui Vandré Vidal.